|Capítulo 1|

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Meus olhos percorriam por toda a sala entediado, conseguia encarar cada parede da sala de reunião particular de uma das maiores companhias de direitos do Canadá a Company Advocacia.

O nome não era nada criativo.

Já perdi as contas de quantas vezes recusei trabalhar aqui. Fiz fortuna trabalhando sozinho, e era assim que pretendia continuar, não nasci para receber ordens. Ainda mais de Hudson, o detestava.

No entanto, para meu desgosto, eu sempre estava por aqui, em reuniões defendendo clientes dos advogados carniças que trabalham para essa companhia.

Agora não era diferente.

—Ele oferece 20% do valor total da casa, essa é nossa proposta final– Cassy deu de ombros mostrando pouco interesse.

Encarei o homem rude ao lado da advogada, ele evitava me olhar nos olhos, patético, Denis era mais babaca do que eu havia pensado. Casado por vinte anos com Rebecca e agora, no ápice de seu divórcio quer deixar sua ex mulher sem nada.

Obvio que eu não deixaria isso acontecer.

—Eu posso abrir mão– Rebecca disse pouco contente ao meu lado, ela queria apenas terminar logo com aquilo.

—Então temos um acordo?– Cassy me encarou.

—Claro– assenti– se seu cliente quiser ir para a cadeia eu permito que Rebecca assine os papeis, mas se ele quiser continuar com a bunda intacta é melhor rever o acordo– me enclinei para frente com os olhos pregados em Denis– e quando eu digo "bunda intacta" não é no sentido de levar uns chutes no traseiro. Você não tem ideia do que fazem com caras que são presos após se divorciar, e acho que não vai querer saber.

—Pare já com isso Wood– Cassy me repreendeu irritada– você não tem como manda-lo para a cadeia.

—Quer apostar?– arqueio as sobrancelhas– violar os direitos da minha cliente querendo entregar 30% a menos do que é dela, tomar posse de todos os bens materiais, deixar ela sem ter onde ficar nos primeiros dias do processo de divórcio...Quer mais?

Cassy suspirou. Ela se virou para Denis.

—Divida tudo o que construíram juntos igualmente Denis– disse ela com a voz arrastada– ou o babaca aqui conseguirá te jogar na cadeia.

Vi o punho de Denis se fechar furiosamente.

—Devo pedir uma medida cautelar para Rebecca?– perguntei sorrindo.

—Não, não– ele negou– 50%– disse suspirando igual a Cassy– 50% de tudo o que temos, a casa, os móveis, todos os bens...

—60%– falo e o vejo arregalar os olhos– você a expulsou de casa, então automaticamente você perde o direito de tudo, mas se Rebecca for boazinha e decidir te dar alguma coisa eu vou entender. Rebecca?– olhei para ela.

—40% é muita coisa para ele– ela sorriu para mim.

—Que tal 20%?– volto a encarar Denis– era o que você queria no inicio certo? Queria deixa-la apenas com 20%, então isso significa que você acha que 20% é uma boa quantia, então fique com isso.

—Fechamos em 20% para ele– Rebecca bate a mão espalmada sob a mesa.

Vejo Cassy se levantar irritada.

—Aonde você vai?– Denis pergunta nervoso.

—Assine os papeis de uma vez– Cassy diz saindo da sala– é o melhor que vai conseguir.

Denis assina a contra gosto, estico meus braços me espreguiçando, era mais um caso ganho. Um caso bobo, mas ganho.

(...)

Checo as ligações perdidas em meu celular, algumas de meu pai, como de costume, nenhuma de Sarah, como de costume também, uma de Fred...

Isso não era de costume.

Continuo a caminhar ao lado de Rebecca pelo corredor da empresa indo em direção aos elevadores. Disco o numero de Fred, mas ele não atende.

O apito do elevador avisa quando as portas se abrem.

Mas antes que eu entre vejo Fred sair do elevador.

—Wood– diz ele contente em me ver– eu estava tentando falar com você.

—E eu estava tentando te ligar– explico erguendo o aparelho, me viro para Rebecca– pode indo, te mando os documentos atualizados amanhã.

—Muito obrigada Wood, você é o melhor– ela sorri entrando no elevador.

As portas se fecham e ela é levada para o térreo, Fred me encara arqueando as sobrancelhas.

—Ganhou mais um caso?

—Sim.

—Contra quem?

—Cassy– digo e ele gargalha, enfio as mãos no bolso– está muito calmo por aqui hoje.

—É exatamente por isso que eu estava atrás de você– ele aponta na direção oposta da onde estava vindo junto a Rebecca e começa a andar.

—O que um promotor faz nesse prédio afinal?– caminho junto a ele.

—Lembra quando me ligou pedindo ajuda para cuidar do caso de Romeo?– pergunta e eu assinto– eu estou cobrando o favor preciso da sua ajuda– ele fecha os olhos um instante, esse gesto me deixou curioso– estou em um caso delicado.

—Defina delicado.

—Venha comigo, você vai entender.

(...)

O destino era o departamento da promotoria na cede de investigações policiais. Entrei por varias portas atrás de Fred.

A ultima porta me levou até a sala onde eles chamavam de "janela", basicamente era a sala ao lado das salas comuns de interrogatórios, mas o que é um espelho para eles, para nós é apenas uma janela de vidro.

Aparelhos embutidos e microfones implantados nos permite ouvir o que está rolando na outra sala. Por hora, um completo silencio.

Uma mulher estava sozinha sentada em frente a mesa, imóvel, seu ângulo era lateral para nós, sua cabeça baixa e seus cabelos caídos não me permitiram ver seu rosto.

—Pode começar– digo para Fred ainda observando a mulher.

—Ela é Mia Savanah, acusada de assassinar o ex namorado na noite passada, recolhemos cerca de cinco testemunhas que viram ela o ameaçando e até mesmo o agredindo, está sendo mantida aqui por enquanto. Ela não diz nada para nós, só que é inocente– Fred explica– mas o caso dela é um pouco mais complicado.

—Por que?

—O cara assassinado era também ninguém menos que Greg Thompson.

—Filho de Hudson Thompson?– meus olhos se arregalaram.

—O próprio.

—Merda.

Essa mulher estava literalmente ferrada. Hudson era dono da Company Advocacia, ele tinha literalmente centenas de recursos para mandar ela direto para prisão.

—Só você pode ajuda-la– Fred diz ao meu lado.

—Ela diz que é inocente– digo– você acredita nela?

—Eu não posso afirmar nada, mas acredito na fama que Greg tinha, ele possuía muitos inimigos, muitas pessoas que o queriam morto, mas não acho que ela seja uma dessas pessoas.

Continuei a observa-la. Eu não podia ajuda-la, não tinha como, eu tinha meu exército, mas não chegavam aos pés do de Hudson.

Mas, se eu não ajuda-la, quem ajudaria? 

Traçados Pela Lei - Wood. (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora