1 - CONVITE

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Entro no meu quarto exausta após minha primeira faxina do dia e encontro um convite em cima da minha cama. Não está fechado, o que indica que minha mãe, papagaio, gato, cachorro, cabrito e toda a arca de Noé já leram antes da pessoa a quem foi endereçada. E posso apostar que ele é o motivo do sorriso enorme no rosto da mamãe quando entrei em casa. Nem preciso ler para saber que não vou gostar e nem concordar com o conteúdo.

Aliás, até meu subconsciente já está gritando "fuja! Ela está planejando seu casamento". E, por um breve momento, temi ser o convite do meu próprio casamento. Vocês não conhecem minha mãe, vai que ela resolveu me vender para um CEO masoquista e com um passado sombrio? Logo a imagem do Jamie Dornan sem camisa e com calças de cowboy, balançando um chicote na mão no melhor estilo Christian Grey invadiu minha mente e... Hummm... Pensando bem, até que não seria uma má ideia.

Desenrolo meu cabelo do coque e tiro a farda do inferno... ops, trabalho, ficando apenas com uma calcinha preta rendada — se fosse um casamento com o Grey, eu já estava até preparada. Sento na cama segurando o papel e conforme vou lendo, mais minha boca abre e posso jurar que meu queixo atingiu a camada mais profunda da Terra. Teria me impressionado menos se realmente fosse um convite do meu casamento com o Grey.

Era nada mais, nada menos que um convite para reencontrar a turma do colegial. DO COLE-INFERNAL! Eu odeio aquele colégio com todas as minhas dívidas. Que não são poucas. Pela única razão dos garotos babacas da minha sala, enviados das profundezas mais sujas das entranhas de Nazaré Tedesco, me zoarem o tempo todo, não era apenas para as nerds como nos outros colégios. Era para todos que não fossem do grupinho de futuros presidiários que eles faziam parte. E pior, alguns eram barra pesada mesmo, tive um período difícil graças a eles.

Eles conseguiram uma foto minha sem blusa, sem sutiã, sem peitos... ops, mostrando os seios e espalharam pelo colégio, até hoje não sei quem ou como conseguiram essa maldita foto. Eu nunca tirei. Nem sequer tinha uma câmera e até hoje não tenho. Fazer o quê? A pobreza aqui em casa é perpétua.

Porém, como eu sou muito boazinha e nada vingativa, esperei o acampamento de fim de ano. Enquanto eles mergulhavam e nadavam como gazelas saltitantes em uma apresentação de nado sincronizado nas olimpíadas, batizei suas bebidas com um remedinho e quando dormiram, joguei uma mistura de cola de sapateiro, superbonder e pó de mico nas partes íntimas dos quatro que eu sabia estavam envolvidos na "brincadeira". Na hora não pensei muito, foi engraçado, era só um susto e quando acordaram, o desespero deles me fez sentir como a Malévola... até eles passarem por cirurgia em estado crítico. Fiquei com muito medo, mas ninguém morreu, só dizem que perderam partes importantes de suas partes íntimas. Não tentem isso em casa.

Óbvio, fui expulsa do colégio, tive minha primeira queixa na delegacia e graças a Deus um ano depois desse ocorrido, mudei de cidade. Todos me chamavam de "capadora ".

Agora, anos depois, como se nada tivesse acontecido, tenho que encontrá-los em um reencontro mais hipócrita de festa de fim de ano?

Eu me recuso.

Nem sei por que mandaram essa porcaria de convite?

Como iria me negar a ir com minha mãe já sabendo dessa merda de reencontro? E pior, aposto que ela já fez até minhas malas. Droga!

Jogo-me na cama, fitando o teto, e um suspiro de puro desespero escapa dos meus lábios. O dia seria longo. Olho para a parede dos gostosos à minha frente, onde tem pôsteres de celebridades, todos gatos. Olho o Beckham e depois "os Chris", demoro um pouco mais do que deveria na boca do Brown e por último, o Justin Timberlake, pensando quando finalmente algum deles iria perceber que me amava e viria me resgatar dessa vida de Isaura.

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