Prólogo

558 53 4
                                    

Eu já andava há horas.

Tinha sido dispensada mais cedo das aulas pela manhã por estar doente, mas não conseguia ir para casa. Já começava a escurecer e eu caminhava vagarosamente por uma parte deserta da cidade e somente o barulho de alguns animais de rua me lembrava que eu não estava sozinha.

Me sentia febril, minhas costas estavam molhadas de suor e minha cabeça latejava e rodava enquanto meus olhos pareciam quentes e eu piscava constantemente tentando evitar a sensação que eles pulariam do meu rosto. Alguma coisa me atraia a aquele lugar, meus pés pareciam saber onde ir e me arrastavam aquele lugar desconhecido contra a minha vontade, mesmo que eu devesse ir para um hospital.

Um arrepio correu pela minha espinha quando ouvi aquele rosnado, um som como os cães fazem em filmes de terror ou quando aparecem no Animal Planet quando mostram um predador pronto para atacar.

A primeira coisa que pensei foi "droga! Vou virar comida de vira-lata".

E a segunda foi "ah! Ótimo! Não vou virar ração... Eu estou alucinando..."

Quando me virei para tentar enxotar o animal rosnante com um ponta pé, eu tive certeza que teria de ir a um hospital porque devia ter alguma coisa errada com a minha cabeça, porque a vários metros de distância, estava uma raposa gigantesca rosnando para mim. A pelagem cor de cobre reluzia com a pouca luz do sol que ainda sobrava e ela me olhava com olhos negros enquanto expunha os dentes brancos para mais um rosnado gutural.

Eu simplesmente corri para o outro lado.

Mesmo que fosse apenas uma alucinação causada pela febre, mesmo que eu parasse e nada fosse me acontecer eu não podia evitar o terror que se apoderou de mim quando vi aquela criatura, eu que não seria a louca de ficar parada se houvesse alguma possibilidade de aquilo existir de verdade e estar faminto.

Como se fosse dado o sinal de largada a monstruosidade em forma de raposa partiu atrás de mim com a mesma rapidez que eu também comecei, eu podia escutar seus granidos e o barulho de suas garras arranhando o asfalto a cada passo. Corri com todo o meu folego, o que não era muito, e avancei o mais rápido que pude pela calçada desnivelada e quebrada.

Como uma garota sedentária e meio delirante pode correr mais rápido que um animal de quatro patas, selvagem e em plena forma?

...Não faço ideia.

Provavelmente é porque os poucos metros que corri para mim pareceram uma maratona, mas a verdade e que quando olhei para trás, a besta já estava quase mordendo meus calcanhares.

Meu momento de distração me salvou.

Tropecei e cai de barriga no chão fazendo eu ter vontade de vomitar e nesse momento o animal passou voando sobre mim esbarrando no meu ombro com uma das patas antes de rolar na rua na minha frente. Ele parecia ileso, mas eu não, acabei com o tornozelo torcido e os joelhos e mãos ralados, minha cabeça agora parecia desanuviada.

Não esperei para ver se aquela raposa ia ou não continuar sua perseguição.

A dor era real. Meu pânico era real. Não me importava se aquilo era real ou não eu só queria sair dali.

Levantei o mais depressa e desengonçadamente possível e corri para a primeira loja que apareceu em minha frente, entrei o mais rápido possível e fechei a porta estrondosamente que o vidro da porta quase quebrou e havia uma trava do lado de dentro, a qual fechei mesmo sabendo que não adiantaria de nada contra a força daquela criatura, mesmo assim, numa vã esperança empurrei um móvel de madeira que estava perto para escorar e recuei.

Olhei a minha volta, a loja estava vazia.

Porque diabos não tinha ninguém ali para chamar a polícia? Ou o controle de animais? Quem deixava uma loja sozinha? Se eu roubasse algo iam descobrir?

Guerras dos Magos Mestiços I - PassadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora