❝You're into drugs and I'm into you, maybe one day I can become something you're addicted to ❞
[só e apenas]
T E X T OAcendo o cigarro, inalo e expiro o fumo de forma a que possa entrar e sair do meu sistema. Repito o mesmo processo 1,2,3 vezes...
A tua silhueta turva surge na minha mente e com ela todas as nossas memórias. As tuas gargalhadas fazem-se ecoar nas paredes dos meus ossos e cada partícula recebe uma pancada suave, porém contínua. Uma vez, tu disseste-me que eu não deveria fumar devido à minha asma e eu juro que só o faço quando tu cismas em colidir nas partes mais escuras da minha mente depressiva.
Tu disseste-me que eu não deveria fumar e eu não o fiz.
Durante algum tempo...
Porque tu preocupavas-te com a minha saúde, saúde essa bem inexistente agora. Tu seguravas-me naquelas noites e dizias sem cessar para eu apenas não fumar. Num espaço de cinco segundos foram três as vezes que tu disseste-me para não fumar.
Eu abraçava-te vigorosamente e tudo parecia ficar melhor. O céu por mais estúpido que pareça ficava mais limpo, os meus pulmões, as tuas palavras, os carros na avenida, nós.
1, 2, 3.
Foram três as vezes em que eu fumei quando tu mencionaste o nome dela e eu, desolada, chorava e tentava convencer-me da forma mais subtil e menos cruel o quanto gostavas de mim, mas ela iria sempre permanecer no teu coração e mente. Eu lembro-me bem que ri de ti nessa exata hora porque invertemos os papéis de forma hilariante. Tu magoaste-me enquanto choravas e eu ria porque finalmente as coisas pareciam encaixar-se. Eu nasci para colidir, eu nasci para ser alvo de gozo e para o jogo que participamos e eu perdi. Tu, tão mau quanto a nicotina estagnada nos meus pulmões e nos teus, mostraste-me o paraíso e o inferno simultaneamente.
1, 2, 3.
Eu acho que nunca cheguei a contar-te, mas eu chorei a noite inteira por três dias depois do nosso adeus. Parecia que estavas a esvaziar-te do meu corpo e eu não podia permitir que fosses embora daquela forma tão dolorosa. Sei que o fim mostrou-nos mais sobre, quem somos do que, como fomos juntos. Apesar de tudo, creio que precisávamos disto. Eu precisava disto na minha vida, eu precisava conhecer-te para entender a mim mesma e perceber que, mesmo que eu sempre desapareça, eu continuo a existir, aqui. Assim como tu continuas a rir e a fumar. Eu já não fumo, mas a asma continua a matar o que restou.
1, 2, 3.
Tu foste o meu vício e eu, a mártir para o nosso caos.
― sara
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AMARGURA
PoetryAqui estão relatos sinceros sobre o mundo que me rodeia. Aqui exponho todos os meus demónios e as razões pelas quais sou desta forma. Não me julgues porque tu vais conhecer-me melhor que ninguém, mesmo sem querer, e eu vou expor-me de forma a que po...