#35

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Assim que viro novamente para a porta, na esperança de ser apenas uma alucinação, Felipe me olhava como se implorasse por calma.
Não sou a pessoa mais apropriada para esse pedido, mas vamos tentar... certo?

- Olá, família! - July diz puxando uma cadeira na mesa ao lado, e se sentando conosco.

Ela continuava do mesmo jeito, sua voz era perturbadora. Foi um alívio tão grande não ter tido o infortúnio de tê-la visto nesses últimos anos... mas cá está ela novamente.

- o que está fazendo aqui? - Felipe diz com cansaço.

- e como sempre, sou bem recebida não é, priminho? - ela diz incomodada - bom... eu estava passando por aqui e reconheci o seu carro. Resolvi passar para cumprimentar meu primo mais... - ela me olha com provocação - ... dotado... - completa.

1...2...3... ah quer saber? Foda-se!

- então flor, como pode ver, há muitas mesas vagas aqui. E se não for indelicadeza da minha parte, estamos em um jantar de família, e como já percebeu, você não faz parte dela! - digo tentando controlar o volume da voz.

- ah... Então essa é a famosa Tena - ela diz se aproximando da minha filha.

Pego a faca que estava ao lado do meu prato, e aponto para o seu braço.

- se afaste da minha filha, ou essa faca será cravada no seu braço e depois nos seus dois olhinhos - ameaço sem tirar o sorriso do rosto para não atrair atenção das demais pessoas ao redor.

- vocês duas, se acalmem. Isso não é hora e nem lugar - Felipe diz já começando a ficar bravo - por que raios você está aqui, July?!

Bem, vou entrar em detalhes. Na noite em que eu fui raptada, escutava risos e murmúrios femininos, e eu os reconheceria em qualquer lugar. Mas infelizmente, July sumiu do mapa antes de Felipe ir me salvar. Já contei essa história para Felipe, e se levarmos essa situação para o conselho, precisaríamos de mais provas do que as minhas palavras. Minha outra suspeita era que fosse Tânia, mas depois pareceu improvável. Não quando se tem July do lado.
Max simplesmente não foi para o conselho, porque as bruxas estavam envolvidas. Lembra a morte de Luana? Então...

- não sei porque você me odeia tanto...- ela diz se fazendo de magoada.

- não sei porque você força tanto a barra para se meter em assuntos que não são da sua conta...- rebato me encostando no encosto da cadeira.

- mamãe, podemos cumer agola? - Athena finalmente se menciona impaciente.

- own... cuidado com a comida amorzinho, você pode engordar e ficar igual a...- ela olha para mim - ...uma vagabunda que conheço...- completa dando uma risadinha.

- não dirija a palavra a minha filha, sua meretriz repuganante - digo sentindo meus olhos mudarem de cor.

- vamos para a alcatéia, agora!-  Felipe diz se levantando e fazendo um sinal para o garçom.

- eu aceito o convite! - ela me olha cínica.

- mas o seu pedido já está vindo, senhor! - o garçom argumenta.

- temos assuntos maiores - Felipe explica suspirando fundo.

-papai, e as minhas jujubinhas...- Athena fala manhosa.

- por céus Athena! Pare de pensar em doces! - Felipe a repreende.

- mas...- ela tenta argumentar.

- calada, Athena!- digo perdendo a paciência.

Athena se cala, e vai o trajeto inteiro em silêncio, sem emitir algum som ou murmúrio.
Olho pelo retrovisor, e vejo a vadia no carro de trás. Nem um pouco chamativo. Uma mercedes rosa com algumas rosas na roda, que coisa mais ridícula...

Num dia chuvosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora