O rapaz que se aproximava agora estava perto o suficiente para eu acerta-lo e sem hesitar balancei o bastão em direção a sua cabeça.

Ele pareceu surpreso por um momento, mas conseguiu desviar facilmente de minha investida e antes que a pequena vantagem de elemento surpresa se desfizesse, tentei acerta-lo novamente no ombro, porem o invasor era rápido demais.

—Mas que droga você está fazendo, imbecil? — ele graniu, irritado e desviou de um terceiro golpe.

O xingamento me deixou furiosa e coloquei toda a minha raiva em um ataque visando sua cabeça novamente e em vez de desviar, dessa vez ele aparou o golpe com uma mão. Senti que tentava bater num bloco de concreto e ele segurava a arma tão forte que não consegui move-la um milímetro sequer e como se não bastasse essa demonstração de força ele fechou levemente a mãos e aparentemente sem esforço algum, afundou o metal como se fosse papelão, inutilizando a arma.

Tentei partir para outro ataque físico e acerta-lo no meio das pernas, mas ele previu meus movimentos, pois segurou meu joelho com a mão livre e me deu um olhar desaprovador de advertência.

Eu estava imobilizada. Ainda disputando o bastão inútil e agora em um pé só. Queria poder ter alguma habilidade ninja para poder chuta-lo com o pé livre, mas eu sabia que não ia dar certo e que eu provavelmente só ficaria mais indefesa.

— Dá para você se acalmar? — o homem rosnou, parecia frustrado e irritado — porque você está me atacando? É assim que você trata alguém que salvou a sua vida?

—Ladrão! — gritei e puxei o bastão com toda a força que dispunha — fora da minha casa! Ladrão! Alguém chame a polícia! – senti minha garganta arranhar e ficar rouca.

—Hãm? — ele se aproximou e eu involuntariamente recuei com a boca fechada e olhos arregalados — que tipo de piada e essa? Você me tirou daquela prisão e me colocou uma coleira! Você acha que eu queria isso? Pare com esses joguinhos só porque eu não tenho escolha de não participar.

— Do que você está falando? — eu realmente sem entender o que aquele estranho falava, como se tudo o que dissesse fosse em outro idioma — não estou fazendo joguinho nenhum! E que coleira? Você por acaso e masoquista? Seu... Seu ladrão exibicionista de cosplay!

— Cosplay? ... — ele suspirou exasperado.

Antes que eu pudesse reagir ele puxou o bastão para frente, me desequilibrando e então passou o braço entorno da minha cintura amparando minha queda e antes que eu pudesse protestar me jogou por cima de seu ombro, como um legitimo saco de batatas.

Gritei. Me debati. Chutei e soquei o mais forte possível, mas nada parecia surtir efeito.

Se pelo menos eu tivesse pernas um pouco mais compridas... Ia acertar em uns lugares tão bons...

— Você berra de mais — ele disse irritado enquanto andava — e tem uma voz aguda de mais, é irritante — ele disse carrancudo.

Chegamos à cozinha e ele me largou em uma cadeira em frente à mesa com a mesma gentileza com a qual me carregara e voltou a vasculhar a geladeira e os armários. Fiquei alerta, pronta para fugir, mesmo sabendo que seria meio impossível correr mais que ele.

— O que você está fazendo? — perguntei, já estava recomeçando a sentir um pouco das dores no corpo, minha adrenalina já começava a me deixar e eu estava quebrada.

— Comida — ele tirou uma frigideira e alguns ovos e começou a cozinhar, enquanto se movia a cauda preta que saia de suas costas ia de um lado para outro, acompanhando os movimentos que ele fazia — você mal consegue parar em pé — enrubesci, minha debilidade começava a me irritar profundamente e como se invocado meu estomago começava a roncar com o cheiro da comida — e meio obvio que você está com fome — ele apontou para a minha barriga com a colher de pau que segurava e deu um meio sorriso que resolvi interpretar como arrogante — fique quieta um instante, acho que nos dois precisamos entender o que está acontecendo, mas se você morrer pode ser um problema para mim.

Guerras dos Magos Mestiços I - PassadoWhere stories live. Discover now