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   Eu tomei a dianteira da situação.

— Charles, por favor, me escute — eu estava esperando aquela situação, agora só precisava contar o que Kate havia me dito — não é hora para brigar.

— também acho gatinha — Charles cruzou os braços — então... Você vai se render?

— render? — rosnou Ciel — você só pode estar brincando.

— Ciel! — o repreendi, não era o momento para seus ataques de pelanca — por favor Charles, você precisa me escutar. A colônia está em perigo.

Charles pareceu um pouco surpreso, mas não demonstrou mais que isso.

— você acha mesmo que eu vou cair nessa? — entendi... Sua surpresa era porque ele achava que eu tentava engana-lo — aquela sua artimanhazinha de tentar nos mandar para o lado errado também não deu certo... Foi um pouco obvio na verdade.

A meu lado Eliot parecia ter sido afetado pela provocação, eu segurei seu braço para ter certeza que ele não faria nenhuma besteira.

— Charles! Escute! — eu gritei, eu sei que gritar para uma pessoa te escutar e que eu precisava manter a calma e não ser infantil daquele jeito, mas a forma casual e relaxada de Charles começava a me irritar — há magos regulares pela cidade. Eles descobriram a colônia e vai realizar uma missão de extermínio essa noite! Por favor! Você precisa acreditar em mim!

— e você sabe disso porque? ... — ele perguntou meio desconfiado, mas eu não tinha o luxo de poder ficar perdendo tempo e nem ser sarcástica. Eu tinha que fazer ele acreditar em mim.

— eu mandei Eliot e Ciel retirar o dinheiro longe e, enquanto eles estavam fora — eu engoli em seco, sabia que uma bronca me esperava mais tarde por omissão desses fatos — eu encontrei minha amiga Kate. Ela era das magas regulares que estavam me observando e disse que haviam descoberto a colônia e que havia um extermínio... — minha garganta doía... Mas não era por simplesmente estar seca — ela me disse para correr para o mais longe possível — acrescentei com a voz sumindo.

— não sabia que você tinha amigos tão interessantes gatinha — Charles riu, mas eu ainda não sabia se ele tinha acreditado em mim ou não — então... Se, hipoteticamente, essa sua história for verdade... Você vai vir conosco calmamente?

Abri a boca para responder, mas nenhum som saiu. Voltar? É claro que eu iria voltar! Meus amigos estavam em perigo!

— claro que não! — Ciel gritou raivoso — se ela voltar vocês vão simplesmente a usar naquela missão suicida de novo! Mesmo com anos de treinamento ela não estaria preparada! Olhe o que você fez com ela! — ele cuspiu as palavras para Charles, que não parecia nem um pouco abalado — nosso recado está dado! Agora volte pra a sua colônia e nos deixe ir embora. Se bem que não iriamos reclamar se recebêssemos uma recompensa pela informação importante — acrescentou ele sarcástico.

Olhei para meus companheiros. Ciel e Eliot estavam prontos para uma luta, Ciel em sua forma quase loba e Eliot parecia ter aumentado de tamanho, seus olhos eram vermelhos e ele parecia sorrir.

Eu estava sem palavras, Ciel estava certo e agora eu vacilava. Afinal eu havia fugido por isso não é? E agora eu ia simplesmente voltar? Era maluquice.

— e então? — Charles começava a parecer impaciente — vamos voltar?

— eu... Eu recuso! — eu disse vacilante, tudo o que eu precisava fazer era falar do ataque, se ele acreditasse poderia salvar a todos, eu não precisava voltar — Ciel está certo, mas o ataque é verdade! Você precisa voltar e avisar a todos!

— sei... — disse Charles, agora ele parecia diferente do comum. Ele parecia sério — então parece que teremos que leva-los a força.

Com essas palavras os outros que vieram com Charles nos atacaram.

Ciel assumiu sua forma completa de lobo, sendo atacado por dois homens, Eliot enfrentava os restantes.

Eu fiquei no meio. Petrificada.

Não conseguia tirar meus olhos de Charles. Nós estávamos ferrados. Não tinha como vencê-lo.

Ele estava se transformando, e agora os quatro bastões em suas costas faziam sentido. Ele parecia sentir dor e fazia barulhos de ossos quebrando e grunhidos, seu peito se alongava e ele crescia, assisti atônita enquanto um segundo par de braços aparecia abaixo do primeiro, como se seu peito se duplicasse e criassem um segundo par de ombros. Charles já era absurdamente forte como homem normal e só com um par de braços, imaginando-o com dois eu só poderia chegar uma conclusão: morte.

Mas naquele momento eu era a única que poderia parar aquilo e salvar todos. Droga! Porque tudo sempre sobrava para mim?

Eu avancei em direção a ele. Precisava faze-lo enxergar a razão.

— você sabe que essa não é uma boa ideia, não é? — Charles me observou enquanto girava os bastões recém tirados das costas.

— Charles você precisa me ouvir — eu disse meio desesperada, mas eu sabia que demoraria até ele me ouvir, eu precisava de um plano — o que eu disse é verdade, os outros então em perigo!

— se você vier conosco não temos motivos para essa briga, não é? Você pode simplesmente nos ajudar a detê-los — disse Charles perspicaz.

— eu... — eu ia dar alguma resposta, mas Charles avançou.

Não se pode dar respostas inteligentes quando se está preocupada demais evitando que um bastão de metal acertasse sua cabeça. Charles avançou numa velocidade alucinante e, se não fossem os instintos que ele mesmo despertou em mim, teria me acertado, mas por milímetros não conseguiu me acertar.

O único problema era: eu aprendi a me defender de pessoas com dois braços. Não quatro, logo o outro bastão acertou minha perna e me fez cair no chão de pedra dolorosamente, não que eu já estivesse recuperada da surra anterior, o que fez o impacto ser maior ainda.

Ele pegou meus pulsos com seus braços superiores e me ergueu facilmente, aparentemente tentando me imobilizar e aparentemente queria segurar meus tornozelos com os outros, me debati e chutei seu ombro, mas de nada adiantou, apenas para ajudá-lo a me pegar mais facilmente, porem meu outro chute foi mais efetivo, me concentrei e coloquei toda a força que pude naquele chute, incluindo magica e o acertei no flanco.

Mais uma vez cai, tentei correr para longe, mas suas mãos tinham soltado somente meu pulsos, então não pude ir muito longe e logo fui erguida de ponta cabeça. Provavelmente Charles teria me acertado e me deixado inconsciente naquele momento se um gigantesco lobo não o tivesse pego pelas costas e o mordido profundamente.

Fui jogada para longe e assisti enquanto Charles sangrava e Ciel se preparava para o próximo ataque, então ele pulou, se encontrando com Charles no meio do pulo, rasgando sua camisa e pele com as garras, enquanto sua boca era segurada por um par de mãos, porem Charles encontrou um de seus bastões que tinham caído perto e acertou Ciel no que devia ser seu ombro, ele se afastou grunhindo e mancando.

Eu tive um surto de adrenalina e me joguei sobre Charles, impressionantemente conseguido imobiliza-lo, segurando seus pulso com as mãos e pressionando meus joelhos em seus músculos do braço, o que era doloroso, pelo menos para ele.

— me escute! — eu gritei em seu rosto — eles estão em perigo! Nós precisamos ajudar os outros na colônia ou...

Eu não tive como terminar minha frase, pois nesse momento um grande estouro apareceu na montanha onde deveria estar a colônia. Arregalei meus olhos e observei, sem ar, enquanto fagulhas vermelhas em formato de um grande domo se desfaziam e logo outro, esverdeado era erguido no lugar, esperava que ninguém tivesse visto aquilo. Seria difícil explicar o que tinha acontecido.

Embaixo de mim, Charles arregalou os olhos e ficou boquiaberto.

— a barreira... — ele parecia aterrorizado.

— acredita em mim agora? — eu o soltei, agora não tinha mais jeito. Eu precisava ir salvar os meus amigos.


תg

Guerras dos Magos Mestiços I - PassadoWhere stories live. Discover now