25. Ela é nossa!

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Annelise Alencar Sampaio
Rio de Janeiro — Niterói

A história era bem mais séria do que eu pensava. E como se eu o conhecesse tão bem, diria que Tito trouxe o advogado porque não teria coragem de receber um não sobre a sua proposta.

— E então, Annelise. Tem alguma pergunta? — Sílvio, o advogado, perguntou.

— Só uma. É necessário o casamento? — pergunto mantendo meus olhar nele, pois sei que a cara do Tito não é uma das melhores.

— Não é necessário. Porém você está desempregada, mora longe dos pais, e o juiz não vai pensar na sua estabilidade, e sim na da Sofia. Thiago é pediatra do hospital onde trabalha desde que se formou e tem uma boa condição financeira; e não estou te desmerecendo, é que juntos vocês terão mais... Chances de ganhar a guarda permanente da Sofia.

— Entendi — assinto, e permaneço quieta.

— Sílvio, nós vamos conversar e quando estivermos com a decisão tomada te chamamos novamente, pode ser?! —  Tito diz de um tempo, se levantando do sofá.

— Anne, venha aqui — Júlia me grita, e eu me despeço de Sílvio antes de ir para o quarto de brinquedos de Sofia.

— Oi — digo, e ela me estende os dois testes.

Olho para a porta, e vejo Tito e Sílvio saindo.

— No banheiro, agora! Eu enrolo ele — ela diz, e eu fico nervosa, e nego com a cabeça — Vai sim. É só fazer xixi no palitinho, e esperar alguns minutos. Anda!

Ela me empurra, e eu entro no banheiro, fechando a porta a seguir.

Vamos lá Anne, não é um bicho de sete cabeças. Ou talvez seja.

Olho-me no espelho na tentativa de tomar coragem, e após tomar coragem respiro fundo e abro a embalagem.

— ♪ —

— Cadê Anne? — ouço Tito perguntar.

— No banheiro. Cadê Tomás? Foi levar a sem teto na nova casa dela? — Júlia retruca.

— Estou aqui, docinhoe. Sentiu minha falta? — ouço a voz de Tomás.

— Claro. Mas já passou, então adeus — ela diz, e ouço batidas na porta do banheiro.

— Não. Tio Tomás, vem brincar com a gente. Você vai ser o namorado da tia Júlia — Sofia diz.

— Anne? — Tito diz, bem próximo à porta.

— Vou adorar essa brincadeira — Tomás diz ao fundo, e Sofi ri.

— Tito ela está bem. Dê um tempinho à ela — Júlia diz, e eu suspiro.

— Vem ser o namorado da tia Júlia, papai. Ela fez careta quando disse que ia namorar o tio Tomás.

— Ah, vocês fez careta? — Tomás pergunta.

— De ânimo — ela diz e ele ri.

— Anne, está tudo bem? — Tito pergunta, e o silêncio permanece.

Eu estou grávida. Estou grávida do homem que amo no momento mais inapropriado do mundo.

Eu estou grávida por conta de um único deslize. Talvez dois. Droga, quão irresponsável eu fui.

Respiro fundo, me levanto do chão gélido, e subo a blusa para encarar minha barriga, que parece estar dá forma que costuma ser. Porém me sinto de uma maneira diferente ao toca-la.

Será que toda mulher quando descobre que está grávida faz isso? Sente isso.

— Anne, está tudo bem? Fala alguma coisa — ouço​ a voz de Tito novamente, e abro a porta lentamente.

Ele me encara com aqueles olhos azuis, e eu permaneço lhe encarando.

— O quê? O que foi que aconteceu? Está tudo bem? — ele pergunta e eu sorrio.

Pela primeira vez, depois de entrar nesse banheiro eu dei um sorriso sincero.

Eu estava feliz. Seria mãe. De novo. Só que dessa vez eu iria poder aproveitar cada segundo dá maternidade. E iria gerar meu filho. E ele teria os olhos maravilhosos do pai, o nariz perfeitinho, e os cabelos lindamente loiros. Ou talvez ela se pareceria exatamente comigo. O que é péssimo, porque eu odeio meu nariz.

— Tomás prepara o carro, ela vai desmaiar de novo — Tito diz, e eu acordo do transe.

— Não vou desmaiar — digo baixo e mansa.

— Não vai? O que houve então? Por que está chorando? — ele pergunta, e segura meu rosto.

Eu me afasto, abrindo mais a porta, e me encosto no mármore da pia, dando acesso para ele poder ver o teste sobre o mesmo.

Ele fica confuso, mas milissegundos depois, ele olha para a pia... Para o exato teste sobre ela.

— Anne... — ele diz e olha pra mim, e novamente para o teste, e sobe o olhar para mim — Você...? — ele se aproxima, e vê os dois tracinhos, e instantaneamente sorri — Você está grávida!

Assinto, e ele sorri abertamente.

— Mas...

— Eu não durmo com ninguém desde o colégio — tento explicar, mas sou interrompida por um "Porra" do Tomás.

— Tomás — Júlia lhe repreende e lhe dá um beliscão; enquanto Sofi nega com a cabeça como se ele tivesse matado uma pessoa na frente do mundo inteiro.

— Eu não tomo pílula desde então — continuo, chamando a atenção de Tito novamente — Com a faculdade, e a Sofia, eu realmente me privei disso. E... Você foi o único...

— Eu sei — ele diz sorrindo — Só não estou conseguindo acreditar.

Eu sorrio, e ele se aproxima e me beija.

— Eca — ouço Sofia dizer, e rio durante o beijo.

— Sofia — Júlia repreende, e ouço a porta do quarto se fechar.

Tito se afasta de mim, e parece um pouco mais sério do que segundos atrás.

— Anne, sobre casar... — ele começa, e eu coloco a minha mão sobre seus lábios.

— Eu quero me casar com você Tito. Quero muito, mas... Eu sou muito nova, e devido às circunstâncias... E agora o bebê... — digo e esqueço-me o que estava querendo dizer.

Terei que me acostumar com o fato de que serei mãe. Mãe do meu bebê. Do nosso...

— Podemos casar no papel, e depois que o bebê nascer celebrarmos com uma grande festa. E idade não quer dizer nada quando duas pessoas se amam, Anne — ele diz, e eu olho para seu peito, onde estou com a mão apoiada.

— Eu sei mas... E se não conseguirmos a guarda permanente da Sofia? — pergunto, olhando novamente para seus olhos.

— Iremos conseguir. Iremos e ponto. Não ligo se Caio tiver que vê-la uma vez por mês, ou a cada quinzena, o importante é que ela será nossa. Ela já é nossa — ele diz, e eu sorrio fraco.

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