Capítulo um - Esquisitão

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— Vê se não vai aparecer lá com um vestido repetido! — Juliana advertiu, chamando de volta a minha atenção.

Fui sarcástica:

— É claro que não! Jamais cometeria a heresia de repetir uma roupa justo no seu aniversário!

— Acho bom! A Nat já mandou fazer o dela. Ela me mostrou o modelo, é lindo!

— Falando de mim? — falando nela, Natália chegou!

Enquanto Ju explicava o assunto, permiti-me analisar minhas amigas por um rápido momento. Outro aspecto no qual éramos bem diferentes era na aparência.

Eu provavelmente tinha o ar mais sério e formal das três. Tinha a pele branca em contraste com os cabelos castanho-escuros, longos e volumosos, e olhos castanhos por trás de um par de óculos de grau. Tinha astigmatismo e hipermetropia desde a infância.

Já a Juliana, tinha um quê mais "patricinha", com seus cabelos loiros (tingidos!) e lisos, num corte desfiado pouco acima dos ombros e os olhos verdes e bem expressivos, que eram destacados por uma maquiagem sempre muito bem feita. Ela e Nat tinham exatamente a mesma altura: 1,68, enquanto eu era um pouco mais baixa, com os meus 1,64 (e meio!).

Lembrando que este meio centímetro nunca, jamais deveria ser omitido dessa informação.

Natália era sempre o alto astral em pessoa, carregando em seu rosto o sorriso mais alegre do mundo, o que era encantador. E chamava muito a atenção pela beleza. Tinha a pele negra, olhos bem expressivos e um belo cabelo cacheado.

O assunto do vestido teria rendido se o professor mais rigoroso que tínhamos não tivesse entrado na sala. Todo mundo se apressou para ajeitar-se em seus lugares e, enfim, dar início à aula do dia.

— Bom dia — ele disse. — Antes de começarmos, quero anunciar que a partir de hoje teremos um novo aluno na sala.

Um anúncio um tanto inusitado, diga-se de passagem. Estávamos em outubro, o que, por si só, já tornava o fato curioso, mas o mais incrível era que a direção do Colégio Machado de Assis sempre foi extremamente rígida e não costumava aceitar alunos fora dos períodos de matrículas. Aliás, com exceção dos estudantes antigos, que tinham uma certa "prioridade" nas inscrições, as demais eram quase que disputadas a tapas. Apesar de ser uma escola particular, tinha vagas limitadas e bem cobiçadas na região.

O professor pediu que o novo aluno entrasse. Lógico que todo mundo olhou e comigo não foi diferente. Um garoto novo na escola e provavelmente na cidade – naquela cidadezinha onde nada acontecia – era praticamente um evento público! Principalmente para as garotas, claro. Não sei se a expectativa foi alta, mas a verdade é que, em um primeiro momento, não vi absolutamente nada de especial no novato. Certo, não era feio. Na verdade, olhando bem, vi que ele era até bonitinho. Era bem alto, moreno, tinha belos olhos, que mesclavam um castanho claro ao verde, e cabelos castanhos e compridinhos, com a parte de trás cobrindo a nuca e, na frente, um pouco mais curto, caindo sobre os olhos. Confesso que odiei o corte, e isso automaticamente fez a beleza dele cair consideráveis pontos no meu conceito. De qualquer maneira, ele não chegava aos pés do Miguel.

Mas, quem chegaria?

Miguel era a minha paixão suprema desde o primeiro dia de aula do oitavo ano. Mais de três anos que eu sonhava com o dia em que seríamos namorados, que ele ignorava quase que completamente a minha existência e eu fingia fazer o mesmo com relação a ele, sem nunca ter coragem para puxar assunto. Eu podia ser ótima nos estudos, falar bem em público, fazer apresentações de trabalho como ninguém, não ter qualquer problema de socialização... mas, quando se tratava de romance, eu era a criatura mais tímida, medrosa e insegura do universo.

Contando EstrelasWhere stories live. Discover now