Capítulo 10. - Chamado de socorro.

38 8 4
                                    

Soha. 
 
 Estou deitada na cama ainda. O sentimento de repúdio sobre o que aconteceu ainda toma conta da minha mente. 
   Os pesadelos estão se tornando cada vez piores, sem dúvida alguma. O último foi mais uma lembrança da noite anterior. Não consigo compreender tanto a sobrevivência dele, quanto a vinda dele à Void. Mas o que mais me deixa confusa, é a questão dele não ter nos matado. Ele disse que estaríamos mortos logo logo, e além disso, sacou a arma. Jass não nos matou por que não quis, e sim porque não conseguiu atirar em nossa direção. 
   Ouço batidas leves na porta do quarto.

   - Soha? - É a voz do Rigel. - Está acordada? 
   - Oi... - Minha voz soa um pouco sonolenta. - Pode entrar, está destrancada. 
   - Ainda na cama a essa hora? - Ele entra, rindo. 

   - Não repara, mas ainda estou com meu pijama. Seria fácil de levantar, se... - Minha foz falha.

   - Se sua cabeça não parasse de pensar no que houve na noite passada? - Ele se senta na beira da cama. - Melancia? Sério? - Ele se refere ao meu pijama, que tem estampas de pequenas melancias. 
   - Exato. Mas minha cabeça não tem colaborando tanto assim. - Tento esboçar um sorriso. - Algo contra melancias? 
   - Não! De jeito nenhum. Só achei um pouco fora do "padrão Soha". - Rigel mantém um olhar distante. 

   - Pombinhos, desculpa atrapalhar, mas estamos esperando por vocês na sala de reunião. - É a voz da Agatha, ela está perto da porta do quarto, provavelmente. 
   Olho para Rigel, em fim, consigo sorrir. 

   - Te espero no corredor. - Ele sai do quarto, me deixando mais a vontade para trocar de roupa e me arrumar. 
   Tomo meu banho, arrumo o cabelo em um pequeno "rabo de cavalo", visto minha roupa rotineira e saio do quarto. Rigel está esperando por mim, como disse. Vamos em direção a sala de reunião. Agatha, Sandra, Arthur e Marco estão nos esperando. Há um enorme mapa na mesa central.
   - Bom dia. - Marco está enfaixado na altura do abdômen, devido ao que Jass fez com ele na noite anterior. - Estamos prestes a entrar em uma guerra contra a Elite. O ataque de ontem foi a forma mais clara de nos apresentar isso.
   Todos assentimos.

   - Conseguimos estabelecer contato além da fronteira. Precisamos de reforços o mais rápido possível. - Ele continua, com certa dificuldade em respirar. - Há pontos de resistências, ao decorrer do território de guerra. Vamos nos reagrupar com esses resistentes, o mais rápido possível. 
   - Marco... Isso não é seguro. - Falo. - Ir lá fora, com a Elite praticamente nos caçando, é princípio de morte! 

   - Soha, faça o que você bem entender. Mas a Elite matará um por um se não fizermos algo!
   - E ir em um combate direto contra a Elite é a solução?! - Na verdade, eu tenho medo de perder todos eles... Já perdi Jass para a própria Elite, e Túlio também. Não quero perder eles também.
   - Tem uma ideia melhor? - Marco parece entender a minha preocupação. Ele tem razão em querer acabar com tudo isso logo. Mas precisamos planejar com mais cautela cada passo. 
   - Qual é o plano? - Sandra intervem. 
   - Temos os atiradores que resgatamos na última saída à superfície. Estava estudando o mapa, e percebi que há mais dois possíveis focos de resistência próximos a fronteira com a Cidade da Elite. 
   - Você não está pensando em ir lá. Certo? - Rigel parece não querer acreditar.

   - É exatamente isso que faremos. - Marco abaixa a cabeça, analisando o mapa. - Subimos em dez minutos. Comam algo. Preparem-se e chamem os outros membros da equipe. Isso é tudo.
   Todos saem da sala, menos Marco e eu. 

   - Você não vai se arrumar? - Ele brinca.

   - Marco, por que quer fazer isso? - Olho sério nos olhos dele.
   - Olha Soha, ou nós batalhamos, ou... 

   - Ou a Elite nos bombardeia de novo? É isso? Você está com medo?

   - Eu quero salvar essas pessoas. Não é medo!

   - Marco, isso é um genocídio! Seria a morte da Void! 

   - Se for pra morrer, vou morrer lutando. E não aqui sentado com os braços cruzados sem fazer nada! 
   Ele sai da sala, eu vou em seguida. Quero acreditar que conseguiremos batalhar contra a Elite, por mais difícil que seja. Vou até a sala de armamentos, me equipo rapidamente e já estou pronta para subir. Fico esperando no portão da Void. Rigel e Agatha chegam em seguida com suas equipes. 

   - Talvez, essa seja a missão mais difícil que enfrentaremos. Estamos indo em direção à Cidade da Elite. É um risco incalculável. Tomem cuidado.

   Abro o portão, saímos devagar. A essa hora do dia, não há guardas por aqui. Estranho. Caminhamos por longos minutos, sempre tomando o máximo de cuidado. Chegamos a uma parte da cidade, que me lembra meu antigo vilarejo. As casas padronizadas, agora já abandonadas, me lembram as antigas moradias da minha terra natal...
   Estamos nos aproximando cada vez mais da Cidade. Já consigo ver os muros que protegem o interior. Como uma grande fortaleza, a magnificência da Cidade, me intriga. 
   - Rigel, sua equipe fica com o flanco direito. Agatha, encarregue sua equipe de cobrir o flanco esquerdo. Soha, vem comigo. - Marco lidera como sempre. 

   Avançamos na formação designada como padrão. Consigo ter a compreensão de tudo que vejo. Os muros, cada vez mais perto... Mas onde está os pontos de resistência?! Algo está muito errado. Estamos em um campo semi-aberto, há alguns edifícios abandonados ao nosso redor, limitando alguns pontos de visão. 

   - Marco! Rigel! Não se mecham! - Agatha grita, talvez, no momento exato.
   Luzes vermelhas são direcionadas ao membros da equipe. Guardas nos cercam em questão de segundos. Todos fortemente armados. É uma emboscada.
   - Não saquem as armas! Fiquem parados. - Marco ordena. 
   - Olha quem resolveu aparecer para atender o suposto chamado de ajuda de um tal ponto de resistência. - Jass se revela em meio aos guardas. Ele porta apenas uma espada, e vem caminhando em nossa direção. - Tão previsível.
   - Bom trabalho, Jass. - Uma mulher, vestida toda de branca, segue o combatente. Ela mantém um sorriso frio, maléfico. Uma expressão que me parece familiar. 
   - Celestia! - Reconheço essa mulher! Foi ela que matou meus pais, quando a Elite invadiu meu vilarejo!
   - Sou famosa! Provavelmente você deve ser uma criança que teve a casa destruída, certo? - Celestia fala isso de uma maneira tão arrogante. Mas ela tem razão.

   - Já vi que se conhecem. Posso adiantar o serviço? - Jass empunha a espada, caminha em direção ao Marco e encosta a ponta da lâmina em sua garganta.
   - Calma Jass. Eles são meus prisioneiros. - A anciã parece não se importar de verdade. - Prendam eles! 
   Olho para Marco, ele parece não estar acreditando no que está acontecendo. Então é assim que acaba? Capturados? Eu não vou aceitar esse fim. Não para a Void.


Rebellion - 1° Ato #CPOWWhere stories live. Discover now