Capítulo 11

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Joguei uma água no corpo e sai do box do chuveiro no dilema se deveria enrolar mais um pouco ou não. Vai que ele acha que tomei banho de gato. Talvez tenha sido mesmo um banho curto. Mas a realidade é que as pessoas demoram mais do que realmente precisam para tomar um banho e o fato de outras pessoas tomarem banho mais curtos não anula o fato delas terem se higienizado bem. 

Decidi não lavar o cabelo. Então, precisei dar um jeito na juba. Procurei na gaveta alguma coisa para domar ela e até que fiquei satisfeita com o resultado. Abri a gaveta de maquiagem e fechei. De qualquer forma, toda vez que passo maquiagem parece que não passei nada.

Pensei que o segundo dilema provavelmente resolveria o primeiro. O que vestir? Repassei na minha cabeça a roupa que o Morgado estava usando e tentei seguir o mesmo estilo. Meio difícil. No meu armário tenho duas opções de roupas: trabalho e cultura nerd.

Uma ideia brilhante surgiu na minha cabeça e tentei unir as duas opções. Peguei uma bermuda jeans meio desgastada e uma camisa social estampada. Coloquei um mocassins nos pés e até que me senti mais uma vez satisfeita com o esse resultado.

Antes de sair do quarto, eu verifiquei o horário. Não imaginava que fosse tão cedo. Passei a mão no celular em cima da cabeceira e ele gritava. A bateria estava em vinte e cinco por cento. As notificações não paravam de piscar, mas agora não dava mais tempo. Me agarrei a certeza que o dia com o Morgado seria entediante o suficiente para checá-las mais tarde.

Sai do quarto e ele estava tomando uma xícara de café enquanto mexia no celular. Pelo visto ele ficou bem à vontade mesmo.

Ele levantou o olhar para mim e não disse nada.

- Vamos? - tentei tirar alguma reação daquele ser sentado no meu sofá. Ele continuou imóvel me encarando. Ou encarando a minha roupa. - Algum problema? - indiquei as minhas roupas com o olhar.

- Nenhum. Vamos!

Como se alguém tivesse apertado um botão imaginário, o Morgado se colocou de pé e se encaminhou para saída. Ele deixou o copo com um dedo de café em cima da mesinha de centro. Isso fez meus decibéis de raiva subir um nível. Mas eu só queria que esse dia acabe. Então deixei pra lá.

Eu não fazia ideia do que esperar. Maldita sexta-feira. Maldita cerveja. Maldita promessa de surpresas. Maldito Pepa que me amarrou a essa cara.

O elevador chegou e entramos.

Ali presa num cúbico de poucos metros quadrados com Morgado, que continuava a mexer no celular, minha cabeça foi invadida por aquele perfume. Isso me fez pensar que a minha situação poderia estar bem pior. Morgado podia ser algum gerente da área financeira, barrigudo e cheirando a fritura.

Me agarro, mais uma vez, as esperanças de que  a segunda-feira traria de volta a minha vida ao normal. Vou falar para o Pepa que tudo é paranoia da cabeça dele. Inclusive que ele precisa segurar a onda. Ele está surtando tanto que até o Morgado já sacou qual é a dele.

Chegamos ao primeiro andar. Já na calçada, o Morgado apenas fez um sinal para que eu esparasse com olhos grudados naquela telinha. Lamentei o fato do meu celular estar com tão pouca bateria. Seria lindo se o dia passasse assim, cada um em seu retângulo de 6 polegadas touch-screen.

Resolvi abrir a boca para falar alguma coisa, mas uma limusine preta parou na nossa frente.

Na mesma hora, Morgado guardou o celular no bolso e abriu a porta fazendo um sinal para eu entrar.

Olho para lados e para trás. Ele está falando comigo mesmo?

Impossível não entrar receosa. Seria uma espécie de pegadinha? Talvez isso tudo seja uma pegadinha e finalmente eu fui promovida. O Pepa deveria estar lá dentro com uma taça de champanhe para me dar as congratulações.

Eu Escolho VocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora