28 - Livros, chuva e carmesim

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Eu me arrumei em tempo recorde, animado com a bela oportunidade que tinha em mãos

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Eu me arrumei em tempo recorde, animado com a bela oportunidade que tinha em mãos. Summer não podia me expulsar se quem me convidara fora Lola, podia? Acho que não. Pela primeira vez me preocupei em estar bem vestido para ver alguém. Talvez porque não fosse uma pessoa qualquer. Era minha vancouverite favorita! Bem, sem toda a intensidade. Quero dizer... Vamos focar na minha roupa? Vesti uma calça jeans, um tênis sem cadarço (praticidade é tudo), uma jaqueta Varsity carmesim (um tom de vermelho mais escuro) escrito "London" o qual comprei durante meu intercâmbio de férias para a cidade. Por baixo uma camiseta branca. Lola me mostrou o dedão em um joinha ao aprovar minha roupa. Sorri, um pouco mais confiante e me olhei no espelho. Lembrara de usar desodorante, perfume e pasta no cabelo, o qual estava arrumado para cima, em um topete bem estiloso.

Deixar uma criança te guiar por uma cidade turística é, no mínimo, inusitado. Loucura no máximo. Morte quase certa se você for pessimista e pensar na impossibilidade de uma menina de quatro anos atravessar a rua. Sequer sabia se ela aprendera a atravessar a rua. Bem, mas era a melhor chance que eu tinha de ver Summer novamente. E de ela me ouvir. E de não bater a uma porta na minha cara, afinal não haveria uma porta, de acordo com meus cálculos. E não havia. Lola me levou para a mesma livraria que Frankie me levara antes. A mesma livraria na qual eu pagara mico. A mesma livraria que vira Summer ler para crianças. A mesma livraria em que eu conhecera a garotinha que estava me conduzindo.

Summer não ficou muito feliz em me ver, mas aliviada em ver Lola. Ao que parece, a garota tinha sumido no meio de uma leitura e nenhuma outra criança do orfanato a vira sair. A diretora do orfanato estava arrancando os cabelos, segundo Summer. E a vancouverite, apesar de não ter visto a garota ao ler o livro da semana, se culpou muito pelo sumiço. Acho que eu também me culparia. A garotinha encolheu os ombros e se pôs a falar.

— Desculpe, Summy. — Ela piscou algumas vezes, provavelmente tentando ficar mais fofa. Funcionou. — Eu quis dar uma volta por aqui, para ver a praia, mas não foi uma ideia muito boa. — Fez biquinho e virou para mim, fazendo-me estranhar sua ação. — Ainda bem que Ethan me encontrou e me trouxe para cá. — Piscou os olhos brilhantes para mim, deixando claro que estava me fazendo um favor. Provavelmente esse era o plano dela o tempo todo. Que garota esperta! — Ele disse que era perigoso uma criança andar na rua sozinha.

— Sério isso? — Foi a primeira vez que Summer me olhou desde que apareci com Lola. Dei um sorrisinho tímido como resposta, pois não sabia muito bem o que fazer. A pequena vancouverite mentira para me ajudar. O que eu poderia fazer? — Mas ele está certo, Lola. Uma criança de dez anos não pode sair sozinha, okay? É perigoso. — Dez anos? Mas ela me disse que tinha quatro! Parece que Lola mente mais do que eu imaginava. Será que isso é muito ruim ou não interfere muito? Bem, melhor não pensar muito nisso. — Vá agora falar com a diretora, por favor. Não é mais meu departamento. — Summer fez cara de quem estava com pena, mas que não tinha muito o que fazer. Lola suspirou, mas assentiu e se despediu de nós.

Então ficamos eu e Summer. Minha pulsação saiu do controle quando ela olhou nos meus olhos. Era puro medo. Não havia outra explicação.

— Então...

— Então...

Jinx. Provavelmente Summer não saberia do que eu estava falando, pois não teria tempo de assistir How I Met Your Mother com tanto livro para ler. Adquiri o hábito de falar jinx ao assistir um episódio da série, mas duvidava que desse certo brincar com Summer. Mesmo que ela soubesse disso, não estava no clima para brincadeira. Ficamos nos encarando.

— Obrigada. — Ela disse primeiro, pegando-me de surpresa. — Por ter trazido Lola até aqui. — Completou.

— Ela meio que me trouxe. — Falei isso em tom de brincadeira, mesmo que fosse a mais pura verdade. Summer não pareceu desconfiar.

— Ficamos preocupados. — Murmurou, deixando de me olhar.

— Eu imaginei. — Suspirei.

Ficamos nos encarando. Eu estava me sentindo tão bem só de não estar ao seu lado sem xingamentos. Nem estava ligando em não ter assunto. Ou não ter coragem de começar o assunto que ensaiara no caminho até ali. Ela não pareceu tão à vontade quanto eu.

— Bem, preciso ir. — Falou ela, pegando alguns livros que estavam perto dela. Então se virou e foi embora, como se eu não estivesse ali. 

Parece que eu a magoei mesmo. Bufei, olhando os livros ao redor. Será que algum daqueles milhares de protagonistas viveram algo semelhante ao que eu estava vivendo? Hum... Acho que não. Ninguém é tão azarado quanto eu! Respirei fundo e pensei nos poucos romances que conhecia. Os caras sempre iam atrás da garota. Minha história poderia não ser de romance, mas não custava nada ser corajoso. Estralei os dedos e percorri os longos corredores da livraria, à procura da saída. Quando a encontrei, descobri porque Lola me mandara levar um guarda-chuva. Estava chovendo e um pouco mais à frente havia uma garota sofrendo sem proteção contra os grossos e gelados pingos. Abri o guarda-chuva e corri até ela, já sabendo o que falar.

— Espera! — Coloquei a mão em seu ombro e Summer parou, virando para me olhar. Ela continuou na chuva e percebi que estava tremendo. — Toma. — Dei o guarda-chuva para ela e a vi se esforçar para me cobrir também. Sorri internamente ao perceber que se importa comigo. Retirei minha varsity e ofereci a ela.

— Não precisa. — Ela disse, mas ainda assim não deixou de tremer. Insisti e ela cedeu. — Obrigada.

— Disponha. — Ela me entregou uma sacola com livro e eu a entreguei o que tinha em mãos. Dei um sorriso enorme enquanto a observava colocar a minha jaqueta. Ficou enorme nela, mas não deixou de ficar fofo.

— Vai estar molhado quando você usar. — Avisou, parecendo triste com o fato.

— Não ligo. 

— É um vermelho bonito. — Comentou ao observar a jaqueta que estava em seu corpo.

— É carmesim, um tom mais escuro de vermelho. — Sorri e tive uma ideia que poderia a prender perto de mim por mais um tempo. — Vou colocar seus livros em minha mochila para não molhar. — Ela não protestou e nem pareceu achar ruim. Fiz uma nota mentalmente para agradecer Lola por ter me obrigado a sair com mochila e guarda-chuva. Essa garota sabe o que diz! Abri a mochila e vi algo que poderia me ajudar ainda mais. Ou melhor, ajudar a Summer. Era meu gorro de lã vermelho, de um tom semelhante ao carmesim da jaqueta. Posicionei-o na cabeça de Summer com uma das mãos, fazendo-a rir. Ela deu um tapinha carinhoso em minha mão, deixando claro que arrumaria o gorro sozinha. Voltei minha atenção à mochila e coloquei os grossos livros dentro, logo colocando-a nas costas novamente.

— Como estou? — Perguntou ela ao terminar de se ajeitar.

Direcionei meu olhar para ela e fiquei vidrado. Engoli em seco e meu coração disparou.

Olá, SummerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora