OITO ::: 28 de Março de 2009

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23h17

Jackie permaneceu imóvel, absorta em seus pensamentos, até o final da reunião.

Os sons entravam e saiam sem sequer formarem frases. Quando retornou à realidade a sala estava quase vazia. Apenas ela, Beth e mais duas mulheres novas ainda permaneciam ali. As outras três falavam animadas com largos sorrisos estampados nos rostos.

Elizabeth por vezes desviava a atenção das mulheres para olhar Jackie com um tipo de olhar incentivador, como se pedisse a Jackie para dar o primeiro passo e que tomasse a iniciativa. Como se dissesse que não queria pressioná-la nem forçar uma aproximação indesejada.

Jackie baixou o olhar e a cabeça e abanou-a em negação, pegou a bolsa em seguida e saiu daquela sala e daquele prédio antes que se arrependesse de tomar uma decisão precipitada. Ela não estava preparada pra enfrentar mais nada... só precisava de se convencer disso.

02h03

A cama parecia tão fria e tão desconfortável sempre que ficava sozinha.

Desde que fora resgatada, Jackie tinha sempre alguém para dormir do seu lado. As amigas solteiras e disponíveis, a mãe, o irmão Mike, os primos, a melhor amiga. Raramente ficava sozinha e quando ficava... permanecia desperta, encarando o teto, ouvindo atentamente todo e qualquer som que conseguisse captar.

Os ponteiros do relógio batendo, o assobiar do vento pelas frestas das janelas, os galhos das árvores balançando as folhas, os carros dirigindo ao longo da rua, os passos das pessoas que caminhavam pelas calçadas, as risadas dos vizinhos que davam uma festa, as birras das crianças que não queriam dormir, as discussões do casal que não conseguia mais se entender... era enlouquecedor, mas era algo automático, algo que Jackie não conseguia controlar.

O silêncio pra ela era como uma sentença de morte. Era o mesmo que recordar todo o sofrimento que passara naquele cativeiro. Porque naquele lugar, tudo o que conseguia captar era o silêncio. Nenhum som de gotejar, nenhum assobio do vento, nenhum som de pessoas, de bichos, de folhas.... Nada.

Era como estar no meio do infinito, no limiar da morte, sem saber o que era real e o que era imaginário.

O celular tocou a fazendo dar um pulo na cama. O coração disparou e a respiração descompassou. Olhou o número no ecrã e apertou os olhos tentando regular a respiração. Ergueu a tampa do aparelho e primiu o botão verde, atendendo a chamada.

— Alô? — Sua voz falhou quando tentou soar firme e ela precisou pigarrear.

Quem estaria ligando para ela a uma hora dessas? Outros se perguntariam, mas ela tinha uma pequena noção. A intuição de que quem estava ligando se intensificou quando ninguém respondeu. Apenas escutava a respiração urgente e sufocada, um pouco distante e abafada, de alguém. Soluços também, ela achava.

— Por favor, pare de ligar pra mim. — Suplicou com o coração apertado e a mão contra o peito.

Julgou escutar um "Desculpa" murmurado, seguido de uma respiração pesada. Sentia a hesitação dele em tornar audível os seus pensamentos e a vontade de manter uma conversa. Antes que ele começasse a dizer alguma coisa, ecoando a sua doce e rouca voz na linha, Jackie desligou a chamada, batendo com força o tampo do celular e o atirando sobre a cama com raiva.

Passou as mãos pelos cabelos e sentiu o rosto encharcar e o aperto no peito intensificar. Saudade, pena, ódio, tristeza... um turbilhão de confusos sentimentos sufocou no seu peito deixando-a levemente entorpecida.

Sentiu vontade de ligar para alguém, de pedir ajuda, de pedir colo, mas estava determinada a ser forte e a enfrentar sozinha os seus próprios demônios. 

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N/A: To sentindo falta dos meus leitores. Cadê vocês? Últimos dois capítulos quase não teve visus nem estrelinhas, bem triste :/
Mas mesmo assim, estou aqui de promessa cumprida e postando mais um capítulo.

Voltem minhas amadinhas! Essa leitora aqui precisa de vocês.
Até o próximo capítulo.

Stockholm [PT/BR]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora