melancolia.

bailarina.

amar uma bailarina é como
amar algo que você nunca terá,
porque ela sempre estará no palco
e você sempre estará na platéia.
enquanto ela é uma infinita odisséia,
você nem é pura confusão e decepção;
enquanto ela é leve como uma pluma,
seu corpo é pesado até para você caminhar;
enquanto ela tem um sorriso genuíno
em seu rosto angelical,
você não consegue lembrar
qual foi a última vez que sorriu
de uma felicidade tão sincera;
enquanto ela consegue
se equilibrar sobre uma sapatilha de ponta,
você mal sabe
se manter de pé após acordar;
enquanto ela não precisa de palavras
para mostrar o que sente,
você não consegue dizer o que sente nem com todas as palavras do mundo;
mas enquanto o coração dela chora,
sua alma grita,
seus olhos imploram
e seus gestos emocionam,
você só observa.
você não faz nada,
senão assistir ao espetáculo.
você só fica sentado,
observando-a se aforgar
em sua alma que transborda
e superlota o teatro,
o mundo
e, principalmente,
você.

ela vai estar lá em cima,
deixando até a pessoa mais fria,
emocionada.
ela vai estar sentindo aquilo,
sendo aquilo.
ela deixará você
aos seus pés,
como seu mais sincero admirador.
à ela,
toda a sua devoção,
pelo seu esforço infinito
em se manter perfeita
a todo instante
independente do que aconteça.
a dançar sobre a dor
ao som de uma doce angústia.
ela vai estar impressionando,
encantando.
ela estará mostrando quem é.
e você só vai estar sentado,
apreciando a apresentação mais linda
que você verá em toda a sua vida.
e quando você se levantar e aplaudir de pé,
vai notar que nem isso é o suficiente
pra mostrar o quão incrível aquilo foi.
mas no fundo,
ela vai saber e não vai precisar disso.
quer saber por quê?
porque amar uma bailarina
é como amar algo que você nunca terá.
e eu nunca a terei,
por mais infinito que meu amor seja.
eu sou apenas o telespectador do espetáculo,
e ela...

ela é todo o espetáculo.