- Não podes ir nas conversas desse pulha. – Falou a Beth, depois lhe contar sobre o William.
- Eu sei, conheço bem a peça. – Respondi.
- Ele já devia ter sido preso há muitos anos. – Murmurou a minha melhor amiga. A história dela com o William era antiga, tinham sido namorados, mas ele tentou coloca-la nos esquemas dele, e pode-se dizer que a coisa correu mal.
- Eu sei que não gostas dele.
- Claro que não gosto, ele quase estragou a minha vida e é muito perigoso. – Respondeu. – Eu tenho medo que lhe passe alguma coisa pela cabeça e que venha novamente atrás de mim. – Desabafou. Levantou-se do sofá e começou a andar de um lado para o outro. Ela está mesmo preocupada.
- Ele não é assim tão burro. – Respondi.
- Mas é louco.
- Já conversaste com o Peter? – Perguntei, apesar de já saber a resposta. O Peter tinha sido o amparo dela quando tudo se deu com o ranhoso do William, e só depois as coisas entre eles avançaram.
- Claro que não. – Respondeu, tal como eu previa. – Ele nem sonha que isto está a pairar na minha cabeça. – Confessou.
- Mas devias...
- Só ia criar uma discussão. – Interrompeu-me.
- Mas também pode evitar o pior. – Respondi. Sabia bem que nenhuma das minhas palavras a ia demover, apesar do medo que sentia pela filha, porque esse era realmente o receio dela, conversar com o marido era uma questão delicada.
- Eu sei, é a conversar que as pessoas se entendem, mas aqui é outra questão. – Falou. Eu continuei calada, dando-lhe espaço para ela pensar bem no que ia dizer. – Ele não quer sequer ouvir falar na minha antiga vida, e sinceramente eu percebo-o.
- Eu concordo com a tua saída, tinhas uma família, e isso está à frente de tudo na nossa vida, mas a pressão que ele fez não foi a melhor. – Nunca tinha escondido a minha opinião, nem mesmo do Peter.
- Às vezes só assim é que percebemos o que temos de fazer. – Respondeu-me. Era uma indireta para mim, mas não, eu não ia voltar atrás.
***000***
- Aqui estão as duas sopas. – Falei, pousando em cima da mesa os pratos. O restaurante estava calmo, bem mais calmo que o habitual, e percebi que o Niall estava preocupado com isso. Sorri ao casal de clientes, e regressei ao balcão.
- O que se passa contigo? – Perguntei.
- O movimento tem estado a diminuir. – Respondeu, fixando o seu olhar na sala.
- É fim do mês e as pessoas não têm dinheiro. – Respondi. Era normal que no final do mês a movimentação diminuísse, era verdade que nunca tinha ficado assim, mas devia ser algo passageiro.
- Assim nunca aconteceu Anna. Isto não pode continuar assim. – Falou, abanando a cabeça em tom negativo.
- Porquê?
- Pedi um empréstimo para reerguer este local, e tenho que o pagar, e neste momento ando a passar dinheiro de um lado para o outro. – Respondeu preocupado.
- Vais ver que vai melhorar. – Tentei animá-lo. Aquele restaurante era parte da vida da vida dele.
- Espero bem que sim, senão terei que fechar. – Falou, sem sequer olhar para mim.
- Isso não vai acontecer.
- Espero que tenhas razão.
***000***
- Estás num mundo paralelo? – Perguntei, atirando o Liam ao chão pela décima vez consecutiva.
- Estou distraído. – Respondeu, baixando a cabeça.
- A sério? Ainda não tinha percebido. – Respondi irónica. Ele estava distraído e eu sem paciência nenhuma. É melhor acabar por aqui.
- Desculpa.
- É melhor acabar por aqui. – Falei. – Mais vale perder tempo hoje e aproveitá-lo quando estiveres mais concentrado. – Informei.
- Tens razão. – Falou. Fiz-lhe sinal para se retirar e ele assim fez.
Fui também até aos balneários, tentando não me cruzar com o William, não me queria chatear e fazer alguma asneira que me viesse a arrepender mais tarde. Tomei um banho rápido e preparei-me para sair quando o meu telemóvel começou a tocar. Olhei para o ecrã e vi o nome do meu irmão. Mas o que é que ele quer?
- Sim. – Falei, atendendo a chamada.
- Tudo bem maninha? – Perguntou divertido.
- Estive a trabalhar. – Respondi.
- Estiveste até tarde no restaurante. – Comentou, e eu ri-me. Ainda não lhe tinha contado do meu novo emprego. Talvez seja melhor não contar... mas...
- Arranjei outro. – Acabei por contar.
- Aonde?
- A treinar o filho de um amigo. – Respondi. Não estava à espera de uma boa reação da parte dele.
- Tu o quê? – Questionou. – Espera que já falo contigo. – Murmurou. – Não estava a falar para ti Anna. – Esclareceu. O Harry deve estar ao lado. Esse pensamento assombrou o meu cérebro. O que será que ele está a pensar.
- Ouviste bem. – Respondi. – Agora tenho que desligar, vou conduzir. – Informei, preparando-me para sair do edifício.
- Tudo bem, falamos mais tarde. – Respondeu. – Até logo.
- Até logo. – Respondi, desligando a chamada.
Caminhei até ao carro e na minha cabeça só cabia o Harry. Tinha saudades dele, não tinha como negar, mas nunca o admitiria a alguém, muito menos a ele. Para o ter de volta teria que abdicar de muito, e de algo que não estava disposta a fazer pelo menos por enquanto. Talvez um dia, quem sabe.
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Porto de Abrigo||h.s
FanfictionAnna nunca teve uma vida fácil, desde pequena que lutou para ter o que queria. Vive com irmão, Ben, que é a sua força de viver. Dividida entre o irmão e os poucos amigos que tem, esquece-se muitas vezes de si. Anna prefere manter uma distancia cons...