Capítulo 2 - Carta.

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May

Se lembra do cara da festa? aquela festa que sai com o pessoal da faculdade? você não foi por que tinha que estudar, eu te disse sobre o garoto que mudou a minha vida, me prometeu tantas coisas.

Mas eu menti. Sabia que ele não era o garoto certinho e perfeito e a tal festa era no ferro velho perto do cativeiro, sabe aquela festa que nossas mães recusavam em deixar a gente ir? pois é, eu fui. Mas agora preciso te contar antes que talvez não consiga terminar de escrever essa carta.

Foi então que o vi, quem sabe pela última vez, já não queria participar do clubinho perigoso dele. Ali parado entre a porta de entrada e saída da festa, estava mais charmoso que nunca, recostado aparentemente bem confortável na parede. Tinha o olhar distante, mas não deixei de reparar naqueles olhos cor-de-jabuticaba que tanto me enlouqueceram algumas noites atrás.

Era impossível não reparar neles, sabia que cabia uma imensidão naqueles olhos? eu via tanta coisa ali... as mãos dele estavam dentro dos bolsos da calça, como o mesmo pode ser tão bonito? o cabelo estava meio bagunçado, não de um jeito bagunçado "desleixado", mas de um jeito que me convidava a querer bagunçá-lo ainda mais. É do tipo que não tentava ser bonito, não fazia nada para ficar bonito, sabia que arrastava os corações das meninas e aproveitava-se disso. Eu estava tão entretida o observando que só percebi que ele se movia aos poucos pra perto de mim quando o ar de repente mudou e pude ouvir os seus passos. Tentei disfarçar olhando em qualquer outra direção: pra cima, pra baixo... até para o teto, mas sou uma péssima mentirosa e ele veio até mim sabendo disso.

── O que está fazendo aqui? ── Ele perguntou com aquele jeito que só ele tem, com aquela voz grossa e rouca que eu nunca pude esquecer e um sorriso que despontava no canto dos lábios para formar o que eu sempre chamei de meu sorriso.

── Estou em uma festa. E você?

── Sério? ── Riu-se ele de mim. ── Disso eu sei, meu bem. Quis dizer aqui, parada me encarando com essa cara de boba!

── Engano seu, estava olhando pra saída. A festa está meio parada e estou pensando em ir embora e que culpa tenho eu se você bloqueou a porta?

── Desculpa então. A minha presença te incomoda? ── Ele me observou e isso me deixou vermelha de vergonha.

── De forma alguma, por que estaria? o ferro velho não é meu e você pode ficar. ── Olho pro nada tentando não me perder nos olhos dele.

── Obrigado. ── Ele se sentou ao meu lado.

Novamente fui posta em uma daquelas situações em que não se sabe o que fazer. O meu maior medo era de gaguejar ou fraquejar e deixar que ele percebesse que, afinal de contas, não tinha me esquecido de tudo. Do toque do beijo, não tinha passado por tudo aquilo sem ficar com alguma marca, uma muito grande.

── Tudo bem. O que é que você quer de mim? ── O encarei dessa vez com uma pontada de curiosidade.

── Eu? nada, só a sua companhia. Por alguns instantes, se for possível. ── E enquanto ele falava olhava pra mim com aquele seu olhar, aquele tão velho conhecido meu.

E tentava fazer parecer inocente a sua tentativa de colocar a mão sobre a minha coxa.

── Estamos aqui. Sabe, sinto sua falta. Não conheço ninguém que converse como você, isso... é isso, sinto falta de conversar com você podemos conversar?

Por que é que ele fazia isso comigo? Já era difícil demais.

── Claro. ── Olhei em volta e percebi que todos aqui já se mantinham bêbados de mais pra ouvir a nossa conversa.

── Por que você está assim comigo? ── Ele indagou se fazendo de bobo.

── Assim como? ── Falo revirando os olhos.

── Seca...

── Não, impressão sua. ── Menti balançando a cabeça de um lado pro outro, mas logo abaixei o olhar e fiquei encarando as minhas mãos suadas por cima do meu colo.

── Eu sei que te machuquei, sei mesmo... e me arrependo disso. Todos os dias, mas sinto a sua falta, juro! sinto falta do que éramos quando estávamos juntos, sinto falta de segurar a sua mão quando você desviava o olhar por estar com raiva de mim. Assim, do jeito que você fez agora. ── E segurou a minha mão que já era de se imaginar que estivesse gelada. ── Sinto falta de te beijar no meio de uma discussão boba ou de te abraçar quando achava que você nunca mais ia querer olhar pra minha cara, sinto falta das suas mensagens desesperadas e controladoras no meio da madrugada me perguntando por onde andei e com quem estive que não consegui tempo pra te ligar. Eu sei, reclamava disso! mas reclamava porque gostava, você sabe como sou, não sabe? Isso, isso de novo, só você sabe como realmente sou

── Eu também sinto a sua falta. ── Soltei essas palavras.

── Sente?

── Estou indo embora. ── Me levanto da cadeira de imediato e passo pela porta evitando o olhar de várias pessoas que entravam.

── O quê? ── Ele fechou a cara e então notei uma veia que insistia querer ser visível na testa do mesmo, olhei mais para baixo e percebi que ele cerrava o punho. Ódio, ele está com raiva de mim.

Quando o mesmo caminhou atrás de mim e parou na minha frente, senti como se pudesse desabar ali na frente dele e não era isso que eu quero.

── É, te amei e te amei muito e você não soube dar valor, talvez eu volte, quem sabe. Não vou dizer que te esqueci, você mais que todo mundo daqui sabe que não, mas não posso deixar quem amo por você, sinceramente fui muito burra! nem sei por que resolvi fazer parte da sua marfiazinha... todos vocês machucam pessoas, matam sem ter nenhuma dó e muito menos algum remorso.

Foi ai então Maya que começou as ameaças e as chantagens, ele não foi o mesmo comigo depois daquela noite.
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Hasta luego; 🔎

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