Capítulo 29 - É melhor acabar por aqui.

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- Não podes ir nas conversas desse pulha. – Falou a Beth, depois lhe contar sobre o William.

- Eu sei, conheço bem a peça. – Respondi.

- Ele já devia ter sido preso há muitos anos. – Murmurou a minha melhor amiga. A história dela com o William era antiga, tinham sido namorados, mas ele tentou coloca-la nos esquemas dele, e pode-se dizer que a coisa correu mal.

- Eu sei que não gostas dele.

- Claro que não gosto, ele quase estragou a minha vida e é muito perigoso. – Respondeu. – Eu tenho medo que lhe passe alguma coisa pela cabeça e que venha novamente atrás de mim. – Desabafou. Levantou-se do sofá e começou a andar de um lado para o outro. Ela está mesmo preocupada.

- Ele não é assim tão burro. – Respondi.

- Mas é louco.

- Já conversaste com o Peter? – Perguntei, apesar de já saber a resposta. O Peter tinha sido o amparo dela quando tudo se deu com o ranhoso do William, e só depois as coisas entre eles avançaram.

- Claro que não. – Respondeu, tal como eu previa. – Ele nem sonha que isto está a pairar na minha cabeça. – Confessou.

- Mas devias...

- Só ia criar uma discussão. – Interrompeu-me.

- Mas também pode evitar o pior. – Respondi. Sabia bem que nenhuma das minhas palavras a ia demover, apesar do medo que sentia pela filha, porque esse era realmente o receio dela, conversar com o marido era uma questão delicada.

- Eu sei, é a conversar que as pessoas se entendem, mas aqui é outra questão. – Falou. Eu continuei calada, dando-lhe espaço para ela pensar bem no que ia dizer. – Ele não quer sequer ouvir falar na minha antiga vida, e sinceramente eu percebo-o.

- Eu concordo com a tua saída, tinhas uma família, e isso está à frente de tudo na nossa vida, mas a pressão que ele fez não foi a melhor. – Nunca tinha escondido a minha opinião, nem mesmo do Peter.

- Às vezes só assim é que percebemos o que temos de fazer. – Respondeu-me. Era uma indireta para mim, mas não, eu não ia voltar atrás.

***000***

- Aqui estão as duas sopas. – Falei, pousando em cima da mesa os pratos. O restaurante estava calmo, bem mais calmo que o habitual, e percebi que o Niall estava preocupado com isso. Sorri ao casal de clientes, e regressei ao balcão.

- O que se passa contigo? – Perguntei.

- O movimento tem estado a diminuir. – Respondeu, fixando o seu olhar na sala.

- É fim do mês e as pessoas não têm dinheiro. – Respondi. Era normal que no final do mês a movimentação diminuísse, era verdade que nunca tinha ficado assim, mas devia ser algo passageiro.

- Assim nunca aconteceu Anna. Isto não pode continuar assim. – Falou, abanando a cabeça em tom negativo.

- Porquê?

- Pedi um empréstimo para reerguer este local, e tenho que o pagar, e neste momento ando a passar dinheiro de um lado para o outro. – Respondeu preocupado.

- Vais ver que vai melhorar. – Tentei animá-lo. Aquele restaurante era parte da vida da vida dele.

- Espero bem que sim, senão terei que fechar. – Falou, sem sequer olhar para mim.

- Isso não vai acontecer.

- Espero que tenhas razão.

***000***

- Estás num mundo paralelo? – Perguntei, atirando o Liam ao chão pela décima vez consecutiva.

- Estou distraído. – Respondeu, baixando a cabeça.

- A sério? Ainda não tinha percebido. – Respondi irónica. Ele estava distraído e eu sem paciência nenhuma. É melhor acabar por aqui.

- Desculpa.

- É melhor acabar por aqui. – Falei. – Mais vale perder tempo hoje e aproveitá-lo quando estiveres mais concentrado. – Informei.

- Tens razão. – Falou. Fiz-lhe sinal para se retirar e ele assim fez.

Fui também até aos balneários, tentando não me cruzar com o William, não me queria chatear e fazer alguma asneira que me viesse a arrepender mais tarde. Tomei um banho rápido e preparei-me para sair quando o meu telemóvel começou a tocar. Olhei para o ecrã e vi o nome do meu irmão. Mas o que é que ele quer?

- Sim. – Falei, atendendo a chamada.

- Tudo bem maninha? – Perguntou divertido.

- Estive a trabalhar. – Respondi.

- Estiveste até tarde no restaurante. – Comentou, e eu ri-me. Ainda não lhe tinha contado do meu novo emprego. Talvez seja melhor não contar... mas...

- Arranjei outro. – Acabei por contar.

- Aonde?

- A treinar o filho de um amigo. – Respondi. Não estava à espera de uma boa reação da parte dele.

- Tu o quê? – Questionou. – Espera que já falo contigo. – Murmurou. – Não estava a falar para ti Anna. – Esclareceu. O Harry deve estar ao lado. Esse pensamento assombrou o meu cérebro. O que será que ele está a pensar.

- Ouviste bem. – Respondi. – Agora tenho que desligar, vou conduzir. – Informei, preparando-me para sair do edifício.

- Tudo bem, falamos mais tarde. – Respondeu. – Até logo.

- Até logo. – Respondi, desligando a chamada.

Caminhei até ao carro e na minha cabeça só cabia o Harry. Tinha saudades dele, não tinha como negar, mas nunca o admitiria a alguém, muito menos a ele. Para o ter de volta teria que abdicar de muito, e de algo que não estava disposta a fazer pelo menos por enquanto. Talvez um dia, quem sabe. 

Porto de Abrigo||h.sOnde as histórias ganham vida. Descobre agora