|Capítulo 2|

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Mia.

A tormenta. Um temporal ruim, a tempestade violenta que toma conta dos mares, aterrorizando qualquer pessoa. A tormenta era a definição de caos e agonia. Era a minha definição naquele instante.

Meus olhos estavam fixos em um ponto invisível há minha frente, concentrados no cinza sem vida da mesa naquela sala vazia de interrogatório, sendo iluminado por uma lâmpada clara demais. Achei que só fosse assim em filmes.

Achei que nunca estaria em um lugar assim.

Minhas mãos estavam pousadas sobre a mesa fria, sabia que estavam em uma pequena tremedeira constante, mas para mim, estavam imóveis.

Meus olhos ardiam com a crise de choro que tive quando fui tirada de minha casa há algumas horas sendo acusada de assassinar Greg.

Eles me algemaram, machucaram meus pulsos, me arrastaram bruscamente mesmo colaborando. Eu sabia o que significava tudo aquilo, sabia por que estavam furiosos comigo.

Sabia quem era o pai de Greg.

Eu também sabia qual seria meu destino daqui para frente.

O promotor, Fred, que me visitou uma hora atrás foi o único que não me tratou como uma assassina, foi o único para quem tive coragem de dizer as palavras "eu sou inocente", pois por alguma razão eu tinha esperanças de que ele acreditasse em mim.

A porta se abre, ergo o olhar. Já havia ficado horas aqui esperando por alguma coisa.

O promotor de antes adentra junto a outro homem, mais jovem, porem vestido formalmente assim como o promotor.

—Mia esse é Wood Dankas– Fred gesticula para o homem– vou deixar vocês dois conversarem um pouco.

Fred sai da sala nos deixando sozinhos. O homem cujo nome é Wood puxa a cadeira a minha frente e se senta, mas não diz nada.

O observo, seu rosto era familiar, olhos azuis e cabelos louros curtos, uma barba rala e um olhar cortante. Eu já havia visto esse rosto, na televisão.

Wood Dankas, o nome também era familiar, sabia que ele havia cuidado de um famoso caso alguns anos atrás, o caso de Romeo foi televisionado e saiu em todos os jornais por um bom tempo. Era incrível saber que esse homem na minha frente, sozinho, havia ganhado um caso que foi arrastado por anos sobre Lance Gardem.

Ser noiva de Greg me deixou por dentro de muitas coisas relacionadas a isso, já que seu pai é um grande advogado e sempre comentava sobre esses tipos de caso em jantares de famílias, da qual poucos eu participei.

Um deles inclusive foi mencionado Wood, Hudson garantiu que se sairia bem melhor se estivesse com o caso.

Continuei a encara-lo.

—Você matou Greg Thompson?– perguntou cortando o silêncio.

—Não– respondi sem hesitar.

Ele ficou mais uns instantes em silencio, depois suspirou cruzando os braços.

—Eu sou advogado– diz ele– tenho experiência o suficiente para dizer que você se encrencou de verdade...

—Eu não fiz nada– o interrompo.

—Se encrencou com Hudson Thompson– ele continua, ignorando o que acabei de dizer– mesmo que seja inocente, mesmo que não tenha matado o filho dele, ele precisa culpar alguém, e todas as provas que recolheram apontam para você.

Suspirei fechando os olhos.

—Uma pulseira dourada foi encontrada no bolso da vitima– ele continua e o encaro confusa– a sua pulseira. A mesma pulseira que pessoas testemunharam dizendo estar em seu braço quando discutiu com Greg noite passada no pub.

—Você não acredita em mim– conclui– eu não o matei.

—Para que eu possa acreditar em você e tentar te ajudar eu preciso que seja honesta comigo– diz ele se renclinando um pouco para frente me observando– o que aconteceu naquela noite após a discussão?

Seus olhos imitavam a de um felino predador, um tigre prestes a dar o bote em sua presa. Era evidente que ele estava tentando capitar qualquer vestígio que dissesse que eu estava mentindo.

—Depois que eu bati nele eu sai de lá, peguei um taxi e voltei para minha casa– digo desviando o olhar do dele me sentindo incomodada.

—Conhece o taxista? Sabe o nome dele?– perguntou.

—Não.

—Como pagou a corrida?

—Dinheiro– respondo.

—Mora com alguém?– ele continua disparando as perguntas.

—Não.

—Algum vizinho te viu?

—Moro em um apartamento antigo, daqueles onde só tem idosos– explico– tenho certeza de que todos estavam dormindo na hora em que cheguei.

—Então– Wood bate as mãos espalmadas sobre a mesa– você não tem um álibi, e foi acusada de matar o filho de Hudson Thompson. Aonde eu fui me meter?

—O que?

—Nada– ele balança a cabeça, parece pensar sozinho– vou perguntar mais uma vez.

Wood se levanta ainda com as mãos espalmadas sobre a mesa, ele se inclina em minha direção me encarando de perto, seus olhos fixos no meu.

—Você matou Greg Thompson?

—Eu não o matei.

Ele avaliou meu olhar.

—Eu acredito em você– disse por fim e um enorme peso foi retirado de minhas costas, mas ainda existia muito mais.

(...)

Chego em casa. Caminho até o sofá e me jogo nele, ali permito que minhas lagrimas caiam novamente.

O mar de sensações que tomavam meu corpo me deixavam confusa, frustrada, nervosa, triste, entre outros tantos sentimentos.

Eu precisava apostar todas as minhas fichas em Wood agora, precisava acreditar com todas as minhas forças que ele me salvaria desse pesadelo.

—Por que você tinha que morrer?– sussurro entre as lagrimas agoniadas– por que?

Greg Thompson seu desgraçado, precisava ferrar a minha vida dessa forma?

Eu sabia que demoraria um tempo para que eu aceitasse minha nova realidade, a suspeita de assassinato.

Mas eu provaria minha inocência, pegaria o verdadeiro culpado e limparia meu nome, sairia desse pesadelo.

Era com isso que eu precisava contar.

Traçados Pela Lei - Wood. (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora