- Ahhhhhh! – Gritaram, em conjunto, como adolescentes que nunca deixariam de ser na presença um do outro.

- Que falta senti de vocês! – Joss murmurou, daquele jeito emocionado que já era costumeiro, os braços longos enlaçando ambas as amigas – Que baboseira isso de nos encontrarmos só uma vez no mês! – Era uma das coisas que já esperavam ser dita por um deles em algum momento do fim de semana.

- Cadê Adam? – Kacey quis saber quando retornaram para os degraus da escadaria, que ficava em frente ao prédio principal da universidade.

- Ele me mandou uma mensagem, disse que ia passar no Asda antes de vir... – Joss comentou, e houve um minuto de silêncio em que elas apenas se observaram e sorriram.

- A vodca chegou! – Adam disparou, alto o suficiente para que elas ouvissem de onde estavam. Mais gritos. Mais abraços.

- Vamos precisar mesmo de muita vodca... – Kacey disparou, e sob olhares confusos e curiosos, fuçou em sua bolsa até encontrar o que procurava. Um panfleto, notaram – Há quanto tempo vocês não vão à uma festa universitária?


    Há dois anos, se lembraram em silêncio. Não achavam que algum dia poderiam esquecer.

    Janeiro de 2014. O frio mais rigoroso do qual, ainda hoje, conseguiam se recordar. Já estavam graduados. Kacey e Adam há um ano e meio, Olivia e Joss há sete meses. Dentre as festas tradicionais do campus, havia a de Ano Novo, que marcava o retorno de um recesso de duas semanas por conta dos feriados.

    Por volta da uma da manhã, aproximadamente cinco horas depois do começo da festa, os quatro abandonaram o campus e cambalearam pelas ruas cheias de neve. Quando acordaram, no dia seguinte, espalhados no chão de um hotel do centro, Olivia tinha uma tatuagem nova e a pior ressaca de sua vida.

"Boa festa, Olivia Harding.
Xxxxx"


    Era o que dizia a última mensagem de Henry.

    Haviam se encontrado, ele e Olivia, duas outras vezes depois do último domingo. Na terça-feira, para um café depois do expediente de Olivia. Na sexta-feira ele escapou mais cedo do bistrô e passou busca-la para um lanche – o que resultou em horas no estacionamento do McDonalds, entre beijos e muitos mililitros de Milk Shake.

Olivia respondeu a mensagem antes de conectar o celular no carregador, sobre a mesa de cabeceira. Reuniu-se com os amigos ao redor do balcão da cozinha para uma última dose de vodca. Joss e Kacey haviam convencido Gracie a ir para a festa. Os argumentos ainda eram os mesmos que usavam contra – ou a favor – Olivia em outra época. "Você não quer se graduar sem ir a essa festa!", garantiam, persuasivas.

Nunca falhava. Especialmente quando Adam começava a lhe dar detalhes de sua vida pós-universitária: sozinha num sofá para dois, tomando chá e assistindo filmes alternativos. Não parecia, de jeito nenhum, um futuro desconfortável para Olivia, mas Adam insistia: "essa mansidão pode esperar, Oli, por hora vamos encher a cara!".

E enchiam – na maioria das vezes, mais do que deveriam.

Divididos em dois táxis, foram conduzidos até o cruzamento entre a Waterloo Rd e a Oxley St. Muito antes de virarem a rua Lomas, onde ficava o condomínio com os dormitórios e acomodações vinculadas à universidade, já podiam ver a movimentação típica de uma noite de festa. Haviam pessoas por toda a parte, em pequenos aglomerados na calçada, encostadas em carros estacionados aqui e ali.

    O panfleto anunciava o local da festa como jardim do City Campus. A grande maioria das festas programadas por estudantes eram realizadas nos clubes do centro, já que havia uma política rígida de barulho e desordem no condomínio de acomodações. Também porque a maior parte dos dormitórios eram individuais e mal cabiam o locatário. Já haviam até frequentado uma festa ou outra que começava no quarto de algum estudante, e terminava pelos corredores do prédio. Geralmente, mesmo com o formulário de pedido oficial devidamente assinado, aquelas noites acabavam com a presença da polícia.

Segredos InabitáveisWhere stories live. Discover now