Pervenire

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Encontrava-se sentado na excelente poltrona importada da Índia, abaixo dos pés um tapete circular turco feito em seda forrava todo o piso de madeira trabalhado da casa, a minha frente a lareira no auge da sua combustão aquecia a sala e a mim, junto com o saboroso café que estava degustando. A luz de um candelabro acima deixava a iluminação baixa no ambiente, um confortável roupão de linho vinho e uma pantufa completava a sensação de estar no lugar mais aconchegante que alguém pudera estar, nos falantes espalhados pelos cômodos tocava em som ambiente "James Newton Howard – The Village".

E ainda do outro lado, no sofá de couro em três partes estirado nu, o corpo torneado e resiliente de um belo rapaz de vinte e oito anos, o abdômen definido com as pernas atléticas contrastavam com o rosto delicado e angelical, os cabelos negros e brilhantes na altura do pescoço bem cortado e sempre arrumado para trás, agora estava desajeitado jogado sobre o seu rosto, impedindo que visse os lindos olhos castanhos claros que pareciam da cor do mel todas as vezes que me olhavam atentos.

O momento de êxtase era estonteante e íntegro, a mais pura satisfação de um ser humano, jamais sentira algo tão marcante durante toda a trajetória, percebo agora a evolução e todas as etapas que passei até chegar neste ápice. De fato, essa metamorfose teve seus dias de glória, mas absolutamente nada se equipara a este final.

O telefone começa a tilintar sobre a escrivaninha do escritório, foi assim que tudo começara, foi assim da primeira vez com Clara e dá até então última vez com Alan, entre esses dois uma lacuna incontestável de diferença, porém, ambos com seu brilho próprio.

Levanto e num ritmo sereno e pacifico caminho em direção ao escritório, ainda de pé puxo o telefone do gancho.

— Escritório Alpha de advocacia.

— Eh... Boa noite senhor, desculpa ligar a esta hora da noite, mas acho que estamos aqui com mais um caso para seus trabalhos, os incriminados não se prontificaram a respeito de suas defesas, mas a contar pela situação acredito que você será procurado em breve.

— Resuma o ocorrido.

— Duplo homicídio, os acusados são um casal, em que ambos tiveram seus conjugues mortos num intervalo de tempo curto e através de testemunhas ficamos sabendo que eles tinham um caso.

— Isso não parece tão cativante para mim, duplo homicídio é simples de solucionar.

— Este é diferente senhor, ao que parece houve um plano atrelado ao incidente, como disse, os falecidos são o homem de um dos casais e a mulher do outro casal. Os apreendemos horas depois num Motel nas redondezas da cidade, em ambos os casos o falecido havia acabado de não ser sentenciado a prisão e absolvido dos crimes que cometeram por você. Os nomes das vítimas são Paula e Alan, seus dois últimos defendidos senhor. Paula foi a mulher que de forma acidental envenenou a sobrinha e Alan o jovem que esculachado pelos colegas de trabalho após descobrirem sua opção sexual revelou diversos documentos confidenciais da companhia e dos funcionários, destruindo alguns lares e trazendo sérios problemas a corporação. O Corpo de Paula foi encontrado duas semanas atrás no Lago e após o desaparecimento de Alan, as buscas no mesmo lago já começaram a ser feitas.

— Interessante, quer dizer que os conjugues de Paula e Alan tinham uma relação extraconjugal com os pares do outro, e agora com a morte de ambos foi aberto espaço para que o amor proibido dos dois se concretize, que mundo pequeno esse. Amanhã cedo vou até a delegacia conversar com os dois, como está dito na nossa constituição "até que se prove o contrário, todo ser humano é inocente".

Aquilo realmente foi uma surpresa para mim, quem diria que a vida me daria um presente como este, talvez seja o sinal para que eu avance ao próximo estágio, tenho agora duas pérolas na mão para lapidar e uma pedra no sofá para descartar.

O Homem e a CaixaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora