Capítulo 4

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Os dois dias seguintes foram parecidos, até que o médico responsável por meu caso, Dr. Reginaldo, disse que me daria alta porque o inchaço sumiu completamente e minha saúde se manteve estável. Quanto à memória infelizmente só restava ter paciência.

Apreensão esmagava meu coração. Eu teria que ir pra uma casa que me era estranha e rodeada de mais estranhos. E se eles também não gostassem de mim?

Não adiantava ficar choramingando, nem com pena de mim mesma, isso não ia ajudar em nada nem mudar minha situação.

Determinação queimou em meu interior. Se essas pessoas não gostavam de mim, azar deles. Vou manter-me distante de todos o máximo que puder e vou esforçar-me para ficar bem fisicamente o mais rápido possível e deixar tudo isso pra trás.

À noite, Lucas veio me buscar. Quase não nos falamos, somente o básico. Mesmo com a tensão vibrando entre nós, consegui aproveitar meu primeiro vislumbre da noite. Até que enfim ia ver o mundo real, o qual me foi arrebatado.

Era noite de lua cheia, havia muitas estrelas no céu. Um belo espetáculo, ainda mais pra quem só via paredes brancas por quatro longos dias. Uma brisa fresca soprou por minha pele, me fazendo sentir realmente viva, fechei os olhos para aproveitar a sensação.

Quando os abri, Lucas estava me olhando fixamente, com uma cara séria, não como antes, do tipo bravo ou estressado, porém não consegui identificar o que significava. Resolvi nem tentar, não queria piorar as coisas.

Balançou a cabeça, como que pra desvanecer o que quer que pensasse e me levou até seu carro. Era uma caminhonete grande, com caçamba, e apesar de estar em bom estado, não tão nova e não tão velha, estava coberta com uma poeira vermelha que destacava bem na cor prateada.

Logo me lembrei que dona Laura, minha sogra, comentou sobre terem uma fazenda. Será que todos moravam lá? Afinal ela só me disse que eles cuidavam de uma fazenda, era bem provável que morassem lá também, só não sabia se eu morava lá, bom isso eu ia descobrir em breve.

Durante o trajeto fui observando a cidade. Era pequena e tranquila. Algumas lojas comerciais próximas ao hospital, as casas bem conservadas, muitas árvores nas calçadas. Poucos carros nas ruas, algumas pessoas vagando por aqui e ali. Talvez durante o dia fosse mais movimentado.

Ia descobrindo as coisas, uma a uma, porém de alguma forma elas não eram tão desconhecidas. Provavelmente minha mente não estava tão danificada, isso podia ser um bom sinal. Quem sabe logo teria minhas memórias de volta.

Não demorou muito tempo, logo estávamos numa estrada mais afastada do centro da cidade, muita vegetação nos rodeava. Minha suposição de morar em uma fazenda era correta afinal.

Ele entrou em um desvio da estrada, logo havia um grande portão no centro de uma grande cerca. Uma placa dizia ESTÂNCIA MONTERREI. O portão era simples, porém automatizado, com um tipo de interfone, bem prático. Lucas acionou um botão em um controle remoto que tirou do console do carro e o portão se abriu.

Seguimos por um curto caminho, passando por muitos cercados, alguns estábulos e outras construções de madeira do tipo cabanas e galpões, no geral um grande complexo que indicava criação de animais.

Do carro eu só conseguia ver as silhuetas de cavalos. Adoraria poder vê-los de pertinho, pareciam criaturas magníficas.

Ainda tentando admirar os animais, quase não percebo que paramos em frente a uma bela construção.

Com dois andares, muito extensa, feita de pedra e madeira, uma varanda que a rodeava por toda a frente e laterais. Feita de cores terrosas nas paredes, as portas e janelas brancas destacavam e faziam um belo complemento.

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