Capítulo IX

562 36 0
                                    


Ignoro o chamado do celular e fecho os olhos tentando me desconectar do mundo, a cabeça parece que vai explodir, uma dor aguda me deixa completamente encolhida entre os lençóis me perco no silencio do quarto, mas não dura muito. Gabi entra chorosa no quarto acompanhada por Lucas que mantinha uma expressão séria, meu coração começa a bater de forma descompassada, há algo errado e pela tensão em seus rostos eu vejo que não vou gostar. Gabi senta ao meu lado e logo me abraça enquanto Lucas suspira procurando as palavras certas. O peito trava já prevendo o que aconteceu.

–Leninha... Ligaram do hospital...

–Lucas, por favor, não...

–Precisamos ir Helena, o tio Olavo teve uma parada cardíaca!

–Ele está...

–Não, mas seu estado é critico! O Dr. André pediu que fôssemos pra lá, ele quer conversar conosco.

Não vi nem ouvi mais nada, estava no modo automático, lembro apenas de ter pego a bolsa em seguida já estava no carro avançando os sinais em direção ao hospital, Lucas ficou louco quando entrei no carro e Gabi quase histérica só teve tempo de se alojar no banco do carona, por mais que Lucas me mandasse parar o carro para assumir a direção mais eu pisava fundo com uma única coisa em mente: preciso pedir perdão ao meu pai. A última coisa que lembro foi de ter estacionado na vaga de uma ambulância deixando a chave na ignição, não ouvi os protestos de Lucas atrás de mim, apenas segui para o corredor que dava acesso ao quarto dele, as pernas já estavam dormentes as lagrima corriam sem meu consentimento e a mente viajava para uma época boa na minha infância, uma época em que eu não conhecia a dor, o sofrimento, a perda, não conhecia o arrependimento nem o significado das palavras que ouço quando estou na cama com meus clientes. Mais lágrimas descem em enxurrada, a visão nublada e os batimentos acelerados não me deixam assimilar nada coerentemente. No corredor vejo o Dr. André conversando com alguém que está de costas pra mim e que não consigo ver o rosto, mas que mesmo assim sinto meu coração descompassar de uma forma estranha. Não precisei esperar que se virasse, eu sabia que era Raphael só não sabia o que ele estava fazendo ali conversando com o médico do meu pai. Logo que me vê ele emite um gemido baixo. Saudade, dor, frustração e um amor gigantesco me impedem de falar até o Dr. André quebrar o silêncio constrangedor que se formou entre nós, Lucas e Gabi rapidamente se colocam ao meu lado me amparando, Raphael também se aproxima, mas Lucas o repreende com o olhar e ele se afasta um passo, seus olhos nunca deixando os meus, sinto uma vontade enorme de me jogar em seus braços, mas não consigo me mover, meus pés parecem presos ao chão, Dr. André me olha também solidário escolhendo as palavras certas para falar o que no fundo eu já sei. Ele mal abre a boca e eu me desfaço num choro compulsivo.

­–Sta. Helena o caso do seu pai é bastante delicado, ele sofreu uma parada cardíaca nessa madrugada. A reanimação foi bastante complicada, mas conseguimos manter seus batimentos. Preciso que entenda a seriedade do estado dele, nossa equipe médica esta fazendo o melhor, mas tenho que ser sincero...

É nessa hora que meu coração praticamente para. Sinto o olhar angustiado de Raphael em cima de mim como se já soubesse o que Dr. André vai dizer.

–Talvez ele não resista até amanhã!

–Deus não...

–Sinto muito ter que dizer isso!

A sensação de vazio me sufoca a dor da perda nunca foi tão assustadora, embora eu soubesse que a qualquer momento eu receberia a inevitável notícia. Lucas me abraça e Gabi chora baixinho ao seu lado.

–Eu posso vê-lo?

–Ele está entubado, mas vou deixar que o veja!

–Obrigada Dr. André... Por tudo o que fez por ele!

O ContratoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora