— Volto daqui há alguns minutos com seus pedidos.

Entreguei o bloquinho com o pedido para Frank e fique sentada no banco alto, atrás do balcão de doces do café. Fiquei observando discretamente o casal. Eles sorriam alegremente. Perguntei-me o que estavam fazendo ali, pois não pareciam pessoas adeptas a Stotfold. Quero dizer, a sofisticação exalava por seus olhos. A mulher era bonita, e as roupas dela também. Estava muito bem vestida, o que a deixava ainda mais bonita — como se fosse possível. E o homem... Bom, ele também era bonito. Ela tinha sorte. Seu jeito formal me dizia que ele parecia ser bem renomado em alguma carreira. Advogado, talvez? Empresário? Contabilista? Ou...Ou modelo. Tinha beleza para andar em passarelas. Aliás, tinha muita beleza. Seus cabelos castanhos bagunçados o deixavam sensual. O rosto parecera ser desenhado passo a passo. Sim, definitivamente ele podia ser modelo.

Parei de tentar adivinhar a vida deles quando Frank entrou no meu campo de visão com uma bandeja nas mãos. Ele entregou os pratos, sorrindo timidamente, sem falar muita coisa. Ao contrário de mim, ele era calado por natureza.

Meu celular vibrou dentro do bolso da frente do meu avental. Peguei-o. Frank nunca se importava com isso. Era uma mensagem de Treena, minha irmã.

Louisa, prepara-se porque eu comprei vinho para esta noite.

Entre discretamente no seu quarto. Bjs.

Sorri com sua mensagem. Treena sempre aprontava escondido. Respondi a mensagem com um "estou sempre preparada" e tornei a guardar o celular. Minutos depois, o homem se aproximou do caixa. A loira estava parada na porta, pronta para ir embora. Peguei o papel do pedido que o homem me estendia e cobrei o valor correspondente. Porém, quando fui entregar o troco a ele, as moedas caíram e se espalharam pelo bancada.

— Oh, me desculpe.

Ouvi a risadinha baixa dele enquanto me ajudava a juntar as moedas. Quando fui entrega-las, nossas mãos se esbarravam suavemente. Se fosse em outra ocasião eu teria agido normalmente e talvez o toque teria passado despercebido. Mas, por algum motivo, eu ergui os olhos para ele que, por incrível que pareça, encontraram os meus. Pisquei, confusa. Seus olhos azuis acinzentados examinaram rapidamente meu rosto e depois de um sorriso educado ele se afastou. Se não foi impressão minha, seu olhar quase dizia "credo, que maluca". Por que eu me importei com nossas mãos se tocando? Deve ser porque eu o achei bonito. É, foi isso mesmo... Não foi? Estava me sentindo estranha enquanto observava aquele homem alto, de ombros compridos, se afastando num andar elegante. Notei a minha respiração ofegante. O que estava acontecendo comigo?

Cento e oitenta passos depois, cheguei em casa. Era seis e meia. Normalmente este numero se reduz a cento e cinquenta, mas hoje eu estava descansada. E por algum motivo olhos azuis que apareciam em minha mente me deixavam atordoada e me dificultavam para andar. Eram os olhos daquele homem, será? Qual era o nome dele mesmo? Ela havia falado ainda na mesa, de maneira casual, mas, por algum motivo, minha mente sempre bloqueava quando eu me esforçava para lembrar.

Entrei em casa, pendurando meu casaco de frio atrás da porta. O calor da calefação, que mamãe insiste em manter ligado, me fez suspirar um tanto aliviada. A televisão berrava alto na sala e vi papai e vovô sentados no sofá. Acenei para os dois e fui direto para a cozinha. Precisava beber alguma coisa. Qualquer coisa que me fizesse engolir junto aqueles olhos me encarando. Por que eu estava assim? Foram apenas dois segundos, no máximo, de troca de olhares. E eu fazia isso diariamente no The Buttered Bun.

— Oi, querida — mamãe disse em tom alegre, sorrindo quando me viu entrar na cozinha. Sentei-me numa das cadeiras da mesa redonda. — Está com fome? Estou fazendo lasanha. Quer um chá?

Como eu era antes de você (Hot Version)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora