Parte 1

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Música: Dua Lipa - New Rules


***


Entro no hotel com o casaco pendurado no braço. Não é necessário olhar para saber que alguns dos hospedes nos observam. Em alguns locais é como se fossemos a família real a passar. Caminho na frente com Andrew, o comandante. Sophie, a hospedeira que nos acompanha, segue atrás. Com o tempo acabamos por nos habituar aos olhares, aos sorrisos, ao deslumbramento, mas para mim ainda é cedo. Ainda sinto o frio na barriga e o rosto erguer-se ligeiramente demonstrando o poder que as nossas asas nos dão. É inconsciente.

Sim, talvez este seja o emprego de sonho. Até à data, não me posso queixar. Sorrio para a rececionista. Loira, olhos azuis, linda de morrer.

Após fazermos o check-in na nossa reserva, subo para o quarto desejando a cama. Engane-se quem pensa que estar quase dez horas sentado não cansa. Todo o meu corpo dói, e aposto que se levantar os braços estalo ossos que nem sabia ter.

Deixo as malas na entrada e coloco o casaco nas costas da cadeira virada para a cama.

Todos os quartos de Hotel cheiram a estranho. Aquele odor e sensação de que estamos num local que não nos pertence... e eu sorrio, porque gosto disso.

Começo a desabotoar a camisa quando batem à porta. Andrew estava desejando um duche... a não ser que esteja sem água no quarto, não me parece que seja ele. Sophie também não o faria... Damn! Sorrio com o pensamento na rececionista. Ela não seria capaz...

Abro a porta com a camisa metade desabotoada e arrependo-me. Ela sorri-me. E eu conheço tão bem aquele tipo de sorriso.

― Esqueci-me de alguma coisa? – Pergunto-lhe.

Ela fecha a porta, avança e eu não me mexo. Para a milímetros de mim e o sorriso que não lhe larga os lábios denuncia que estou fodido.

Coloca as duas mãos abertas no meu peito e pressiona, empurrando-me. Não me manifesto contra. Sou assim tão fácil?

Recuo à medida que ela avança, mas a certo ponto finco os pés e agarro-lhe os pulsos, parando-a. ― Quarto errado.

Ela enruga a testa. ― Tens a certeza? – Pergunta, aproximando o seu corpo do meu. – Não foi isso que me pareceu...

― Vais para a cama com todos os homens que te aparecem à frente? – Rio. Afasto-me dela e abotoo novamente a camisa.

― Só com aqueles que também estão interessados.

Gargalho. ― Definitivamente, o quarto errado. – Mentira. Eu não me iria importar de a ter na cama... ou no chuveiro... ou mesmo contra a parede atrás dela. Ela é linda, seria mentira dizer que não seria uma boa aventura, mas é tão fácil que deve ser mais rodada que um banco no McDonalds, e eu quero dormir. – Vais sair ou vou ter de fazer queixa por assédio?

― Tens a certeza de que queres dispensar isto? – Pergunta, fitando-me com o rosto ligeiramente baixo, enquanto começa a desabotoar a camisa de cima para baixo, deixando visível o decote bem fornecido.

― Sai. – Interrompo serenamente. - A opção de queixa está em aberto.

Sob a ameaça que fiz ela sai, furiosa. Reviro os olhos. Emprego de sonho. Talvez não ponderem estes acontecimentos malucos.

Detenho-me no regresso para a cama onde pretendo deixar o uniforme para de seguida entrar no duche. Olho sobre o ombro direito para a porta. Devo preocupar-me com aquela maluca a entrar aqui enquanto estou debaixo do chuveiro ou a dormir?

Trono de Algodão - ContoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora