Capítulo 3

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"Por falar das rosas lembrei-me dos espinhos, pois não há perfeição que não gere sofrimento."

 Começou a chover e eu da janela observava as gotas que batiam no vidro e escorregavam até o batente. Daí o céu enegreceu e as nuvens ficaram densas, um frio repentino surgiu em torno de mim e a chuva ficava cada vez mais forte. O barulho que fazia a chuva ao encontrar com o telhado me fazia pensar que a qualquer hora tudo desabaria. Fiquei co medo, me encolhi num canto do quarto e me escondi embaixo do edredom. Naquele momento aquele lugar parecia ser o mais seguro do mundo. Subitamente ouvi gargalhadas, um vozear de alegria que vinha do lado de fora. Me perguntei: - Como alguém pode está sorrindo em um temporal como esse? Como pensar em ir para rua com toda essa água?

Fiquei curiosa para saber quem eram os loucos audaciosos e para meu espanto ao ver da janela de deparei com crianças. Pequeninas crianças brincando na chuva de dezembro. Eles riam, pulavam nas poças de água, caiam ao chão, com a lama melavam uns aos outros e se divertiam. Por um instante esqueci-me dos medos e fui ao encontro deles. Quando as primeiras gotas caíram sobre mim, fechei os olhos e ergui a cabeça aos céus e foi como se todo universo tivesse parado junto comigo para viver aquela parte da história. 

Rodopiei, sorri, abri meus olhos, chorei e estava feliz. Depois sentei no chão perto da minha roseira e fiquei a admira-la. Estava tão linda e havia crescido muito desde  ultima vez que a vi. E para falar a verdade fazia tanto tempo que eu não saia para fora. Agora eu estava ali, parada e observando quanta coisa pequena e ao mesmo tempo grande estava ao meu redor e por tanto tempo eu não dava valor.

Uma garotinha de sorriso estonteante veio em minha direção e pôs as mãos sujas de lama em meu rosto as deixando carimbadas em minhas bochechas. Eu sorri e ela me falou:

- Tia, a senhora deveria sorrir mais vezes. Sabia que seu sorriso é lindo igual ao meu? 

Sorrir? Mas eu já não tinha motivo para viver sorrindo. 

Mas agora tudo era mais simples e meus olhos se abriram. Vi que faz muito tempo que tenho plantado rosas com expectativas de que nasçam sem os espinhos. Com tudo, o mundo não funciona assim, pois até mesmo elas, as rosas, precisam ser lembradas de que sua beleza causa dor aos descuidados. Seus espinhos, por mais belas que elas sejam, sempre as acompanharão,sempre causaram agonia a quem neles se espetar.

Não há perfeição.

Até aquilo que se julga perfeito causa padecimento. E porque nós queremos ser tão perfeitos? Humanos somos e humanos seremos e nossa busca a perfeição gera sofrimento.

AcordarWhere stories live. Discover now