─ Mas e a Bea? Ela não vai gostar de saber que está andando de mãos dadas comigo, vai?

─ Ah, é. A Bea não se importa, temos um relacionamento aberto, e ainda que não fosse assim, não vejo que mal há em passear de mãos dadas com você. Somos amigos não somos? Agora segure a minha mão, pelo amor de Deus, antes que eu comece a ter cãibras ou que alguém apareça para rir de mim.

─ Tem certeza que ela não se importa? Eu me importaria se visse meu namorado andando de mãos dadas com outra garota.

─ Nós não estamos namorando, apenas nos conhecendo melhor.

─ Em outras palavras, está se aproveitando dela. ─ brinquei.

O Jason e a Bea têm um desses relacionamentos ioiô, estão sempre indo e vindo. Ele começou a sair com ela por causa de uma aposta, mas a coisa se arrastou para além disso. E muito.

─ Digamos que eu não estou me aproveitando dela mais do que ela de mim. Você vai segurar a minha mão ou não? Estou começando a ter cãibras.

Esticando o braço devagarinho, pousei minha mão na sua. A mão de Jason é enorme e quente e, de alguma forma, parece abrigar perfeitamente a minha. Ele segurou forte e me puxou do parapeito, cuidando para que eu não caísse, e foi quando levantei os olhos para espiar seu rosto moreno e sorridente.

Faz uns dias que ele se livrou dos cachos, o cabelo está bem baixo agora, e isso meio que evidencia seus traços bonitos. Seus olhos são enormes e brilhantes, parecem um pouco com os meus, apesar de mais agradáveis, como uma cascata de chocolate viva e pulsante com pequenas estalactites douradas no centro.

─ Para onde, mademoiselle? ─ prosseguiu num tom brincalhão.

Eu gosto disso no Jason, ele sempre me faz rir, não é o que ele diz propriamente, mas como ele diz.

─ Acho que você disse jardim.

─ Tem razão. ─ Enquanto percorríamos os corredores e o saguão, ele não soltou a minha mão nem uma única vez, nem mesmo quando a Bridget Marshall passou por nós com uma expressão de nojo grudada na face, e ela não foi a única.

Eu entendo a estranheza que isso causa em algumas pessoas, afinal ninguém esperaria ver o artilheiro do Madison F.C andando de mãos dadas com a filha do catador de cocô de cabrito, que é como boa parte da escola se refere a mim. Não que eu me importe muito com isso, tenho orgulho de ser quem sou e da minha família. No fim do dia, posso deitar a cabeça no travesseiro e repousar tranquila com a certeza de que meu pai é um bom homem. Quantos alunos do Madison podem dizer isso do próprio pai?

Chegamos ao jardim e ergui os olhos para o céu, a noite nos abraçou, apesar de não haver nenhuma estrela sobre nossas cabeças.

─ Elas vão aparecer. ─ Jason garantiu. ─ Temos um trato.

─ Que tipo de trato?

─ Desculpe, mas prefiro não falar sobre negócios, senhorita.

─ Como quiser.

Ele riu para mim, e de repente percebi que continuávamos de mãos dadas.

Jason e eu de mãos dadas no meio do jardim. Uma preguiçosa brisa soprou meus cabelos, empurrando uma parte sobre o rosto e vi nisso a oportunidade perfeita para soltar a sua mão. Mas seu aperto é firme, embora não agressivo. Respirei fundo, desistindo de desfazer o laço que nos unia momentaneamente e foquei num ponto adiante: a árvore onde Oli e eu estivemos discutindo casulos e metamorfoses.

Não sei até que ponto eu aprecio mudanças, mas definitivamente não gosto de ficar estagnada. Neste exato momento o mundo se move, se modifica, e eu mudo com ele, embora no fim continue a mesma. A mesma Viola Beene de cabelos vermelhos e olhos gigantes, a mesma Viola Beene que ama Skitlles, palavras e Rigel Stantford.

Viola e Rigel - Opostos 1Where stories live. Discover now