Capítulo dois - Inacreditável

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— Quanta idiotice! — Natália praticamente gritou, de tanta revolta.

Sentada ao seu lado em um banco do pátio, eu não estava menos irritada.

— Estamos no segundo ano. Logo teremos vestibular, ENEM e tudo mais... E ela nos faz perder dois meses de estudo fazendo caridade!

— Idiotice pura! — Natália reforçou.

De pé à nossa frente, Juliana tentou nos acalmar:

— Sabem que não adianta ficar assim. A professora Melissa é cabeça dura sempre, ela não vai mudar de ideia. Vamos ter que fazer essa chatice de trabalho, não tem jeito.

— Para você é fácil aceitar! — rebati. — Vai ter o lindo do Miguel como dupla.

Ela riu.

— Elisinha, não começa com ciúme. Sabe que eu tô em outra. E, além do mais, o Miguel não faz o meu tipo.

Eu sabia, mas não conseguia evitar o ciúme. Eu é que deveria fazer dupla com o Miguel, eu! Seria a oportunidade perfeita para que a gente pudesse passar um tempo sozinhos, conversar melhor, conhecer um pouco mais um do outro. Digo, ele conheceria mais a meu respeito, porque eu já o perseguia há tempo suficiente para saber até a cor de suas meias preferidas.

— Pelo menos você está com alguém civilizado — comentou Natália. — Eu vou ter que fazer dupla com aquele garoto babaca que só sabe fazer piada com tudo e zonear as aulas.

— Tá reclamando? — rebati. — E eu, que vou ter que ficar com aquele esquisito pobretão?

O argumento pareceu, enfim, ter comovido aquelas duas.

— Coitadinha de você, Elisinha — Juliana passou uma das mãos pelos meus cabelos.

Natália suspirou, concordando:

— Sei que eu também não fiquei numa situação muito boa, mas... Acho que, de fato, a sua é pior, amiga. Aquele moleque é muito, muito esquisito!

Como de costume, Ju tentou animar a situação:

— Vamos olhar pelo lado bom? Elisinha, eu vou poder vigiar o Miguel pra você! Mais do que isso, vou poder falar de você pra ele!

Senti meu sangue gelar diante da ideia.

— Não vai contar a ele sobre os meus sentimentos, né?

As duas riram, na certa achando graça na forma em que eu me referi às questões amorosas.

— Fique fria, Elisinha — Juliana me tranquilizou, ainda rindo. — Confie em mim. Logo você e o Miguel serão um casal.

— O casal mais fofo que essa escola já viu! — Natália completou.

Bufei, incomodada com as brincadeiras. Porém, que alternativa eu tinha? Precisava confiar.

***-***

Eram quase três da tarde quando o motorista da Nat me deixou em casa. Eu morava bem próximo à escola, na chamada "área nobre" da cidade, em um condomínio de classe média alta. Entrei e, como de costume, encontrei minha mãe no quintal, montando um arranjo de plantas. Seu mais novo hobby.

— Filha, chegou em uma ótima hora! — Ela me olhou, animada. — Olha, o que achou?

Voltei os olhos para a "obra de arte". Um amontoado de galhos secos retorcidos, com uma flor sem graça bem no meio. O vaso, pelo menos, era bonito. Minha mãe tinha bom gosto para as coisas que comprava. O mesmo não se podia dizer das que ela fazia.

Contando EstrelasWhere stories live. Discover now