Pensamentos irritantes

333 14 6
                                    

NÃO OLHE. Não ouse olhar.
       Droga, olhei.
        Ótimo, Natsu Dragneel. Muito bom! Não consegue nem ao menos ir contra a porcaria dos instintos.
        Arrependo-me totalmente do que fiz. Está certo que Lucy Heartfilia é estranha e fácil de se irritar, o que a torna divertida, porém jogar aquele Krug Clos du Ambonnay nela fora meu pior erro. Veja bem, sou apenas um jovem normal terminando o ensino médio — ou nem tão normal, já que sou um mafioso e blá, blá, blá —, então quem pode me culpar se meus olhos são atraídos para aquele par de pernas torneadas e aquela camisa que agora parece totalmente transparente?
        Maldita caipira. Ela não podia ser uma dessas garotas sem graça e totalmente retas? O que raio ela fazia na fazenda onde cresceu para ter um corpo desses?
        Respiro fundo e desvio meu olhar para a janela ao meu lado. As árvores que rodeiam a mansão nunca me foram tão interessantes.
        Ouço-a suspirar ao meu lado, o que é entendível. Quero dizer, praticamente a sequestrei e ainda encharquei-a de uma das bebidas mais caras do mundo, fora que, para Lucy, eu não era a companhia mais agradável para se ter.
        — Sempre demora assim para chegar à sua casa? — Indagou com voz tremida, atraindo meu olhar. Parece até que ela estava no meio de uma nevasca, pelo tanto que tremia.
        Quase deixei um sorriso escapar em meus lábios. A visão era estranhamente graciosa.
        Pego meu blazer, o qual estava trajando antes de encontrá-la em frente ao portão da escola. Ele ainda está quente... Deposito-o cuidadosamente sobre os ombros dela, escondendo a visão perigosa de sua blusa praticamente transparente.
        — Obrigada. — Agradece com a voz embargada. Ora, ora... Acho que ocasionei um resfriado em alguém...
        — Por nada. — Volto a me ajeitar no banco. — E sim, sempre demora.
        — Você tem mais paciência do que imaginei... — Comentou, forçando-me a olhá-la novamente.
        — Você não imagina o tanto... — Murmuro, usando todas as minhas forças para não fixar meu olhar em suas pernas.
        — Sempre morou aqui?
        Por que, céus, ela não escolheu outro momento para puxar assunto? Queria pedir para Sargittarius acelerar e chegarmos na mansão logo, mas isso demonstraria que havia algo errado comigo, e não estava a fim disso.
        — Quase sempre... Morei por um tempo em outros lugares com minha mãe, até que ela veio a falecer.
        Sinto seus olhos em mim.
        — Entendo como se sente... — Sua expressão seria capaz de destruir meu coração, se não estivesse tão bem protegido. — Minha mãe também morreu... Quando eu era bem jovem...
        Observei-a. Então, no fim, temos algo em comum...
        Parecia estranho deixar o assunto morrer logo ali, então resolvi mudar a direção e manter a conversa ativa:
        — Você entende bastante de champanhe. É algum hobby ou fetiche seu?
        — Na verdade... É do meu pai. Ele adora vinhos e champanhes. — Suas bochechas estão coradas ou é impressão minha? — Aposto que enlouqueceria se soubesse que uma Krug Clos foi gastada inteirinha em meu cabelo...
        — Acho que ele não faria isso... — Seria um exagero.
        — Você não o conhece. Daria a alma para possuir uma garrafa para ele.
        Daria a filha também?, o pensamento invadiu minha mente.
        — Hum... — Murmuro. Por que pensei isso?
        — O que foi?
        — Nada. — Meu rosto estava entregando alguma coisa?!
        — O que foi, senhor Dragneel?
        — Nada! Por que haveria algo? Não posso mais murmurar? — E aqui vamos nós...
        — Você está certo, desculpe. — Solta junto a um suspiro. Ela está bem? Geralmente minha resposta desataria em uma onda de discussões que acabaria com ela apelando para a violência...
        — Mas vocês, caipiras, são bem atualizados em alguns assuntos...
        Recebo um tapa — de força mediana, admito — no braço. Ela não está tão mal assim.
        — Ai!
        — Não use essa palavra para se referir a mim! — Enerva-se.
        — Qual palavra? Caipira? — Evito outro sorriso ao receber outro tapa. — Ai! Só estou confirmando!
        Viro minha cabeça na outra direção, a fim de deixar o riso sair e acabo vendo a mansão. Aviso:
        — Estamos chegando.
        Infelizmente, penso.
        Oh, certo. Sinto que algo está estranho aqui. Conheci essa garota ontem e a achei estranhamente irritante e divertida — se essas duas palavras podem se misturar em uma única pessoa ao mesmo tempo.
        Ajudo-a a sair da limusine e recebo um "obrigada" recatado da parte dela.
        — Pelo quê?
        — Por me ajudar a sair da limusine e por me emprestar seu blazer. Foi muito... gentil de sua parte.
        Oh, merda...
        — Sem problemas.
        A loira avalia meu rosto.
        — Não tem nada errado mesmo?
        Minha vez de enervar.
        — Já disse que não. Mesmo se tivesse, por que deveria dizer para você? Tsc! Garota irritante.
        — Ora, vejo que temos sentimentos recíprocos. — Responde irritada. — Garoto rude.
        Se pudesse sair faíscas entre o choque de dois olhares, seria naquele momento. Ótimo! Era assim que as coisas deviam ser.
        Depois disso Virgo apareceu, acalmando nossos ânimos — ou pelo menos o de Lucy, uma vez que o meu estava longe de acabar — e a levando para dentro.
        Inferno! Que raios de pensamentos foram esses que começaram a aparecer em minha mente?
        Lucy Heartfilia é só alguém facilmente irritável, o que torna divertido enchê-la. Ela é, para mim, algo como um... brinquedo. Isso! Lucy é um brinquedo para mim, e só será isso. Mesmo que esses pensamentos irritantes assaltem minha mente.

~~~N/H~~~

✩ Contos baseados em alguns momentos da fanfiction Meu Estranho Mafioso, de minha autoria, portanto, possuí spoilers. Se não leu a fanfic original e quiser ler esta, lavo minhas mãos.
✩ Esse capítulo equivale ao número 4 em MEM.

Todos são estranhos, afinalWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu