Argemiro e Vicentino não haviam ido a escola naquele dia, estavam na sala juntos a Joaquim e Arminda, o centro das atenções estava sentada no sofá da sala confusa e envolta num cobertor, tremia de frio Nanci.
Todos estavam assustados com a presença da garota, a não ser Joaquim, que se mostrava com semblante sério. "Ele parece saber sobre muitas coisas", pensou Argemiro.
- Mas Nanci, você não se lembra nada do que aconteceu ontem a noite? - Perguntou Vicentino.
- O que poderia ter acontecido ontem sem que eu pudesse saber?
- Então o que você se lembra?
- Me lembro de adormecer na janela do meu quarto enquanto eu admirava a lua, ela estava tão linda, noites de lua cheia me encantam! Mas quando acordei tive uma dor de cabeça insuportável.
- E como foi que você chegou aqui? - Dessa vez foi Argemiro quem perguntou.
- É muito estranho...
- O que é estranho?
- Eu não me lembro de como cheguei aqui, eu só sei que preciso da sua agulha, Gemiro.
Arminda, que estava de pé na porta, saiu para o seu quarto atrás da agulha virgem entregando a Argemiro que deu a ela, quando Nanci recebeu a agulha seus olhos brilharam de uma intensidade como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo.
- Uma última pergunta, Nanci. - Disse Joaquim com expressões sérias e pensativas. - Suponho que você tenha a idade dos garotos, doze anos.
- Sim, senhor.
- Me diga, quem mora com você? Como se chamam seus pais?
- Moro com toda minha família, exceto minha irmã mais velha que se mudou para fazer faculdade, meu pai morreu, mas meu padrasto se chama Olando, minha mãe se chama Mandara.
- Tudo bem. Gemiro e Vicentino, levem-na para casa.
- Sim senhor. - Disse os dois.
- Tome, Nanci. Vista uma blusa de Gemiro para não passar frio.
- Obrigada senhora.
- Ela não sabe que tipo de criatura se torna em noites de lua cheia. - Disse Joaquim a sua esposa após os três saírem pela porta.
A casa de Nanci ficava a duas horas da casa de Argemiro. Durante o caminho todo, Argemiro percebeu os olhares disfarçados de Nanci em Vicentino, via o quanto ela corava quando seu amigo falava e olhava para ela.
Os três chegando em frente ao portão da casa de Nanci, ela não se continha de frio, entregou a blusa para Argemiro e se despediu dando um beijo no rosto dos dois. Quando Nanci abriu o portão para entrar, Argemiro perguntou curioso.
- O que é aquele monte de coisas no seu quintal, Nanci?
- É o meu padrasto que faz os preparativos para o festival do boi bumba! Ele cuida do figurino e do boi, ele é profissional nessas coisas, mas duas das minhas irmãs o ajudam!
- Que legal! Nem me lembrava que as festas já estavam chegando, daqui a pouco o povo começam a se movimentar, até mais Nanci!
- Até!
Assim como havia dito, com o passar dos dias o povo começou o movimento para os grandes dias de festas. Primeiro viria as atividades festeiras da escola, depois as quermesses da igreja. E logo depois a grande festa, o grande espetáculo do boi bumba. Na escola, Argemiro ouvia atentamente sua professora de arte falar:
- O Boi Bumbá é uma manifestação folclórica encontrada em quase todos os municípios paraenses. As apresentações são feitas ainda em sua formação original. É provável que a trama venha das histórias nascidas com o ciclo do gado, nos séculos XVII e XVIII, quando a vida girava em torno do boi e de sua criação. Conta-se que na Belém da segunda metade do século XIX, o Boi Bumbá reunia negros escravos em um folguedo que misturava, ao ritmo forte, a representação de um motivo surpreendente para a época: a luta de classes dentro da sociedade colonial. O boi acabou se tornando uma das manifestações mais autênticas da cultura paraense... **
Argemiro soube que seu pai e sua mãe iriam representar o Pajé e a dona Catirina. Argemiro voltou na casa de Dionísio que por indicação lhe emprestou um pequeno livro chamado "Espetáculos populares do Nordeste" de Hermilo Borba Filho, onde continham peças como o
Bumba meu boi e o mamulengo por exemplo.Nota do autor:
** Texto do Google.
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Folclore Em Atividade - Livro 1
Short StoryO Ladrão da chuva é o primeiro conto da série Folclore em Atividade escrito por Diego Oliveira. Conta a estória de Argemiro, um jovem adolescente que mora numa fazenda com os pais em Pará, que com o passar dos anos percebe que as histórias que seu p...