Acordei com a cabeça doendo. Isso acontecia quando eu ficava chorando até tarde. Quando finalmente me levantei, escovei os dentes e amarrei o cabelo em um coque desleixado. Abri a porta do guarda roupas e fiquei encarando as roupas esperando elas se escolherem e me vestirem sozinhas. Claro que não aconteceu, então eu simplesmente fechei a porta e fui pra cozinha. Estava usando uma camisa branca que batia na metade das minhas coxas e uma calcinha. Me processem.
Em cima do balcão da cozinha tinha um buquê de flores. Olhei para o vaso e fiz uma careta.
- Pode tirar essa careta da cara. - Alex que estava mexendo o café sentado na mesa me assusta. - São pra você.
Ah não, não mesmo. Vocês mulheres que gostam de flores, por favor parem. Flor você ganha hoje, no outro dia murcha. Flor é caro. Com essa grana dá pra pagar vários lanches. Reflitam.
Vejo meu celular vibrando ao lado do vaso e quando vou pega-lo, ele para. Uma ligação perdida do Caleb. Dou de ombros e retorno.
- Oi, você me ligou? - pergunto quando ele atende.
- Liguei sim. - resmunga do outro lado.
- E o que você queria? - olho minhas cutículas, preciso ir na manicure urgentemente!
- Ampliar sua foto do WhatsApp. - ele responde me fazendo rir. - Não, sério agora. Recebeu minhas flores?
- Foi você? - arregalo os olhos.
- Tecnicamente sim.
- Tecnicamente?
- Pedi pra seu irmão comprá-las pra mim. A gente sente a sua falta. - ele fala me fazendo sorrir.
- Só voltei a dois dias Caleb!
- É, mas você sabe que a gente gosta muito de você. - não é Caleb que me responde.
- Eu sei disso Clara! Mas vocês podem vir me visitar e sabem disso.
- O Caleb não pode ir, ele tá noivo! - ela ri.
- Mentira! Eu saio por dois dias e ele fica noivo? Haha. Caleb, cuide bem da Annie, ela merece. - sabia que estava no viva-voz.
- Julia depois a gente te liga de novo, o Caleb vai conhecer a família da noiva. - ela ri novamente. "A família da noiva" era um filme que vivíamos assistindo. - Ouvi dizer que ela tem um primo de terceiro grau que é um gato!- ela sussurra, acho que para o Caleb não ouvir. - Bye bye!
Coloco o celular de volta no balcão e abro a geladeira pra pensar. Atire a primeira pedra quem nunca abriu a geladeira e esqueceu o que ia pegar.
- Imagina se em algum universo paralelo você tá de boa aí chega a geladeira abre a porta de seu quarto, fica olhando por uns segundos e sai. - Alex comenta mordendo um pão com manteiga.
Franzo o cenho e encaro meu irmão gêmeo-não-idêntico.
- Você tem problemas. Tipo, SÉRIOS. - ri.
Quando Alex vai me responder, batem na porta.
- Você abre. - falo rápido.
- Porque eu? - ele briga. Aponto para o meu corpo e arqueio a sobrancelha. Alex me mostra o dedo do meio e vai abrir a porta.
Me sento e pego um pão. Alguns minutos depois a cozinha é invadida pelos meus amigos.
- Porque bateram na porta hoje? - Alex vem atrás resmungado. Acho que alguém está de TPM.
- Porque agora você mora com uma garota, Alex. Vamos respeitar esse espaço. - Calango se joga na cadeira a minha frente.
- Na verdade foi só porque o Cellbit pediu mesmo. Pk responde se apoiando no balcão.
- FLOORES. - Gabs anuncia. - De quem você ganhou? - me encara.
- Clara me mandou. - dou de ombros.
- Caleb na verdade. - Alex tira a xícara de café da minha mão e bebe.
- Ele tá desesperado? - Rafael me encara.
- Na verdade, ele tá noivo. - sorrio de canto enquanto dou uma tapa na mão do meu irmão e pego a xícara de volta.
- Graças a Deus nós de humanas não sabemos contar quantas derrota nós tivemos na vida. - Guaxinim muda de assunto, enquanto pega um copo com água.
- Do que tá falando? - pergunto.
- Guaxinim teve um encontro quando saiu daqui ontem. - Sayu ri.
- Sério? - Olívia se mete. - E como foi?
- Foi ótimo, tá legal? - ele resmunga. Encaramos ele, Guaxinim não funcionava sob pressão. - No começo. Foi tudo ótimo no começo. - ele solta. - Tava tudo muito legal, mas aí no meio do filme ela fala "eu costumava assistir esse filme com os meus amigos quando era homem" - ele faz aspas com a mão e imita terrivelmente uma voz feminina. - Vocês sabem, eu não tenho nenhum problema com isso. É só que como vou apresentar ele ou ela para os meus pais? - ele parecia chateado. - Esse aqui é o Marcos, mas agora ele é Marina? - pergunta nos fazendo rir. - Minha vida tá tipo aqueles lençóis de elástico, não consigo arrumar de lado nenhum não.
- O demônio vem em forma de Tinder pra nos testar. - Maethe sussurra com uma voz assustadora.
- Olha Guaxi. - tentei prender o riso. - Sabe a Clara? Ela tá vindo para o Brasil qualquer dia desses e acho que vocês se dariam bem. Me passa seu celular. - peço. Entro no Facebook e vou no perfil da Clara abrindo a última foto postada. - Aqui. - entrego o celular.
- Uau. - ele fica encarando a foto pelo que parecia ser a eternidade.
- Curte logo isso, tá me dando agonia. - Alan resmunga.
- Pra que eu vou curtir a foto se eu já fiquei meia hora olhando pra ela? Se isso não já não é curtir, meu filho então não sei o que é. - ele rir e manda solicitação de amizade. - Acha que ela vai gostar de mim?
- Claro que vai! - respondo.
- Hoje em dia as pessoas gostam de qualquer porcaria Guaxinim. - Rafael resmunga.
- Nossa. - Guaxi coloca a mão no peito dramatizando. - Nem sei porque eu ainda sou amigo de vocês. Vou até sair daqui. - ele continua saindo da cozinha.
- Nas circunstâncias atuais, acho que a melhor saída é a do planeta terra. - Gabs ri.
Alguns segundos depois, ouço a porta da sala bater.
- Pesado. - rio e termino de tomar meu café da manhã.