Capítulo 1

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- Theo... Acorde...

Ele sentia que suas pálpebras estavam pesadas, o cansaço fazendo com que a tarefa se tornasse ainda mais difícil.

- Sou eu querido, acorde... – era uma voz feminina, conhecida.

Aos poucos seus olhos foram se abrindo e percebendo que não estava em seu quarto, muito menos deitado em sua cama. O lugar era um pequeno quarto com uma luz branca no teto, acompanhado de um cheiro enjoativo de desinfetante.

- Onde estou? – ele respondeu com a voz arrastada.

- Até que enfim você acordou! – Disse a mulher enquanto entrava em seu campo de visão – Você me deixou tão preocupada Theodore. – ela sorriu - Oh, que benção! – completou ela pondo as mão em modo de prece.

Ele apenas se compadeceu da preocupação dela. Era sempre assim, desde moleque. Quando se machucava brincando, ela aparecia desesperada com um curativo em mãos. Quando tirava notas ruins, ela o perturbava com sermões.

E quando adoecia, ela ficava exatamente como agora: sentada ao seu lado, esperando melhoras.

- Madre, o que aconteceu?

Theo tentou levantar, mas se viu preso ao braço quando sentiu algo repuxar. Era uma pequena mangueira transparente ligada em uma das pontas a um pacote de soro. Definitivamente estava em um hospital. Olhou para o seu corpo e viu a fina roupa verde característica.

Mas como ele havia parado ali?

Madre Ângela estava sentada em uma poltrona de couro falso, segurando firme a sua mão. O seu abito preto, imaculado como sempre, destacava ainda mais a sua posição: uma mulher que se entregou a Deus, com todo o seu amor incondicional.

Ele não saberia o que fazer se por algum acaso um dia a perdesse. Ou se em algum momento se separassem definitivamente. Ela era o seu pilar de sustentação, sempre haveria de ser, independentemente do quão afastado estava durante as últimas semanas.

- Me ligaram era mais ou menos duas da manhã, lá da sua faculdade, dizendo que você estava indo para o hospital. Fiquei em desespero quando soube. – a dor manchava o olhar da senhora – E quando eu cheguei aqui, pra minha surpresa, havia uma mulher ruiva... – a madre sorriu – Muito simpática ela, por sinal. Como era mesmo o nome...?

- Simone?

- Sim, esse mesmo. Ela havia me dito que estava indo com você ao estacionamento da escola, quando do nada ela te viu caindo no chão ao lado do carro. – Madre Ângela o fitou – Quando cheguei aqui você não se mexia Theo... Parecia que... – ela estremeceu.

- Está tudo bem. Estou bem melhor agora. – Ele olhou para o teto – Pelo menos agora estou...

Aquilo era estranho. Não se lembrava de nada, muito menos de ter ido trabalhar. Sempre tivera uma saúde boa, salvos alguns resfriados ou pequenas gripes.

- Sabe, eles tentaram de tudo para te acordar. Foi uma dor tão grande te ver nessa cama deitado durante esses três dias Theodore. Rezei esse tempo todo para que Deus não te levasse... Não antes que eu fosse...

Mas aquilo era muito tempo para ficar desacordado. Dormindo durante três dias? Ele deveria ter algo muito sério para chegar a esse ponto.

Já tinha problemas o suficiente por uma vida, não precisava de ainda mais...

- Não pense essas coisas. Tudo está bem. Eu estou bem.

- Amém. – a madre respondeu fazendo o sinal da cruz.

Uma batida suave os interrompeu, e um homem vestindo um jaleco branco e portando uma prancheta apareceu na soleira da porta. Ao ver que foi notado foi entrando aos poucos, só parando ao se aproximar dos dois.

As Sombras da AlmaWhere stories live. Discover now