Marco.
Estou sentado no chão, encostado na parede. Ambos estão gélidos, mas é como se eu não sentisse alteração na temperatura, apensas sei. Meus pés e mãos, estão acorrentados. Tento abrir os olhos. Visto um avental todo branco, com o símbolo da Elite no meio. Típico.
Olho ao redor, é uma sala quase toda fechada. Há somente uma porta, e uma enorme vidraçaria, onde Celestia, Jass e um doutor, me observam. Frios.
- Você consegue se levantar. - A voz de Celestia afirma, distante.
Não ordeno que meu corpo faça algum tipo de movimento, mas automaticamente, levanto com certa dificuldade.
- O que está acontecendo?! - Indago.
- Agora respire pausadamente, dê um passo de cada vez, até chegar no vidro que nos separa. - Ela fala isso, com um tom de leveza.
Dessa vez, forço meu corpo a ficar estagnado na posição.
- Marco, venha! - Celestia sobe o tom. E inexplicavelmente, meu corpo obedece a anciã.
Dou passos pequenos, pausadamente. Apesar das correntes nos pés, continuo andando. Contra a minha vontade, meu corpo se move na direção ordenada. Chego no vidro. Estou de frente com Celestia e Jass.
- Viu? Você não está sobre meu controle, mas o seu corpo, está. - Ela chega perto do outro lado do vidro. - Não tem nada que você, ou seus amigos possam fazer.
Uma onda de raiva toma conta de mim.
- Senhora Celestia, o nível de adrenalina está subindo. - O doutor aparenta ter muito medo. - Quer que tome uma medida?
Ergo os braços e bato com toda força na vidraçaria. Uma pequena rachadura se forma na vertical. Apoio o rosto no vidro.
- Impressionante... - Celestia se afasta, indo em direção à porta.
- Celestia! - Jass tenta impedir.
- Fique ai, Jass. - A anciã entra pela porta. - Marco. Olhe para mim.
Meu corpo obedece. Fico de frente à Celestia.
- Você acaba de rachar um vidro, feito pra resistir a pressões inimagináveis. - Ela para a dois metros de mim. - Como se sente?
- Eu não sinto. - Respondo, incapacitado de mover. - Apenas sei, que estou mais forte.
- Fisicamente, está bem. Mas e o seu psicológico? - Celestia começa a me rodear. - Como se sente, sabendo que você falhou? Que tudo pelo que você lutou, está indo por água a baixo? Como se sente que você não foi o suficiente, pra salvar aquela laia que você chama de "Void"?
Essas palavras entram em minha mente, é impossível seguir lutando. Falhei. Falhei em deixar Jass à merce da Elite. Falhei em tentar desesperadamente, buscar uma solução para essa guerra. Caio de joelhos no chão.
- O que você quer de mim? - Olho para Celestia. A figura dela me causa repúdio, mas não aguento mais.
- Marco. Líder sênior do batalhão. Herói da Void. Caído em minha frente. - Ela se curva, e para com a boca perto do meu ouvido. - Quero que seu povo veja como o Líder deles é fraco.
Celestia se afasta e sai da sala. Permaneço de joelhos, mil pensamentos perturbam minha cabeça. Onde está o esquadrão? Será que estão em segurança?
- Levanta. - É a voz de Jass, ele está na sala. - Antes que eu tenha que ir ai te levantar.
- Jass... - Olho para ele. A farda da Elite ainda o cobre. Seus olhos apresentam um vazio. Ele ainda tem a espada nas costas. - Me perdoe.
- Você não merece meu perdão. - Ele se vira. - Não merece nem estar vivo. Mas como Celestia tem planos maiores, ela o quer inteiro. Sua cela fica no final do corredor, à esquerda.
Fico pensando no quão idiota fui. Arrisquei a vida de todos da Void. Fracassei na minha missão. Levanto com certa dificuldade, há dois guardas na porta, me esperando para conduzir à cela. Ando em direção à eles.
- Você está fraco, então, não tente nada. - O guarda da direita fala com arrogância.
- Fraco, por enquanto. - Olho em seus olhos por um instante.
Eles me conduzem por um corredor extenso, os detalhes em mármore polido, tomam conta de revestir as paredes.
- Chegamos. - O outro guarda abre a porta de minha cela. Sou jogado para dentro.
Estou morrendo. E a Void também.
ESTÀS LLEGINT
Rebellion - 1° Ato #CPOW
AccióEm uma sociedade repleta de desigualdades, a divergência perante a opressão da Elite sempre causou conflitos. Depois da Grande Guerra, o maior conflito armado já presenciado, os perdedores que sobreviveram, foram abandonados e confinados ao subsolo...