Capítulo 8

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Tadayoshi virou a espada de lado lentamente, mostrando a Ei os dois lados da lâmina, tão polida que a menina conseguia ver seu reflexo.

— Está preparada?

Ei se forçou a tirar os olhos da espada e prendeu a respiração quando viu o rosto dele. Não tinha nada do Tadayoshi de sempre agora.

— Está preparada? — ele perguntou de novo.

Respirando fundo, ela levantou o braço e fechou o punho tão forte que a mão perdeu a cor. Mesmo assim ela ainda tremia. Esse é o primeiro passo, Eiko, ela disse para si, tentando se acalmar. Mas quando Tadayoshi encostou o metal gelado contra sua pele, a respiração dela ficou pesada. Ela precisou de toda sua determinação para não puxar o braço de volta.

— Está com medo? — Ei segurou o impulso de dizer não. Ele vai saber... Ela conseguiu balançar a cabeça um pouco. — Bom — ele disse e sem avisar, puxou a espada.

Mesmo sabendo que que viria, Ei gritou. Ela mordeu os lábios, mas sua voz ainda ecoou entre as árvores. Durou apenas um instante, mas a dor não desapareceu, mesmo depois de Tadayoshi limpar o sangue, colocar a pasta amarela que Ei preparou antes e enrolar com um pano.

— Lembre dessa dor, Ei — ele disse, olhando nos olhos dela. — Eu vou ensiná-la a usar uma espada, mas você vai decidir quando usar. Mas não importa se virar uma samurai ou bandida, nunca esqueça a dor de uma lâmina.

Ei ainda encarava seu braço quando Tadayoshi limpou o sangue na espada e a embainhou. Ela abriu e fechou a mão devagar, sentindo a dor.

— Eu nunca vou me esquecer.

— Que bom.

Ele sorriu e num instante a seriedade desapareceu do rosto dele, e o Tadayoshi das últimas semanas estava de volta. Ele foi até a árvore onde estavam os pertences deles e quando voltou, ele entregou a espada pelo cabo para Ei.

Demorou um momento para a menina aceitar a arma. Ela olhou com desconfiança entre a espada e o homem.

— Isso é sério?

— É claro — Tadayoshi inclinou a cabeça. — Quando eu brinquei com seu treinamento? — ele perguntou, seu rosto cheio de inocência, enquanto o dela avermelhava.

— Do começo! — Ela não conseguiu mais conter sua raiva e gritou toda a frustração que sentiu nas últimas semanas. — Desde que saímos da minha vila, eu fiquei carregando as coisas e fazendo exercícios! Fiquei calada e fiz o que você disse, mas agora, quando você finalmente falou que eu ia treinar com uma espada, não só você me corta, você me dá isso? — Ei balançou a arma no rosto dele. Ao invés de Asahi, em segurança na cintura dele, Tadayoshi tinha dado a ela a menor das espadas, a wakizashi. — Quero a katana de verdade!

Tadayoshi manteve o rosto sério, mas depois de um momento, ele levou uma mão a boca, tentando e falhando em segurar o riso. Quando não conseguia mais segurar, ele riu e no silêncio ao redor deles, sua voz assustou os pássaros nas árvores mais próximas. Isso só a deixou com mais raiva.

— Qual é a graça?

Demorou um tempo até ele se acalmar o suficiente e responder.

— Só estava pensando que somos parecidos. Eu fiz quase a mesma coisa com meu mestre. — Ele limpou as lágrimas no canto dos olhos. — Tudo bem. Diferente do velho, eu vou explicar a razão. Mas antes disso, poderia tentar não gritar desse jeito de novo? Os que me perseguem provavelmente já sabem que passei na sua vila e devem estar perto. Eles não precisam de mais ajuda.

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