Capítulo VIII

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Dor, medo e frustração me definem agora. Volto pro quarto e o silêncio me sufoca, o vazio me desola. A cama parece ter o dobro do tamanho e o cheiro dela me queima a alma. Deito-me ciente de que não vou conseguir dormir, quero dizer que sempre fiz amor com ela mesmo não admitindo no começo. Eu sempre a quis, sempre a desejei e agora que a tenho não consigo mantê-la por perto. Levanto inconformado e me sirvo de um whisky duplo, depois que me envolvi com Helena tenho bebido mais do que eu gostaria, de certa forma ele me ajuda a pensar com mais clareza. Passo pela porta fechada e repenso a decisão de entrar, ela pediu pra ficar só e eu não posso lhe negar isso, não depois do que eu fiz. Vou para a sacada e encosto no parapeito, a madrugada está fria e o cheiro dos jasmins toma conta do ambiente, ela estaria aqui comigo agora se eu não fosse um completo idiota. Não sei quanto tempo eu passei ali, me sentia anestesiado e quando dei por mim o dia estava amanhecendo. Tenho uma reunião importante, mas não sinto a menor vontade de sair de casa. Nunca fui de delegar minhas obrigações principalmente quando se refere à empresa. Minha vida nunca mais foi a mesma desde que Helena entrou nela, na verdade desde que eu a obriguei a fazer parte dela. Sou o único culpado e tenho que arcar com as consequências da minha prepotência. Eu a quis e a forcei a me aceitar por puro ego. Sinto-me cansado mentalmente e a cabeça lateja como o inferno, mas me obrigo a levantar e enfrentar o dia vou até a cozinha e a vejo mexendo na cafeteira, meu coração trava e murmuro um bom dia ansioso ela responde sem se dar o trabalho de me olhar e essa indiferença me deixa furioso. Esperava outra discussão, mas não ser ignorado. Tomo um banho rápido e me visto para ir pro escritório, sou uma massa compacta de sensações estranhas, uma mistura de emoções que não acostumado a lidar. Vou até a cozinha tentar pelo menos um diálogo civilizado, o cheiro de café fresco se mistura ao cheiro doce e embriagante de sua pele, quando não é de frutas vermelhas é de jasmim e ambos me deixam louco como se combinassem apenas com ela. É uma péssima hora pra se ter uma ereção, mas o maldito tem vontade própria. Ela me dá as costas e vai para a varanda com uma xicara nas mãos, mais uma vez sou ignorado e isso eleva meu humor a negríssimo. Cacete, essa mulher vai acabar com a minha sanidade. Saio sem olhar pra traz batendo a porta com força rezei baixinho para não encontrar o Diogo no elevador porque juro que o jogaria pela janela em dois tempos. Dirijo até o escritório quase que no automático, e foi assim com todas as obrigações do dia, minha secretária estava a ponto de um colapso nervoso e todos os funcionários mantiveram uma distancia segura de mim. Me senti péssimo por isso, mas não conseguia evitar querer esganar alguém pelo simples fato de respirar. Recebi a ligação da minha mãe cobrando explicações sobre minha relação com Helena, certamente o Augusto já tinha falado sobre ela. Minha mãe é uma mulher ligada a tradições e evita ao máximo qualquer tipo de escândalo, mas me surpreendeu ao dizer que o passado de Helena não importava, mas o caráter dela e suas atitudes a partir de agora, lhe contei o que havia acontecido entre ela e Augusto e pela primeira vez em minha vida ouvi minha mãe falar um palavrão, ela ficou furiosa como a violência sofrida por Helena ter sido facilmente abafada em troca de dinheiro. Mas uma coisa era certa; ele jamais faria isso novamente com ninguém, minha mãe usou de sua sólida influência no meio politico e eu no meio empresarial, bastaram duas ligações para o infeliz ter muitas portas fechadas, estava determinado a acabar com todas as chances dele conseguir se dar bem. O dia pra mim passou em câmera lenta até a volta pra casa. Chego irritado com mais duas reuniões sem resultados, a cabeça parece que vai explodir e eu suspiro derrotado, abro a porta e a vejo sentada no sofá de banho tomado, com um conjunto minúsculo de short e blusa, o notebook descansa em seu colo enquanto ela lê algo que parece ser interessante, não me olha ao responder um "boa noite" sem graça, me sinto ridículo como um adolescente, sem assunto e sem coragem de fazer o que eu realmente quero. Passo várias vezes por onde ela está e a cachorra teimosa continua na mesma posição, me ignorando completamente. Vou contrariado pro banheiro e tomo um banho frio torcendo para que a água leve embora todas as frustrações do dia, o cansaço toma conta imediatamente do meu corpo e decido tomar uma dose de whisky para finalizar a porra do dia. Volto para a sala com a toalha enrolada na cintura e Helena continua com o notebook no colo atenta a alguma pesquisa e nem por um momento me dirige a palavra, sei que ainda está irritada por eu ter xeretado suas mensagens. Declaro-me culpado com direito a cadeira elétrica e tudo mais. Fui invasivo e não respeitei sua privacidade, a agora estou com uma mulher linda seminua sentada no meu sofá que está deliberadamente me ignorando. A porra desse dia não acaba nunca? Respiro fundo encostando a cabeça no sofá, fecho os olhos e me concentro no repertório que ela tinha colocado no sistema de som. Christina Perri, Demi Lovato, Adele e Ed Sheeran se encarregam de tornar minha noite ainda mais miserável. Sinto um bolo rasgando minha garganta e me recuso a abrir meus olhos e encarar a mágoa que sei que estão nos seus olhos, o silêncio dela me dói e eu não aceito outra noite sem sentir seu corpo contra o meu. Mas não posso força-la a dormir comigo. Inferno!

O ContratoWhere stories live. Discover now