Capítulo 7. - Minha vida, pela de vocês.

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Rigel.
   Corremos em direção a explosão. Não sei exatamente o que houve, mas posso deduzir, que foi mais um bombardeio da Elite. E não duvido que tenha sido em direção ao vilarejo da resistência. São aproximadamente dois quilômetros de distância do local em que estávamos até o vilarejo, estamos bem perto. Já consigo ver as primeiras marcas de destruição. Prédios destruídos por completo, seguidos de edifícios abandonados e tomados pelo caos. Consigo ver inocentes e guerrilheiros em meio aos destroços. Alguns estão vivos, outros não tiveram a mesma sorte.
   - Arthur, Sandra, fiquem de olho ao redor, estamos em uma zona de guerra agora. - Por mais que meu esquadrão esteja treinado para estar em uma guerra, o perigo aqui é extremo. - Túlio, acompanhe esses jovens e tente resgatar o máximo de sobreviventes possíveis, estarei te dando cobertura. 
   Nos aproximamos de um prédio que está pela metade, as janelas estão sem vidro devido a explosão, adentramos em um beco mais próximo à direita, Arthur e Sandra ficam posicionados estrategicamente nas extremidades do beco. Túlio e eu acompanhamos os três jovens. Temos que resgatar os sobreviventes. 
   - Por aqui! - A menina mais velha fala, sinalizando para virarmos à esquerda em um cruzamento.
   No exato momento em que viramos, 2 guardas veem em nossa direção, instantaneamente, saco a arma, Túlio faz o mesmo, atiramos em fração de milésimos de segundos, abatemos ambos os guardas. 
   Continuamos procurando sobreviventes. Ao andar por mais alguns metros, avistamos o que seria restos de um hospital. 
   - Túlio, cuido do flanco esquerdo, tome cuidado. - Com toda certeza, há sobreviventes nesse local. Temos a obrigação de resgatá-los. 
   Avançamos com cautela. Procuro sinais de guardas da Elite, mas aparentemente, todos se foram. O hospital, ou o que sobrou dele, é bem simples. Um edifício com uma cor bem clara, beirando o bege. Há um acesso principal pela frente, entramos. Tomo cuidado em verificar o saguão principal, em seguida, as alas e leitos hospitalares. Encontro 2 sobreviventes na 2° sala à direita.
   - Estamos aqui para salvá-los. - Olho para as vítimas, são crianças. Uma aparenta ter entre 11 e 13 anos, a outra, por volta de seus 9 anos. São apenas crianças vítimas da Elite! - Não precisa ter medo, vamos cuidar de vocês. 
   Estendo a mão, as crianças ficam receosas, mas quem não ficaria? Por fim, elas decidem vir. Túlio continua a vistoria no local. Temos que encontrar o máximo de sobreviventes. 
   - Moço, vamos ficar bem? - A criança de 9 anos fala, puxando minha cintura para chamar minha atenção. Ela tem um olhar leve, um olhar de inocência.
   - Minha vida, pela de vocês. Eu prometo. - Bagunço o cabelo dele. Tento descontrair ao máximo. Temos que passar tranquilidade à essas crianças, o que não é uma tarefa fácil. A criança solta minha cintura, e volta aos outros sobreviventes. 
   Túlio volta da patrulha, 4 pessoas seguem ele. 2 Adultos e 2 jovens. Acho que é uma família. Mais uma família vítima dessa guerra hostil. 
   - Rigel, eles me falaram que há uma equipe de atiradores da resistência por aqui. Temos que ajudá-los. - Túlio parece cansado. Eu não culpo-o. Estamos em uma missão com um aspecto suicida, mas isso não deve nos abalar. Temos o dever de salvá-los. 
   Caminhamos de volta ao local em que Sandra e Arthur se encontram.
   - Já estava preocupada com vocês, meninos. - Sandra fala. Percebo que ela está segurando sua adaga, noto também que há 5 guardas caídos ao redor dela e de Arthur.
   - Tiveram uma companhia bem agradável, eu acho. - Túlio brinca.

   - Pena que eles não sabiam brincar de tiro ao alvo! - Arthur limpa sua arma. - Eu nem cheguei a entrar na brincadeira direito!
   - Conseguimos resgatar esses aqui. - Apresento os sobreviventes. - Temos que ir ao encontro de alguns atiradores da resistência, eles estão precisando de ajuda.
   - Vocês devem ficar aqui, voltamos já. - Túlio dá 2 pistolas aos adultos. - Já atiraram alguma vez?
   Eles assentem, balançando a cabeça.
   - Rigel. - A menina mais velha fala. - Tome cuidado, por favor, vocês estão entrando em um lugar que não conhecem. Vamos ficar aqui cuidando deles.
   - Tomaremos cuidado. - Olho para os membros da minha equipe. Já estivemos em situações bem piores. - Quando você chegar à Void, terá seu próprio esquadrão, sem dúvida nenhuma. Leva jeito pra isso.
   Vejo determinação nessa garota. Ela me lembra quando eu era mais pequeno. Sempre queria proteger os demais, dar a minha vida pelos outros.
   Andamos pelas ruas bombardeadas. Ouço tiros ao norte, e é para lá que vamos. No decorrer do caminho, percebo que Túlio está mais ofegante que o comum, mas decido não comentar nada. Vou protegê-lo, vou proteger meu esquadrão, afinal, eles são praticamente minha família. 
   Estamos bem próximos do local. Preparamos as armas. Andamos com cautela até a uma rua onde se forma uma cratera flamejante. Acho que foi aqui que uma das bombas caíram. Carros que estavam próximos ao impacto, foram arremessados ou destruídos por completo. Vejo um rapaz jovem correndo em uma rua após a nossa, ele tropeça e cai de cara no chão. Um guarda da Elite vem perseguindo-o, ele percebe que o garoto está caído, ele saca a arma e mira na cabeça do jovem. Imediatamente, pego minha arma e efetuo um único disparo, o suficiente para que o guarda fosse atingido e caísse no chão, morto. 

   O garoto está espantado, ele olha para nós com uma expressão de alívio, susto e curiosidade. 
   - Estamos com você. - Falo, me aproximando. - Levanta, temos que socorrer seus amigos.

   - Obrigado. - A voz dele soa exaurida. - Estamos sendo atacados de todos os cantos, fomos encurralados a 2 ruas daqui. Tenho que voltar para lá.
   Ele se levanta e damos continuidade à caminhada. Ao chegarmos ao local, nos encontramos em uma situação bastante delicada. Há guardas por todo o recinto. Os atiradores da resistência estão ajoelhados em fila, com suas mãos para trás e cabeças abaixadas. Dois guardas estão apontando suas armas para as cabeças dos capturados. Sinalizo para Sandra e Arthur cobrirem o flanco direito, Túlio deve vir comigo, assim, posso protegê-lo caso algo aconteça.
   São por volta de 20 guardas da Elite. Entramos em posição para atirar. Eles não nos viram ainda. Estamos abaixados e escondidos pelos entulhos e por uma carcaça de um carro. Me lembro da arma que Marco me deu, é uma boa hora para usá-la. 
   - Cuidado. - Gesticulo com a boca. Olho para cada um da equipe. São guerreiros preciosíssimos. - Fogo! 
   Abrimos fogo contra os guardas. Alguns caem imediatamente, outros se escondem atrás de entulhos. Adentramos na rua. O conflito é intenso, mais guardas chegam. Na medida que vão caindo, outros vão surgindo sabe-se lá de onde. Pego a arma que Marco me deu, libero o gatilho especial. Há um aglomerado de guardas no meu campo de visão pela direita, miro neles e atiro. Chega a comparar-se a uma obra de arte e destruição. Todos que estavam na mira, morreram instantaneamente. Me viro. Túlio não está comigo, muito menos com Sandra e Arthur. 

   - Rigel! - Ouço a voz dele. - Socorro!
   Ele foi pego pelos guardas, está sendo arrastado para longe. Tento ir atrás dele, porém, mais guardas chegam. Sandra e Arthur matam todos assim que possível. O conflito se cessa. Túlio foi capturado.
   Voltamos com os sobreviventes. Não consigo parar de pensar em Túlio. 

   - Rigel, não foi culpa sua. - Sandra tenta amenizar. 

   Continuo calado. 
   Estamos caminhando em direção à Void. Temos que dar abrigo a esses atiradores e civis. Ao nos aproximarmos do portão da Void, noto que há algo no muro. Algumas letras vermelhas e um corpo no chão. Corro para ver o que é.
   "Esse foi apenas o primeiro, logo mais, morrerá um por um." Essa é a frase que está escrita. Escrita com sangue. E o corpo no chão...

   - Meu Deus. - Minha voz falha.

   É o corpo do Túlio.

Rebellion - 1° Ato #CPOWWhere stories live. Discover now