Parte 3 - Fim

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Música: Boy Epic - Kanye's In My Head


***


Voltamos para o cockpit e começamos a preparar tudo para descolar. Quanto mais depressa enfiarmos o homem no avião e regressarmos a Londres, mais depressa isto acaba e será apenas uma vaga miragem na mente de uma pessoa cansada.

- Tudo pronto aí? – Andrew vira-se para trás e pergunta a Sophie.

- Preparada e a contar os segundos para aterrarmos em Londres.

- Basta agirmos como sempre. – Ele diz, mas detém-se. – Sophie, o teu lenço?

Olho-a tão rápido quanto o meu coração dispara. Sophie leva as mãos ao pescoço e num flashback vejo o momento em que ele caiu no chão.

Os nossos olhares abrem.

- Fodasse.

Murmuro, um segundo antes de uma nova pancada atingir a porta.

Andrew abre e o mesmo homem de momentos antes entra com mais dois. Olha para nós os três e sorri. Leva a mão esquerda ao bolso das calças e ergue-a com o lenço de Sophie na mão.

- Creio que isto lhe pertence. – Diz para Sophie.

O meu coração bate tão acelerado que nem respiro. Sophie está pálida e julgo que a qualquer momento irá desmaiar.

- Não sabia que tinhas trazido lenço. – Andrew comenta, e pergunto-me onde este filho da mãe foi buscar o sangue frio.

Sophie não responde e o homem sorri, olhando o chão por dois segundos. Depois leva a mão direita ao cinto das calças atrás e debaixo da blusa tira e empunha uma arma que aponta a Sophie. Os outros dois seguem-lhe o exemplo.

Erguemos as mãos com o pânico estampado no rosto.

- Amigo, tenha lá calma com isso. – Andrew pede.

- Nós não fizemos nada. – Comento, pedindo para que a voz não me falhe. – Está maluco?! Baixe essa arma! Ainda magoa alguém.

- Vocês pensam que por virem de fato, lá do Reino Unido, que enganam a gente da terra?!

- Não estamos a enganar ninguém! Não devia estar a defender-nos dos rebeldes em vez de nos apontar uma arma?! – Riposto.

Ele ri e roda o braço na minha direção. Agora o meu único foco é o buraco negro que aquela arma tem.

Sabem aquele pensamento de quando estamos às portas da morte e toda a nossa vida nos passa pela mente numa velocidade sónica, como se procurássemos a certeza de que vivemos tudo e estamos prontos para o que está a chegar?

A minha vida passa, mas eu não estou pronto. Tenho vinte e sete anos, porra! Ninguém está pronto para deixar este mundo e tudo o que ele tem para oferecer aos vinte e sete. Se alguém o diz, é mentira!

Acredito que haja quem aceite o seu destino, mas é impossível deixá-lo com a certeza de que se viveu tudo.

Lembro-me de quando a minha irmã nasceu. Raio de primeira memória para se ter. Mas irmãos são almas que nos escoltam. Independentemente de serem mais novos ou mais velhos.

A relação que temos com eles é da nossa responsabilidade. É nossa obrigação e dever cultivar, preservar e usufruir da luz que eles carregam. Aquilo em que nos tornamos é culpa da vida e das vivências. Uma manipulação da sociedade que consegue voltar familiares uns contra os outros, mas eu não sei o que isso é. Tenho a melhor família que poderia pedir. Tenho os melhores pais que poderia pedir, a melhor irmã que poderia me acompanhar e uns avós que me inspiram a querer viver um amor tão grande, sentido e verdadeiro quanto o deles.

Trono de Algodão - ContoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora