Ninho de Cobra!

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                     Há um caminho que se apresenta através da luz e da sombra, um primeiro passo dado sob os dedos que encostando as letras espalhadas do teclado catam suas agulhas invisíveis e costuram lentamente um conto. Mas, subitamente, sinto algo estranho, uma subjetividade latente, um pulsar, tique taque nos fluídos sanguíneos, bem na epiderme e aliso as pontas desses mesmos dedos com algum resquício de poeira de grafite. A consciência comandando, ainda que confusa, deseja encontrar um padrão, uma ordem, porém, imediatamente uma resposta feito voz íntima da criação me avisa quase ao berros: _Não, deixa ser o que vier, não imponha regras, isso é arte, deixa ela falar por si e somente isso.

                 Percebo que tenho a necessidade de sair do teclado! Ahhh se eu pudesse derreter os significados em cada falange, e porque não !? Olhando para cima, lá no canto esquerdo da página, e leio ''saving...'', que literalmente é real. Falava de luz e sombra e entre uma e outra, a escrita está misturada em terceira e primeira pessoa e aí esta o surgimento da segunda. Os segundos são violentamente apegados, são segundos lugares a correr, são pequenos traços que alinhavam o conteúdo e o transformam em primeiras células, aparentemente inteiras, no entanto, cedem, se desmancham à um olhar mais nítido e apurado.  O conto começa a revelar-se além do papel, me conduzindo ou lhe conduzindo por um viés. Quiçá o chamado ''ninho de cobra'', um surrealista lugar que habita mesmo sendo um ser indeterminado, onde tudo é possível existir: o universo da criação.

             Olhando um site de marcas de tintas à base água eu encontro combinações possíveis inspiradas em temáticas folclóricas. Sou avisado de que elas são ainda que belas apenas uma representação das cores. Impossível novamente não ver a base filosófica que me alerta para uma visualização mais precisa do leque de cores que a natureza apresenta: são elas muito mais do que aquelas que se apresentam justamente por assim dizer que um rio e suas águas nunca são os mesmos e nem suas águas. Até sua localização geográfica muda gradualmente de acordo com as condições climáticas.

         Estou envolvido com alguns consertos nas paredes de meu quarto, além de repintar uma porta da sala que o antigo morador, um excelente inquilino, pintava com exagerada regularidade. Um trabalho danado que esta consumindo algumas horas da semana e me vejo cercado de lixas, pequenas latas de tintas.  Dizia sobre pequenos traços que alinhavam conteúdo e isto assemelha-se ao ato de raspar a tinta ou as tintas velhas, tanto das paredes quanto das portas que abrem e fecham as entradas e saídas, os caminhos de ir e vir,são os teclados que minhas mãos puxam por maçanetas de formatos simples ou rebuscados. 

            E transformando tudo o que já foi mudado um dia por outros agora sou eu que me transformo e mudo nas medusas dos meus textos onde pincelo cores que somente a imaginação é capaz de pintar!

GRAFITE CONTADO !Where stories live. Discover now