Drew

116 14 2
                                    

*

Capítulo 4

O meu corpo todo pede-me para me mexer. Mas há outra coisa que me diz para eu ficar aqui, quieta, no meio desta sala.

Recuo um passo, cheia de hesitação e fico quase hipnotizada pelo fogo.

Os meus olhos só olham para aquelas chamas - de uma cor muito avermelhada - e não consigo parar de olhar para ali, estranho. Este fogo faz nascer em mim um vazio de uma maneira tão enigmática e tão nebulosa que até sinto uma sensação agradável.

Sobre a minha impotência absoluta, o fogo continua a crescer tão rapidamente que atinge o tecido das cortinas, e também um pequeno armário - onde está situado no mesmo um vasinho branco -

Pouco a pouco os meus pulmões começam a encher-se de fumaça . E assim que o fogo se começa a aproximar perigosamente de mim, a minha consciência grita para eu fugir dali - mas mais uma vez não o fiz -

Neste momento, estou a ser absolvida por lembranças dolorosas e sensações fortes. Sinto o meu coração a apertar, mais e mais enquanto a chama continua a avançar sem piedade.

Está tudo destruído. E tudo por minha culpa.

Foi tudo minha culpa.

Imediatamente, vou a correr para a cozinha, a respirar com dificuldade. A lembrança desta chama, destruidora e monstruosa ficou marcada na minha cabeça e não pára de aparecer, uma e outra vez.

Eu tento afasta-la para longe, para bem longe das minhas lembranças - mas não consigo - ela só me fez aparecer umas memórias ainda mais violentas, mais arrasadoras. E agora o efeito é irreversível. Comecei a ter uma crise de pânico.

Com as minhas mãos no cabelo, deixo sair um grito bem alto. Caio no chão ao mesmo tempo que umas lágrimas salgadas escorrem pelas minhas bochechas.

Estou a sufocar bem devagar.

Até que a minha respiração parou bruscamente.

A minha garganta arde quando tento respirar. Eu tento filtrar o ar com a minha blusa, quando de repente o meu telemóvel começa a tocar.

Logo a seguir, agarro no mesmo depois de ver quem era :

- Caramba Drew ! O que é que se passa ?gritou o meu irmão do outro lado da linha telefônica.

Não consigo dizer uma única palavra.

- Responde-me ! É pre--, cala-te Alaric !continuou ele antes de voltar a falar. Chegamos daqui a dois minutos ! Protege-te.

Do nada ele desliga. Engulo dificilmente a minha saliva, e depois, decido encostar-me a um dos móveis da cozinha. Mais uma vez, volto a tossir.

E é só ao fim de alguns minutos que a porta de entrada abre-se. Eu ouço a ativação do extintor, depois vozes a falar alto, e no final um grito:

- DREW !

Claro que era o Douglas.

Levanto-me com muitas dificuldades, mas sem cair, e ele precipita-se para o pé de mim. Do sítio onde estou, eu consigo ver os parceiros de quarto do meu irmão. O Alaric está a apagar o fogo, juntamente com o Ernest, enquanto o Khaulder, ele, contenta-se só de olhar para o pequeno armário. - quer dizer, para os restos dele -

Sem que estivesse à espera, o meu irmão abraça-me - coisa que é muito rara - Eu abro bem os olhos, que raios...

- Fica atrás de mim e não lhe olhes nos olhos.

Depois destas palavras, eu fiquei completamente perdida.

O meu coração está a bater muito rápido e o meu irmão deixa de me abraçar metendo-se à minha frente. Dessa maneira eu deixei de ver os seus amigos.

Living With BoysWo Geschichten leben. Entdecke jetzt