PRÓLOGO ( FAMÍLIA )

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Sabe aquela velha história de que toda mãe é casamenteira ou que todas sonham em ver suas filhas de véu e grinalda? E por mais que digam que não, a verdade é que — sim — todas as mães querem seus filhos casados e cheios de netos para elas engordarem.

A senhora Amélia — minha querida mãe — é dessas que leva muito a sério o título de casamenteira. O sonho da vida dela é casar as filhas. Isso mesmo, só as filhas, já que o meu único irmão não sofre a mesma pressão. Ela diz que a única mulher boa o bastante para o Adônis lhe deu à luz.

Que besteira! Mas nós, as filhas mortais de Hades, temos obrigação de casar e enchê-la de netos. Graças ao bom Deus e para o bem da minha sanidade mental, somos apenas três meninas. Eu, Belly, baixa, com um quadril enorme, peitos inexistentes, cabelos naturalmente castanhos, com mechas vermelhas e olhos de âmbar tão naturais quanto meu cabelo, trabalho como faxineira há dois anos, mas me formei — inutilmente — em gastronomia. Sou a mais velha, ou seja, tenho uma placa colada na testa com letras garrafais e luzes de néon escrita em caixa alta "mãe em desespero para casar a filha. Fuja!". Sim, de acordo com o nosso século, o XVIII — é claro — eu, com 27 anos, sou uma solteirona mais encalhada que água em bueiro entupido e mais na seca que mula empacada em pleno verão no nordeste.

Uma vez que nem peguete tenho, devo estar pior que uma solteirona, já até estou escolhendo as melhores rações para gatos e as raças mais dóceis. Afinal, serão minhas únicas companhias no futuro.

Não vou mentir dizendo que nunca sonhei com casamento, marido e filhos, já sonhei e muito, mas hoje não tenho mais vontade ou disposição para essas besteiras de casamento. No entanto, finjo adorar e me divirto com toda essa maluquice de casar, ter filhos e blá, blá, blá. Não é fácil aguentar as loucuras da minha mãe. E quando eu digo loucuras, acreditem, é loucuras mesmo.

Voltando á minha árvore genealógica, logo em seguida na linha de "segura que lá vem a noiva", temos a Telly com 23 anos, fruto do segundo ou quarto — nem lembro mais a ordem — casamento da mamãe e gêmea do Ricky, alta, olhos pretos, cabelo loiro longo (tão natural quanto o meu) e um corpo escultural que eu idolatro. Nascemos na mesma família e ela ficou com as coisas boas tudo. Injusto, já que eu sou a primogênita. Tudo bem que somos de pais deferentes, mas por consolo, bem que o universo poderia ter me dado olhos azuis ou verdes, preto é bonito, mas olhos claros são olhos claros, né? Tentei ter olhos azuis, mas o universo achou um crime e tive uma puta alergia às lentes, choquem, quase fiquei cega.

Agora temos o "sombra e água fresca", aquele que não pode ser tocado: Ricky, nosso adônis, é o sonho de toda garota: lindo, alto, forte, estudioso, romântico, trabalhador, toca violão, cozinha... e acho que é por isso que ele tem mais amigas que pretendentes. A maioria acha que ele é gay. Já perguntei se ele é homossexual, mais de uma vez, porém, ele sempre nega e já até teve algumas peguetes... mas enfim, ele sabe que independente de sua escolha iremos acolhê-lo e amá-lo por sua essência.

Letty, a ovelha negra da família, está muito bem em sua zona neutra — jovem demais para casar. No alto de seus dezesseis anos e 1,55m de pura rebeldia, mau humor, chatice e futilidade, porém, na aparência é a mais parecida comigo: as duas juntas não dão um Smurf. Só que bem mais magra que eu, já que gosta de pousar como manequim oficial do pai, com quem mora desde os oito anos de idade. Ela detesta com verdadeiro horror essa história de casamento. Às vezes, acho que ela nos detesta também...

Bom, como podem ver pela apresentação da escola de samba, minha mãe gosta tanto de apelidos quanto de casamento. Ela não perde nem para o Fábio Junior em números de casa e descasa. Foi casada onze vezes. E só perde para Britney Spears em duração. Seu casamento mais duradouro foi de três anos e o mais curto quase uma semana e entre tapas e beijos, casou e descasou o dobro de vezes que realmente casou. Ok, ninguém entendeu. Simples, ela chegou a casar três vezes apenas com o meu pai. Sim, e não deu certo nenhuma vez e infelizmente, nunca daria. Persistência ela tem pelo menos.

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