— Sim, vou.

De repente, me sinto envergonhada. Sei o que ela está pensando; provavelmente vou sair para transar.

— Quando começa a sua faculdade? — pergunto, mudando subitamente de assunto, desejando que a timidez fosse embora.

— Na quarta-feira tenho minha prima aula. Levo Thomas para ficar na creche.

— Não quer que ele fique comigo?

Ela suspira, aliviada.

— Você faria isso por mim?

— Claro — tomo mais um gole do meu vinho.

Thomas é uma criança amigável e querida, sei que vai ser muito bom passar o tempo com ele. Além do mais, estou de favor no apartamento dela, e é o mínimo que eu deveria fazer.

— Lou — minha irmã murmura, também tomando um gole do seu vinho, bastante, aliás, e acho que ela vai vir com a sua inquisição, mas vejo que seus olhos não estão me fitando até a alma, e relaxo. — Você não pretende começar uma faculdade também?

Ah!

Acho que se ela tivesse feito um interrogatório sobre eu e Will seria muito melhor. Eu pretendo fazer uma faculdade? Não sei. Acho que não. Nunca pensei nisso antes. Tudo o que eu desejava há alguns dias atrás era continuar trabalhando no The Buttered Bun por tempo indeterminado. Eu tinha uma paixão enorme por aquele café, mas ele fechou, e eu me vi sem meu futuro. Nunca tive ambições e sei que, para as outras pessoas, isso não é algo bom, mas para mim não faz diferença. Mas como eu explicarei isso à minha irmã que sonhou a vida inteira em terminar uma faculdade?

— Hum... Não sei, Treen, acho que não...

Ela revira os olhos e vira o rosto para a varanda, que ainda está com as portas abertas. Os prédios se alongam pelo caminho e as pessoas percorrem as calçadas estreitas em disparada. O sol está se pondo, deixando-nos à brisa do crepúsculo, e a vista é linda até mesmo para esta parte da cidade. Ao longe, os arranha-céus estão ganhando vida, e sorrio, sozinha, ao lembrar-me que Will está por lá.

— Olha o que você têm — ela diz. Eu a encaro, mas seus olhos ainda estão na janela, iluminados, e um sorriso contente brota em seu rosto. — Londres é toda sua, basta você querer... — Então ela me olha novamente, com aquelas suas íris verdes hipnotizantes, e sei que está preparando um dos seus melhores discursos na cabeça. — Você tem potencial, Lou. Só não sabe que tem. Conquistaria o mundo se quisesse. Mas acho que o que você tem é medo, e não deveria. Estou aqui, com um filho, mas ainda assim tenho como estudar. Você está aqui, completamente à vontade, sozinha para fazer o que bem entender e na hora que quiser, e sei que está apaixonada pela cidade — ela faz uma pausa, toma um longo gole de vinho, e ri para mim. — Bom, não só pela cidade — Reviro os olhos para ela. — Mas seu medo é maior do que a coragem para enfrentar tudo isso.

Fico em silêncio. O que eu vou dizer? Não posso falar nada. Ela tem razão. Tudo o que eu tenho é medo.

Encaro a garota de vestido amarelo com bolinhas pretas, olhos alegres e um rosto vivaz no reflexo do espelho. É assim que Londres me deixa e eu gosto disso. Coloco as mãos na cintura e dou uma meia volta, vendo meu vestido girar e dobrar de tamanho em meio ao ar, e eu sorrio feito uma boba para o espelho. Na verdade, acho que não é Londres que me deixa assim. É Will Traynor.

— Lou — minha irmã coloca a cabeça para dentro do quarto, olha sugestivamente para a minha roupa, mas não fala nada, apenas ergue as sobrancelhas. — Seu Bonitão chegou.

Ah, meu Bonitão!

Pego a bolsa amarela de alça e a coloco no ombro, dando uma última olhada para o espelho antes de sair dando pulinhos pequenos e frenéticos em direção à porta. Ele está aqui! Quando passo por minha irmã penso em perguntar a ela o que acha da minha roupa, mas não digo nada, apenas sigo meu caminho.

Como eu era antes de você (Hot Version)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora