Capítulo 20

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- Se quiser saber alguma coisa, você pode perguntar direto para mim.

Ele não precisava nem ter aberto a boca para saber que era ele. Só o aquele cheiro já denunciava que era o Morgado. Quem mais poderia ser? Já estava estranhando a vida ser tão generosa comigo nessas últimas horas.

Minha boca abriu e fechou como um sapo. O que diabos eu ia dizer para ele? É, Morgado. Eu estou pesquisando sobre você, porque o Pepa é um neurótico que acha que você tem um plano para destruir ele. E sabe o que é o pior, eu estou começando a achar que é verdade.

- Estava procurando uma foto sua para assessoria de imprensa divulgar uma nota sobre a sua visita no site da agência - pigarreei no final, porque já estava muito tempo sem falar nada e minha garganta tinha ressecado.

Claro que não era por causa da presença dele ali atrás de mim. Em nenhum momento pensei nos músculos dos braços dele tensionados me envolvendo, enquanto me beijava a menos de 24 horas.

- Claro - ele virou a minha cadeira em sua direção e o meu coração disparou. Se estivéssemos em uma desenho animado, seria possível ver o meu coração saindo do peito. - Eles têm um QI muito baixo para saber usar o Google.

- Eu só estava ajudando. Pode não parecer, mas todo mundo aqui é muito ocupado - eu disse e percebi que ele estava pronto para soltar mais uma. Então, emendei - e amigos. Não sei como é política da sede na Califórnia, mas aqui nós somos muito colaborativos um com o outro.

- É, eu experimentei um pouco dessa colaboração ontem - um pequeno sorriso surgiu no canto da boca dele. Automaticamente eu virei um pimentão. - Você não vai almoçar?
Se aquilo era uma espécie de convite. Eu não sei. Mas fosse o que fosse era melhor eu tomar cuidado.

- Como eu disse, todo mundo aqui é muito ocupado.

- Espero que eles não estejam usando capa da invisibilidade - ele falou sério, enquanto olhava para os lados encarando o andar vazio.

Quando fui virar a cadeira de volta para frente da minha mesa, pronta ignorar tudo aquilo, Morgado se apoiou segurando dos lados dos braços da minha cadeira. O nariz dele estava a centímetros do meus e o frescor da sua respiração chegavam até o meu rosto. Se eu ainda tinha um coração, já sei não dizer, porque ele simplesmente parou.

- Quer almoçar comigo, Roxy? Vamos lá. Eu não conheço ninguém e posso até tirar uma foto exclusiva para você.

Como eu abria a boca com bafo de café misturado com brownie, enquanto ele me oferecia uma refrescante brisa de hortelã?

- Tá - respondi entre os dentes e revirei os olhos forçando a cadeira para direita para poder fugir dessa aproximação perigosa.

Peguei minha bolsa e seguimos pelo corredor. Por alguns metros, eu pude jurar que senti uma mão quente na minha lombar, como se ele estivesse me conduzindo. Mas antes de começarmos a descer as escadas, ela sumiu.

O Morgado fez questão de escolher um restaurante bem fora do meu padrão vale alimentação. Não sei ele sabe, mas eu ainda sou assistente. Ou talvez surja a oportunidade de eu dizer o quanto esse VA que eles nos dão só dá para comer no McDonald's e ainda por cima escolhendo aquelas promoções do dia.

Por outro lado, fiquei aliviada por não ir parar em algum lugar que encontrasse o pessoal do escritório. Não que eles possam adivinha de alguma forma o que aconteceu no final de semana. Mas talvez pior do que eles acharem que está rolando alguma coisa com o Morgado, é eles acharem que sou puxa saco.

Sentamos a uma mesa próxima a janela com vista para a praia de Ipanema. Apesar da área e da água do mar serem muito diferentes de búzios, o cheiro da maresia fez com que a gaveta que eu tanto tentei deixar fechada hoje explodisse, escancarando todas as minhas lembranças, as boas e as ruins.

Eu Escolho VocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora