Capítulo 14

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Nos dias seguintes passei em máxima expectativa, aguardando o contato do investigador. Os pesadelos eram freqüentes, eu não passava uma noite sequer sem tê-los.

Três dias de espera e recebi um email de resposta. Era uma cópia da minha própria certidão, com todos os dados exatamente iguais. Ele disse que todos os dados eram reais, nomes, cidade e o registro em cartório.

Pesquisou sobre a vida (que ele ainda não sabia ser minha).

Toda a história que Sara me contou era verdade: eu morava em outra cidade com meus pais, onde vivi e cresci durante toda a infância, adolescência e início da vida adulta. Meu pai morreu, algum tempo depois a minha mãe também e eu saí da cidade. Não tinha nenhum outro parente vivo. Não tinha registro policial (eu pedi para que ele investigasse isso também).

Satisfeita, porém um pouco decepcionada porque não resolvi meu mistério, agradeci-lhe e desliguei.

E agora?

Se minha vida como Isadora era real, sem crimes ou falsidade ideológica, por que sonhava com uma vida onde cresci num orfanato e tinha outra identidade? Só pesadelos? Mas então por que pareciam tão reais? E eu não tinha informações suficientes para buscar sobre essa suposta outra vida.

Minha mente correu a mil. Será que era outra vida que eu vivi? Antes dessa? Já tinha visto algo sobre isso quando fazia minhas pesquisas no computador, mas achei tão improvável que nem prestei atenção. E se fosse verdade e eu sonhava com uma vida anterior a essa? E por que diabos eu não lembrava dessa vida que vivia agora, antes do acidente?

Sem mais nenhuma idéia em mente, voltei ao computador e fui pesquisar sobre o assunto. Havia muita porcaria, coisas sem cabimento e qualquer um via que eram só lorotas. Só que não desisti.

Procurei um bom tempo e finalmente achei um site razoável. Havia informações sobre alguns estudos científicos e algumas teorias da possibilidade de que a reencarnação era real.

Eu estava um pouco cética a esse respeito, mas não descartei totalmente a possibilidade. Afinal isso se encaixava com os meus pesadelos e eu não queria acreditar que meu cérebro se danificou a tal ponto de me deixar insana.

Eu estava ficando muito preocupada e nervosa. Tentei esconder meu estado de ânimo de Lucas, mas ele acabou percebendo e em uma noite me interrogou sobre o que acontecia comigo. Ele achava que escondia algum mal estar.

Não queria contar-lhe sobre essas coisas que estava passando, mas já não podia suportar aguentar tudo sozinha e não queria prejudicar meu relacionamento com ele, já que havíamos nos entendido. Ele poderia pensar que eu voltei a ter minha antiga personalidade e nossa felicidade acabaria. Não poderia suportar a idéia de que eu o fizesse sofrer.

Então contei tudo, mesmo que ele acabasse pensando que eu era louca. Contei sobre meu pequeno flash acordada logo após acordar do desmaio, meus pesadelos (o orfanato, minha outra identidade, a angústia e tristeza que pareciam tão reais e opressoras). Contei da investigação do meu passado, de minhas suspeitas sobre uma vida criminosa e até sobre a pesquisa a respeito da reencarnação.

Enquanto eu contava, não consegui olhar em seus olhos, por vergonha e porque minha visão estava nublada com minhas lágrimas. Eu soluçava de tanto chorar, triste com minha situação e preocupada que não me amasse depois dessa conversa.

Quando terminei, fiquei esperando sua reação.

Só o silêncio me saudou.

Vacilante, levantei meu olhar pra ver o que ele ia fazer. Ele me olhava confuso.

- Você deve achar que perdi minha mente - minha voz quase não saia, mas me obriguei a terminar - Mas juro que tudo o que disse é sincero. Eu jamais inventaria algo assim, não seria leviana a esse ponto. E vou entender se não quiser mais estar comigo, só peço que me deixe ficar aqui por um tempo até que eu consiga me virar sozinha totalmente.

A seguir ele me varreu para seus braços me apertando bem forte e eu me agarrei nele como a uma tábua de salvação.

- Isadora eu não acredito que você tenha inventado tudo isso nem que fingiria toda essa angústia e desespero que vejo em seus olhos e em suas palavras. Não depois de tudo que passamos. Sei que você se tornou uma pessoa de bem. Eu só não consigo entender porque você não tenha me contado sobre tudo isso desde o começo. Eu teria te ajudado.

Se eu não confiava que ele me amasse antes, essa demonstração tirou qualquer dúvida. Abracei-me mais apertada a ele, chorando.

- Eu tinha medo que você pensasse que eu fiquei louca ou pior, se eu fosse uma criminosa fugitiva? Eu não conseguiria suportar se você me rechaçasse e perder seu amor era meu maior temor. E se eu fosse culpada de algo, teria que ir embora, pois nunca iria te prejudicar de propósito.

Nos beijamos com tanta paixão, com tanta intensidade, perdidos um no outro, como se pudéssemos gravar em ambos a necessidade de estarmos juntos, não importa o que acontecesse; depois o beijo se amainou, mas era repleto de amor, um amor brando mas infinito.

Ficamos abraçados por um bom tempo, só desfrutando do contato um do outro.

Lucas beijou meus cabelos logo afastou o rosto para que pudéssemos nos olhar.

- Nós vamos dar um jeito em tudo isso. Eu não faço idéia do que fazer ou o significado para o que te acontece. Mas não importa o que seja, iremos passar por isso juntos. E nunca mais minta nem me esconda nada, mesmo que te pareça bobo ou sem sentido. Eu quero fazer parte da sua vida por completo.

- Sinto muito, sinto mesmo. Nunca mais vou fazer isso. Será que você pode me perdoar?

- Sempre.

Entregamo-nos completamente ao nosso amor naquela noite, aproveitando o momento juntos, pois o amanhã só traria incertezas.

Duas VidasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora