Capítulo 1 - Encontro Inesperado (Parte 2)

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O castelo mal podia ser chamado de castelo de tão pequeno. Era constituído de uma casa torre e uma muralha baixa. A porta levadiça estava levantada, então os magos puderam entrar sem qualquer impedimento. Do lado de dentro eles puderam ver um estábulo e um grande armazém, fora isso não havia muito mais a se ver por ali.

Quando chegaram à porta principal da casa torre se depararam com um soldado que ali estava de vigia. Ele prontamente cumprimentou o mago mais jovem.

– Kayan, decidiu reconsiderar a oferta do barão?

– Na verdade não – respondeu-lhe simplesmente. – Este é Allen Kurbs, um mestre da Ordem de Drugstrein e ele deseja uma audiência com o barão Erbert Beren.

– Isso parece ser importante, o avisarei imediatamente.

Dizendo aquilo, o soldado abriu a grande porta de carvalho enquanto os anéis de sua cota de malha tilintavam e entrou na casa torre.

Alguns minutos se passaram e um homem de cabelos curtos e ruivos se apresentou trajando um gibão de seda e um manto constituído de pele de urso. Junto dele seguia o mesmo guarda e um rapaz muito parecido com o nobre. Este último trajava um peitoral de aço, grevas e braçadeiras, além de trazer um escudo em suas costas e uma espada embainha em sua cintura.

– Boa tarde, senhor Kayan, mestre Allen Kurbs – cumprimentou-os o nobre. – Meus criados estão preparando uma refeição para que possa recebê-los devidamente em meu castelo. Mas, a que devo esta honra?

– Não será necessária uma refeição, barão – disse Allen. – O assunto será bem breve. Como o senhor pode perceber, sua segurança é garantida pela proximidade com o castelo de Drugstrein, então, como mestre da ordem, vim recolher as taxas de proteção que nos são devidas.

Kayan e Erbert trocaram um olhar de desentendimento enquanto Allen mantinha um sorriso sarcástico em seu rosto.

– Temo que esteja havendo um engano aqui, mestre Allen. Nós pagamos nossos tributos à Alteroz e ao reino de Garlin. O rei, por sua vez, repassa o tributo anual às cinco ordens.

– Sim, isto é verdade. Mas agora estamos instituindo uma taxa adicional a todos os nobres de Wesmeroth. Sendo assim, aos mestres foi atribuída a missão de recolher esta taxa.

– Volto a dizer-lhe que deve haver algum engano. Nenhum comunicado foi expedido pelo rei, ou pelo meu suserano, o conde de Alteroz.

– Engano ou não, o que os humanos comuns podem fazer contra o poder dos magos? O que lhes resta senão pagar os impostos devidos? – uma irritação podia ser percebida na voz do mago.

– Acalme-se, mestre Allen – interveio Kayan.

– Estou calmo! Basta me darem minhas moedas!

– Sinto muito, mestre Allen, mas temo que eu deva levar este assunto ao rei para que ele discuta o assunto com os lideres da Ordem de Drugstrein.

– Ninguém vai levar o assunto à Ordem de Drugstrein!

Allen estava visivelmente contrariado e furioso, mas algo mais podia ser percebido em sua fisionomia; seria medo? De uma maneira ou de outra, em meio a sua fúria ele estendeu sua mão e uma esfera de fogo se formou sobre sua palma estendida.

– É melhor me pagar o que me deve, caso contrário será seu herdeiro quem irá sofrer.

Apontou a mão em direção ao rapaz trajando a armadura.

– Por favor, mestre Allen, nós resolveremos este assunto pacificamente.

Apesar das palavras do nobre, cerca de uma dezena de soldados trajando armaduras de couro ou cota de malha saíram de dentro do castelo. Isso pareceu enfurecer ainda mais Allen, que disparou uma rajada flamejante em direção ao filho do barão.

O rapaz sequer teria tempo de pegar seu escudo para tentar se defender. As chamas se refletiam em seus olhos e ele tinha certeza de que ali seria seu fim. Morreria queimado. Uma morte certamente terrível e dolorosa. Fechou seus olhos enquanto seus braços se projetavam para frente na fútil tentativa de se defender.

Os segundos se passaram e o calor chegou, mas não sentiu a ardência das chamas lhe consumindo, então ele retomou um pouco de sua coragem e reabriu seus olhos apenas para ver as costas de seu salvador.

Kayan havia protegido o herdeiro dos Beren colocando-se em frente às chamas que Allen havia conjurado e utilizado um feitiço escudo com sua aura. As chamas se dividiram em contato com o escudo de energia e formaram duas labaredas que se espalharam para os lados sem ferir ninguém.

Allen cessou seu ataque e percebeu que Kayan havia conseguido bloqueá-lo. O garoto, porém, parecia bem cansado e ofegante.

– Por que fez isso, Kayan? Você vai se opor a mim? Vai se opor a alguém que, assim como você, é um mago? – Allen parecia realmente indignado com aquilo.

– Eu que lhe pergunto, Allen – respondeu, visivelmente irritado e dispensando o honorifico. – Por que atacar estas pessoas sem nenhum motivo?

– Sem motivos, você diz? Eles se recusam a pagar por nossa proteção!

– Não estou recusando, mestre Allen, apenas desejo esclarecer as coisas junto à sua ordem – respondeu o barão, meio assustado.

Os soldados colocaram-se na frente de seu senhor, tentando defende-lo. Allen, por sua vez, agitou seu braço direito em frente ao seu corpo transcrevendo uma linha horizontal pela extensão da formação de guerreiros. Um forte vento surgiu deste movimento e todos os soldados foram arremessados para trás, sendo derrubados ou se chocando com a casa torre.

– Já chega, Allen, esta não é uma atitude que um mago de uma ordem tomaria. Você não é um mestre de Drugstrein!

– Então você é muito espertinho, não é Kayan? Pois bem, se é assim que vocês querem, tomarei as riquezas deste castelo pela força.

Allen, então, apontou sua mão em direção ao mago mais jovem e fez com que as chamas surgissem de sua mão. Kayan reagiu por puro reflexo e conjurou novamente um escudo de energia capaz de suportar o impacto das chamas. Apesar disso, sentiu o calor chamuscar sua pele.

Correu para o lado assim que teve a oportunidade de se desvencilhar do ataque inimigo e preparou seu contra ataque. Fez um movimento com sua mão enquanto corria em um semi-circulo e a terra começou a se levantar em um formato de onda que se dirigiu diretamente contra Allen. O outro mago, porém, quase não precisou de esforço para desfazer o feitiço do oponente e com um simples movimento fez com que a terra se assentasse novamente no solo.

O próximo feitiço de Allen foi utilizando a esfera jinn, que controlava o ar. Uma potente rajada de vento lançou Kayan para trás da mesma maneira que havia feito com os soldados que haviam tentado defender seu barão anteriormente.

– Parece que acabou para o pequeno mago.

O próximo movimento de Allen foi unir suas duas mãos com as palmas estendidas em direção à Kayan. Uma grande esfera de fogo se formou e uma rajada de chamas muito mais intensa que as anteriores foi lançada contra o jovem mago, que estava caído e não teria condições sequer de erguer um escudo arcano.

Kayan mantinha-se com seu braço esquerdo a frente de seu corpo em uma vã tentativa de se salvar do feitiço que seguia em sua direção quando viu uma capa vermelha com a bainha prateada esvoaçando ao vento. Tudo o que ele podia ver daquela pessoa, que havia subitamente aparecido em sua frente, eram suas costas vestidas com aquele sobretudo e os cabelos longos e avermelhados. Mas, de alguma forma, as chamas haviam se extinguido.


A Ordem de Drugstrein - Volume IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora