Capítulo 3

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— Frank é um chefe excelente. Jamais me colocaria para fora.

O vento bateu contra nós e me empurrou seu cheiro. Cheirava a algum perfume ou sabonete caro. Era um cheiro delicioso. Divino. Torci para que o vento soprasse outra vez.

— Você também trouxe seu currículo?

Pisquei.

Ele soava casual demais. Essa conversa parecia ser comum para ele. Mas eu queria que fosse mais do que isso. Queria que ele estivesse interessado.

— Ah, não. Eu trabalho o dia inteiro no The Buttered Bun.

Se bem que eu gostaria de trabalhar aqui também. E não seria porque atenderia diversos tipos de pessoa. Seria porque aquela pessoa estaria ali.

— Lá é um lugar muito bom. Adoramos o atendimento. Seria um prazer tê-la aqui também.

Seria um prazer tê-la aqui, a frase ressoou em minha mente com sua voz rouca e sexy. Hm... Também seria um prazer estar aqui todos os dias, Traynor.

Mas então percebi que ele falou "adoramos", se referindo a ele e a namorada. Enrubesci, e ele pareceu notar. Abaixei a cabeça, me sentindo culpada.

— Felizmente, estou muito feliz lá no café. Os clientes são maravilhosos.

Merda. Acho que soei um pouco grossa demais. Ele engoliu em seco e sorriu, sem falar nada. Esse era o momento de ir para casa. Mas continuei ali. E ele também. Alguns segundos de silêncio me deram a oportunidade de observá-lo com cuidado. Sua pele parecia ser macia, pois era lisinha. Desejei estar tão perto a ponto de ver seus poros. Os olhos, azuis acinzentados, me deixavam um tanto... Confortável demais. Apesar de ter uma sombra ao fundo que me desafiava e me intimidava. O que ele tinha?

— Preciso ir. Está ficando tarde.

Na verdade, eu precisava fugir dele para me controlar.

— Tudo bem. Deseje boa sorte a seu pai, Srta...

Suas sobrancelhas se ergueram, esperando por mim. Ele quer saber o meu nome?

— Clark. Louisa Clark.

— Isso, Clark. Deseje boa sorte a ele.

— Obrigada.

Virei-me de costas e comecei a caminhar. Sabia que estava desengonçada demais, então diminui o ritmo. Antes devagar do que sem jeito. Quando estava um pouco longe, ele gritou, não muito alto:

— Ah, gostei dos sapatos!

Olhando por cima do ombro, eu sorri, sem conseguir falar absolutamente nada. Gostaria de falar que eu gostei dele, mas seria inconveniente, pois está comprometido.

Continuei meu caminho sem saber se ele estava me olhando ou não, pois não me virei mais. A voz dele ainda soprava em meus ouvidos. Seu sotaque, embora parecesse ser comum daqui, tinha algo a mais que revelava que ele não era morador de Stotfold. Deveria ser de Nova York, ou, talvez, de Washiton? Não sei. Parecia ser de um lugar chique, mas não daqui. Além do mais, se fosse, eu já teria notado ele.

Tentei me concentrar em não parecer atordoada demais, mas não conseguia me enganar. Meu cérebro latejava. Estava muito fora de mim e eu não conseguia entender isso.



Às seis eu já estava em casa. Joguei minha bolsa no sofá e me joguei junto com ela. Mandei um beijo no ar para vovô, que estava na poltrona, e coloquei o dedo na bochecha para Thom me dar um beijo. Ele estava brincando distraidamente no chão.

Como eu era antes de você (Hot Version)Where stories live. Discover now