Bônus - Malu (Parte um)

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Já estava a algum tempo procurando estagio e já tinha feito muitas entrevistas, mas não havia sido chamada para nenhum. Até que por indicação de uma colega de sala, fiz em uma sexta-feira entrevista em uma empresa de terceirização de serviços. O entrevistador me explicou que aquele era o procedimento padrão. Eles já realizavam as entrevistas, deixando tudo pronto para o cliente, que somente indicava o que precisava e eles então encaminhavam as pessoas conforme a solicitação. Minha sorte foi tão grande que na segunda seguinte recebi a ligação informando que tinha sido selecionada para estagiar na área de finanças e economia da prefeitura. Anotei todas as informações que me foram passadas. Corri e dei um longo abraço e beijo na Zita, que ficou muito feliz ao saber da novidade. Contei também ao Rico, que me surpreendeu com a animação e alegria que recebeu minha notícia.

Meu horário de estágio seria das treze até às dezoito e somente durante a semana. Meu horário seria apertado na hora do almoço. Ia sair da PUC e ir direto para a prefeitura. Mas não estava me preocupando e nem me importando com isso. Trabalhar era o que eu mais queria e precisava no momento. Além de ser bom para me afastar um pouco do Rico, teria experiência trabalhando em minha área. Cheguei empolgada para meu primeiro dia de trabalho. Fui primeiramente encaminhada para o RH, onde minha documentação já se encontrava e também um crachá eletrônico para acesso às dependências do prédio. Uma moça, que provavelmente não tinha mais do que 25 anos e muito falante, foi a designada para me levar ao meu andar e me apresentar para o meu chefe. Ela era bastante faladeira, mas uma de suas frases me deixou de antenas ligadas.

- Menina você tirou a sorte grande. Vai trabalhar com o homem mais lindo, maravilhoso e gostoso que temos por aqui. Acho que se ele olhasse pra mim por pelo menos cinco segundos eu pularia no colo dele e o deixaria fazer o que quisesse comigo. - e suspirou. Será que esse cara era tudo isso mesmo? Trabalhar com um homem lindo seria um baita de um incentivo. Um adicional a mais para ter vontade de ir trabalhar.

Assim que chegamos ao andar, ela me encaminhou para a penúltima sala batendo na porta e sem esperar a resposta foi logo entrando. Entrei logo atrás e parei no lugar assim que vi o homem que estava sentado na cadeira em frente a nós. O que era aquilo? Os adjetivos que a moça havia usado para descrevê-lo nem chegavam perto de fazê-lo. Aquele homem era sem palavras. Moreno, com cabelos negros e olhos cor de jabuticaba, nariz anguloso e queixo proeminente. Seu cavanhaque por fazer enfeitava a boca de lábios finos. A sobrancelha arqueada e franzida lhe dava um olhar meio duro e mesmo o sorriso que estava em sua boca não diminuía a intensidade do olhar. Esqueci-me completamente na moça que me levou até ali, não ouvia mais o que ela dizia, simplesmente não conseguia tirar os olhos daquele homem que estava ali, à minha frente. Observei-o lentamente se levantar, fechando o botão do blazer do terno que usava e displicentemente se dirigir até a mim com a mão estendida. Os ombros largos e o corpo provavelmente esculpido com esforço não me passaram despercebido, porém eu não havia ainda esboçado nenhuma reação. Permanecia parada, encarando aquele homem e pensando de onde aquilo tudo saiu.

Seu sorriso se ampliou mais ainda quando repetiu as palavras que já havia dito e eu, ainda impactada pelo choque, não tinha ouvido.

- Senhorita Andrade? Será um prazer tê-la na nossa equipe. - voltei à terra, piscando algumas vezes e apertei a mão a mim estendida.

- Por favor, me chame de Maria Luiza ou de Malu. Senhorita Andrade soa tão formal. - realmente eu estava ficando louca. Isso lá era coisa para se dizer ao chefe?

- Muito melhor. Chame-me de João, então. Não sou mesmo tão formal. Gosto de manter uma relação mais estreita com os meus funcionários. - e deu uma piscadela. Achei que fosse morrer nesse momento. A moça que assistia a tudo atônita pigarreou.

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