Young volcanoes

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- Hoje a noite as raposas caçarão os cães. Está tudo acabado agora, antes de ter começado, nós já vencemos. - Pat leu um trecho que tinha criado.

- Somos selvagens, somos como jovens vulcões. - completei.

- Ficou ótimo Pete. Você tem uma voz maravilhosa, adoraria ver-te cantando sozinho uma música nossa.

Sorri sem jeito, sua mão pousou em meu joelho, aquele maldito sorriso que demonstrava me fitando. Mas não podia, ele era menor de idade e meu melhor amigo.

- Você quer um refrigerante bro? - quebrei a tensão ali existente, ele se afastou meio envergonhado.

- Não, tô de boa.

Me levantei indo a cozinha, me apoiei na pia fechando os olhos, na tentativa de afastar aqueles pensamentos sobre meu amigo. Mas nada do que eu fizesse adiantava, Pat ainda estava em minha mente, sua boca rosada, seus olhos pequenos, seu sorriso perfeito, seus sedosos fios, seu cheiro cítrico levemente adocicado. Meu mundo gira ao redor desse garoto há tanto tempo.

Peguei uma garrafa, respirei fundo e voltei pra sala. Ele olhava a janela com uma certa curiosidade, algo o intrigava lá fora.

- O que foi?

- Não sei Pete, sinto que algo me chama para ir lá fora.

- Deve ser só sua imaginação Stump, estamos criando uma música, as viagens são meio pesadas.

- Talvez...

Ficamos num clima estranho por algumas horas, evitando nos encarar por muito tempo, ou ficar perto demais. Seja o que for, não está dando certo.

Mais algumas horas entediantes se passaram, estávamos deitados no chão, ele com a cabeça apontada pra direita e eu para esquerda, se virássemos para nos olhar, um beijo com certeza sairia.

- Peter.

- Hmm?

- Eu te amo.

- Eu também te amo Stumpy.

- Não. Não assim.

- Como? - Me virei vendo-o morder o lábio enquanto fitava o teto.

- Como... como morango e chocolate!

- O que?

- Amo você de um jeito mais do que amigo. Tenho a vontade de te beijar, tirar sua roupa, de dormir colado em você. Mas o máximo que tenho, são os sonhos em que te beijo e os abraços longos que você me dá. - Fiquei em silêncio por alguns minutos. - Diga alguma coisa, por favor, esse silêncio é constrangedor.

- Pat...eu.. - pensei no que falar sem o magoar, era a minha chance, mesmo assim não podia. Sentia que era errado. - Eu não posso, é errado, você é o meu melhor amigo, somos dois rapazes. Sabe o que vão falar de nós...

- Eu realmente não me importo, mas quero ficar com você. - seus olhos fecharam, uma lágrima escorreu pela lateral de seu rosto e pingou no chão.

- Não posso, me desculpe. - Ele virou o rosto colando nossos narizes. Sua respiração ofegante, as orbes esmeraldas aparecendo lentamente antes de fecharem e seus lábios encostarem no meu.

Macio.

- Obrigado por pelo menos me proporcionar isso.

Pat se levantou, pegou a fedora e saiu.

Quando a porta fechou, senti meu coração quebrar em mil pedaços. Um frio percorreu meu corpo, um vazio enorme de fez.

Em lugares venenosos somos anti-venenos, somos o começo do fim.

Isso vai ficar perfeito na música do Pat.

A noite caiu, ele não havia me ligado nem nada. Algo estava errado, aliás tudo. Geralmente ele dorme aqui, mas ele não voltou, talvez seja melhor assim hoje, que ele durma na sua casa, apesar da solidão, é um ótimo lugar pra refletir e é o que vou aproveitar pra fazer agora.

•/\/°\/\•

- Com licença senhor, você viu esse garoto?

- Não.

- Por favor olhe direito, ele é meio ruivo, olhos esmeraldas, meio gordinho, é meu irmão, por favor diga que viu ele.

- Não meu jovem, me desculpe.

- Tudo bem, obrigado pela atenção.

Fazia 4 dias que Patrick tinha desaparecido, sem nenhuma pista, alguma carta falando o motivo.

Ontem fui na delegacia abrir o B.O de desaparecimento, o declararam como incapaz por causa do trauma que ele sofreu, o famoso "estresse pós-traumático". O que fui totalmente contra, uma vez que Pat nunca agiu assim.

- Qualquer notícia entraremos em contato Senhor Wentz. -  A detetive de pele morena como achocolatado e olhos verdes comentou. - Acredito que, no estado em que ele possa está, ele retornará sozinho para sua casa. Mas estamos a sua disposição.

Os dias foram passando, e nada da polícia ligar ou do Lunchbox aparecer, cada dia eu ia me afundando mais e mais. Desesperado, bêbado e desajeitado.

Continuei a minha procura, sozinho, fui a vários bairros que nunca tinha entrado, e foi assim que ganhei minha primeira cicatriz de faca, bem abaixo da costela, tenho um corte médio.

No sétimo dia quando voltou, estava mais magro, seu cabelo mais claro e um sorriso diferente no rosto. Corri a abraçá-lo, sua voz soou um pouco irônica e seus braços me circundavam fracamente, sem vontade.

- Tenha cuidado ao fazer desejos no escuro, não se pode ter certeza de quando eles batem sua marca.

- O que você quer dizer com isso Pat? - Me afastei olhando em seus olhos, o azul dava lugar a um amarelo forte.

- Além disso, nesse ínterim so estou sonhando em acabar com você Peter Wentz, há anos sonho com isso. - Sorriu, seus olhos voltaram ao normal e sua expressão de medo e alívio surgiram numa abraço apertado. - Pete...me ajude.

Seus olhos encheram de lágrimas, sabia que tinha chegado a hora, ele havia chegado por um momento de descuido e sentimentalismo. Levei-o pra dentro de casa, estava um pouco sujo, preparei uma muda de roupa e o levei para o banho.

Ele sentou abraçando as pernas no meio da banheira, a água branca por causa dos sais, cobria até acima de seu umbigo. Me sentei na beirada e comecei a jogar água calmamente pelo seu corpo, seus olhos fecharam em uma expressão relaxada.

- Ele me pegou Pete, eu vi o inferno. Vi nós e mais dois garotos, cercavam-nos com mulheres que colocavam drogas em nossas veias, faziam a gente cheirar um pó colorido e comer a comida que uma cobra passava por cima. A maçã num tom vermelho-sangue coagulado. - A mesma cor de maçã que eu havia comido no almoço, meu estômago revirou.

- Está tudo bem agora Pat, você está aqui e eu nunca mais vou deixar você partir assim, nunca mais. - puxei de leve seus cabelos para trás, o fazendo levantar o rosto. Me aproximei selando nossos lábios num beijo quente e romântico. - Porque agora, você é meu namorado Stumpy, não vou deixar que te levem de mim.

Ele sorriu em meio as lágrimas.

- Eu te amo Pete

Foi nesse momento que acordei, olhei pros lados, ainda estava na casa de campo dos Hurley's. Patrick dormia na outra cama, sua respiração calma fazia o lençol subir e descer. Desci do acolchoado e sentei-me atrás dele, passei a mão sobre o pentagrama, acariciando seus fios loiros, velando seu sono.

- Eu também te amo Stumpy.

Show me my demon || PeterickWhere stories live. Discover now