— Treena, eu... hã... Não sei.

Precisei me sentar. A noticia me atingiu como um baque forte no estômago. Será que todas as pessoas resolveram ir para Londres e me deixar aqui? Estava com um sentimento de traição e... frustação comigo mesma por isso.

Deitei-me em minha cama, finalmente aliviada por estar sozinha no meu canto. Encarava a tela do celular, esperando alguma mensagem de Will, mas não tinha nada. Sentia-me uma adolescente apaixonada, sem ter conhecimento e nem experiência de nada na vida. Mas eu tinha. Lá no fundo, eu tinha. Sabia que ele foi embora sem nem me dar um último beijo porque quis. Mas por que ele teria feito isso? E por que também me deixou uma passagem para Londres sem me constatar disso?

Abaixei-me e coloquei minha mão dentro da bolsa, pegando o passaporte. Como ele sabia que eu nunca andei de avião? E como sabia todos os meus dados? E o pior, como conseguiu a foto da minha carteira de identidade? Quase fiquei com meu. Larguei o passaporte e peguei a passagem, percebendo uma data que eu não tinha visto antes. O voo era para daqui há uma semana.

O que ele quis dizer me deixando essa passagem? Quis me dar à chance de pensar em ir visita-lo, ou quis apenas ser educado? Não consegui entender. Pensei em mandar uma mensagem, mas até que ponto isso mostraria o quanto sou trouxa? Não posso me render. Se ele se foi assim, sem olhar para trás, eu não devo me redimir.

Virei-me para o lado, vendo um espeço, que agora parecia enorme, tomar conta da minha cama. O mesmo espaço que Will preenchera ontem. O mesmo espaço que foi nosso cumplice durante uma noite inteira.

Ah, William Traynor, o que você fez comigo?

Acordei com alguém abrindo a porta. Por que diabos nesta casa ninguém bate na minha porta antes de entrar? Abri os olhos com preguiça, vendo a luz do sol invadir o meu quarto minúsculo. Era Treena. Seus olhos arregalados pareciam culpados e me pediam desculpas silenciosas. Sentei-me na cama, prendendo meu cabelo em um coque no alto da cabeça.

Ela sentou-se no canto da cama e eu só notei que estava com uma das mãos nas costas quando, lentamente, ela levou a mão para frente do corpo, com um buque de rosas vermelhas misturadas com gardênias brancas.

Pisquei, acordando completamente.

— São lindas — murmurei com a voz rouca pela falta de uso. — Quem te deu?

— Não são para mim — disse, sorrindo, entregando-me o buquê.

Meu coração pulou. Meu Deus. Quem me deu isto? Faz pelo menos uns quatro anos que não ganho um destes, mesmo tendo um namorado. Notei um pequeno envelope entre as flores e o segurei entre os dedos. Estava sem coragem para abri-lo. A primeira pessoa que me veio à cabeça foi Will, mas logo meu inconsciente me repreendeu, e eu entendi o recado. Se eu significasse algo para ele, teria recebido pelo menos um abraço de adeus. Então meu coração congelou... E se fosse Patrick tentando pedir desculpas? Eu não ia suportar algum presente dele dentro da minha casa. Muito menos perto de mim.

— Já sabe de quem é? — Treena perguntou, fazendo-me voltar para a realidade.

Fiz que não com a cabeça. Respirei fundo e, com muito medo, abri um envelope, revelando uma caligrafia linda.

Me desculpe por não me despedir, Clark. Seria doloroso demais para mim.

Espero que essas flores a façam você me perdoar.

Com carinho, Will Traynor.

Treena só esperou eu terminar de ler e puxou o bilhete da minha mão. Fiquei perplexa, olhando para as flores, me perguntando se a intenção de Will era me fazer ficar com raiva, encantada ou simplesmente sem reação alguma. Milhões de sentimentos se espalharam por meu corpo. Estava com raiva por ele pensar que algumas flores iriam apagar a indelicadeza dele e, ao mesmo tempo, sentia-me encantada por saber que ele é sensível o suficiente para escolher um presente tão singelo.

Como eu era antes de você (Hot Version)Where stories live. Discover now