Café da noite

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Que sono...

Eu nunca gostei de viajar para outros países, principalmente aqueles cujo clima é bem distinto do local onde nasci. Qualquer mudança, seja ela abrupta ou mesmo gradativa, afeta minha saúde e, consequentemente, põe em risco todo meu país. No geral é possível realizar meu trabalho de maneira remota, todavia, aquela tarefa não seria corriqueira, por isso, e infelizmente, tinha de estar presencialmente no país onde minha atenção deveria estar focada.

Não se preocupe, antes que o questionamento surja deixe-me aplaca-lo de sua mente.

Eu sou um investigador a serviço da coroa britânica, ou melhor dizendo, eu sou "o investigador" a serviço da coroa britânica. E estou nesse país para realizar aquela que pode ser a missão mais importante da minha vida; encontrar, e capturar, o assassino de aluguel mais perigoso do planeta terra.

Não discorrerei muito acerca deste sujeito, por hora basta você saber que o mundo se divide quando o assunto é ele; alguns o chamam de herói, outros de terrorista. Eu, por outro lado, o vejo como alguém que tem uma visão ligeiramente deturpada do que é a justiça.

Existem muitos fatores e pessoas que devem ser levados em conta nesse caso; políticos, grandes empresários, pessoas próximas a mim etc... Ainda há muita coisa a ser preparada antes que os primeiros passos em direção ao meu alvo, possam ser dados. Inclusive eu poderia começar agora.

Mas...

Eu estou com sono.

Não faz muito tempo que desembarquei nesse país, na realidade estou com a mesma roupa com a qual cheguei. Durmo apenas uma hora e vinte e cinco minutos por dia, descanso esse que deveria ter sido iniciado a vinte e sete minutos atrás.

E eu estou com sono.

Uma das coisas que me fazem sentir muita raiva de viajar é o famoso jet leg, aquela sensação maldita de sonolência que sentimos ao passarmos de um fuso horário para outro. Uma pessoa deveria ter me encontrado em um local estratégico e eu deveria estar dormindo em seu carro agora, mas ela se atrasou.

Por isso estou aqui, tomando um frapuccino em uma cafeteria que tem origem inglesa. Preciso me manter acordado até que meu contato/carona chegue até esse shopping.

Um café da noite...

Pode parecer estranho pensar que pessoas iriam a um café em plenas vinte horas, todavia, esse lugar está relativamente cheio. Pessoas entram, pessoas saem... Todas elas com seus caminhos e objetivos próprios a serem seguidos. Eu bocejo e sinto que meu corpo precisa descansar, assim sendo eu me acomodo em uma mesa, cuja apenas uma cadeira existe, e passo a sorver goles lerdos da bebida açucarada e aguada que foi comprada por um preço que julgo ser demasiadamente alto para os padrões desse país.

Cinco minutos se passam e alguns dos clientes da cafeteria, ao menos o sque me precederam, já se retiraram, entretanto percebo que, em uma mesa bem em frente à minha, uma mulher esperava pacientemente algo, ou alguém.

É, eu não posso evitar...

Sempre que quero me distrair eu observo as pessoas, julgo ser uma forma de terapia barata que também serve de treino para meu ofício de investigador.

Você pode até achar que não, você pode até imaginar que é loucura da minha mente, mas não é... Todas as pessoas têm algo a contar, mesmo que não digam nada.

CONTOS: Histórias de universos em construçãoWhere stories live. Discover now