Capítulo Um

Mulai dari awal
                                    

- Foi tudo bem. O trabalho está uma correria, como sempre. Aquele projeto com o Consulado da Austrália, para o qual fiz a proposta, foi aprovado. Vamos começar amanhã com os preparativos.

- Que notícia boa! - diz meu pai.

Trabalho em uma empresa de consultoria especializada em casos de fraudes. Logo após o Ensino Médio, entrei para a faculdade de Direito e me formei em seis anos. Passei um ano fazendo um intercâmbio na Austrália, que, aliás, me ajudou na aprovação desse projeto. Em pouco tempo, comecei a trabalhar na filial de Curitiba da Johnson's & Brother's, uma das maiores consultorias em fraudes do mundo.

Durante a graduação em Direito, estagiei em várias empresas da área de fraude e, desde o início, o tema me encantou. Na firma em que trabalho, somos contratados para executar trabalhos investigativos em empresas e instituições onde há indícios ou suspeitas de atividades contrárias às normas da instituição, ou até mesmo às leis.

O curso de Direito me deu muita base nessa área, mas para aprofundar meus conhecimentos no campo corporativo, decidi emendar a faculdade de Economia.

E se há uma coisa que levo muito a sério é minha carreira. Meus pais me estimularam a me dedicar ao trabalho e a construir uma carreira sólida e bem-sucedida, como eles fizeram. Para eles, isso sempre foi o mais importante e não consigo pensar diferente.

Os dois têm uma concessionária de veículos em Curitiba, que compraram de um amigo que estava em maus lençóis. Eles se conheceram na faculdade de Administração, juntaram o dinheiro e depois de muito trabalho, conseguiram reerguer o negócio e o transformaram no que é hoje.

Porém, acho que essa é a única coisa que os mantém juntos. Há anos não vejo meus pais trocarem um carinho. O relacionamento deles é extremamente enraizado na rotina e o que existe entre os dois não é mais um casamento, mas uma transação de negócios. Suas conversas consistem em assuntos da empresa e filhos. Não poderia ter pedido pais melhores. Mas como casal, ainda lhes falta muito. Às vezes me pergunto se eles perceberam a que ponto o relacionamento deles chegou.

- E a faculdade? Como estão os estudos para as provas finais no meio dessa correria? - pergunta meu pai, sempre preocupado com os estudos. Sei que sua intenção é se certificar de que o equilíbrio entre as atividades na faculdade e no trabalho está mantido.

- Estou chegando à reta final, como você sabe. Acho que minhas notas nas primeiras provas me dão certa confiança. Se tudo correr bem, não terei de me preocupar muito - respondo, tranquilizando-o.

- Isso é muito bom, filha. Se precisar de algo, fale com a gente.

- Claro, pai, mas acho que está sob controle.

- E os planos para depois da faculdade? Você mencionou que estava pensando em atualizar o currículo para garimpar uma vaga mais competitiva...

Depois de anos na J&B, sou especialista na minha área, e sinto que meu potencial se desenvolverá mais em uma grande multinacional. Tenho um relacionamento bom com meus colegas e sempre me dei muito bem com meu chefe. Entretanto, acho que já tive experiências suficientes na J&B e gostaria de trabalhar em uma outra empresa reconhecida. Meu maior objetivo é conseguir uma função de liderança em uma instituição de grande porte.

- O plano continua. Aliás, vou para o quarto mexer nisso agora mesmo.

- Está bem, filha - diz minha mãe -, durma bem e nos vemos amanhã no café. Seu pai vai estar na caminhada dele, mas a mãe toma café contigo. O Pedro também estará conosco.

Pedro é meu irmão mais novo. Com 22 anos, após desistir de dois cursos universitários, ele está em sua terceira tentativa: Publicidade e Propaganda. É um molecão ainda, totalmente dependente dos meus pais. Muitas vezes parece que não é da família, porque não tem nada a ver com a gente. É extremamente impulsivo e trabalho é uma das últimas coisas que passa pela cabeça dele.

Amo meu irmão e, por ser diferente de mim, acabo me divertindo com o jeito espontâneo e livre dele. Na verdade, até acho bom que ele ainda seja dependente de meus pais, já que meus planos me levarão para longe de casa algum dia e é bom saber que eles não ficarão sozinhos. Tenho a impressão de que se nós dois saíssemos de casa, a vida deles seria de uma monotonia sem precedentes.

- Boa noite, gente.

- Boa noite, filha - respondem meus pais em uníssono.

Chego no meu quarto, abro o computador e começo a mexer no perfil do LinkedIn. Conforme vejo as vagas disponíveis no site, confirmo minhas suspeitas. São Paulo seria um destino inevitável para mim, pois é lá que estão as sedes das maiores corporações do país. Só que antes preciso de uma proposta bacana.

Fecho o computador e vou ao banheiro fazer a higiene pessoal. Visto o pijama e fico mexendo no Facebook do celular com o abajur aceso. Meus olhos começam a pesar um pouco com o sono chegando. Deixo o celular no criado-mudo e fico olhando para meu quarto.

Apesar dos meus 27 anos, dá para ver que uma adolescente morou aqui. Alguns quadros que pintei quando criança estão pendurados na parede. Mesmo sendo um monte de rabiscos horrendos, são o maior orgulho da minha mãe. Trabalhos manuais nunca foram meu forte.

As medalhas que conquistei jogando tênis e xadrez no colégio estão penduradas no cantinho da parede em cima da escrivaninha. E, na parede ao lado dos quadros, tem um mural com várias fotos, as quais narram praticamente minha vida até aqui: eu ainda bebê, engatinhando; quando criança, brincando de Barbie; adolescente, jogando tênis num campeonato estadual - eu realmente era muito boa e cheguei a competir no nacional juvenil; festas de 15 anos, minha e de minhas amigas; churrascos da faculdade; happy hours com amigos do trabalho, etc. Marina e meu irmão presentes em muitas delas. E, obviamente, nenhuma foto com namorado.

Desligo a luz e caio no sono rapidamente. Sonhocom jogos de tênis.

Vênus sobre a conchaTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang