4- SEJA MINHA GASOLINA

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    Eu tentei. Tentei muito encontrar uma roupa digna para a festa, mas agora me olhando no espelho do quarto... quarto não! É um insulto chamar essa cabine verde marciana de quarto. Até uma cela de presídio é maior e mais confortável do que isso aqui.

No entanto, foi nesse cubículo mal iluminado e com cheiro de mofo que descobri três coisas.

Primeiro, eu não tenho roupas novas.

Segundo, eu não tenho uma roupa que preste.

Terceiro e mais importante, eu simplesmente não tenho roupas!

Ajoelhei colocando as mãos em sinal de oração.

— Oh Deus! Não deixa eu mentir mais não. Quando eu for fazer essa besteira, me lembre que não tenho dinheiro, nem roupa para isso... se não me impedir, pelo menos invento uma mentira barata.

Minha mãe tem razão, realmente eu não saio muito e minhas roupas estão a ponto de se decompor em meu corpo. Algumas já tem mais de 10 anos! Ao menos podem entrar no Guinness Book como a roupa mais velha da história. Deve dar algum dinheiro isso.

O pior é que até ontem eu estava feliz com minhas roupas. São ótimas para uma empregada doméstica cheias de boletos atrasados, sem amigos ou namorado que passa o dia inteiro de uniforme ou pijama, mas para uma chefe de cozinha renomada que se recusou a participar do Master Chef? Definitivamente não.

Joguei-me em cima das roupas na cama. A culpa é toda do Max. Ele que começou se gabando por ser bem-sucedido lindo e gostoso, oprimindo os já tão humilhados, me obrigando a mentir.

Estou ferrada se essa mentira se espalhar ou pior, se ele resolve conhecer o restaurante? Aí meu Deus. Por que não inventei uma mentira sem custos, tipo minha altura ou peso?

— Merda, merda, merda, mil vezes merda — grito, me debatendo infantilmente na cama.

Eu posso comprar um vestido novo, mas minha consciência ficaria pior, pois além de mentir, ainda gastaria as economias da minha família, é demais para mim. Só que estou aqui para me divertir. Prometi a minha mãe que ia me divertir. E sair com o Max, um homem quente, cheiroso e com uma pegada que — Meu Deus, perdoe a minha imaginação sexy! — para a festa dos ex-alunos do colégio seria o máximo de diversão que teria, já que não tenho afinidade com mais ninguém nessa cidade!

Suspirei prendendo o cabelo em um coque. Eu tenho que ir. Eu preciso ir.

Peguei metade do dinheiro que seria para as despesas da semana e fui em várias lojas, bazar, brechó que encontrei até conseguir um vestido bom, bonito e barato em um tal "Bazar da Jeni" .

Eu não experimentei, mas era preto, liso, de manga longa e costa nua, deveria ficar na altura da minha coxa, parecia caro e chique. Perfeito! Eu já estava quase saindo do bazar quando uma senhora me chamou.

— Menina Belly? É você? — Demorei um pouco para reconhecer a senhora de cabelos grisalhos, mas bastou sorrir que lembrei de onde a conhecia.

— Dona Marcia. — Abracei minha antiga vizinha com carinho — Como vai?

— Apesar de velha e das pernas fracas, estou bem e você, menina? Como está sua mãe e seus irmãos?

— Estamos todos bem! — Sorri, alisando o cabelo curto dela.

Dona Márcia começou a perguntar sobre tudo que fizemos após sairmos dali. Respondi com carinho e paciência, mas quando deu 17h00, fiquei apreensiva, não poderia me atrasar para a festa e nem poderia ser grosseira com a senhora deixando ela falar sozinha, mas já estava ficando desesperada. Max me mataria se eu atrasasse muito.

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