16. De volta para o ninho.

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Annelise Alencar Sampaio
Rio de Janeiro, Niterói

Estávamos todos no avião, indo de volta para casa. Aquela semana havia sido tensa, e tudo o que eu mais precisava era da minha cama, da minha casa, da minha vida.

Júlia não trocou uma palavra com Tomás desde que soube da cena, na noite em que ele chegou de viagem. O mesmo também não se manifestou. E temo que esse clima fique assim durante um longo tempo. Ainda mais pelo fato da minha querida irmã estar indo para o Rio de Janeiro conosco.

Clara tinha deixado a faculdade de direito para cursar turismo no Rio de Janeiro. O que foi um choque para os meus pais. Eles discutiram durante horas, e eu só me intrometi para dizer que ela poderia ficar lá em casa enquanto não arranjasse um lugar para morar. O que será difícil, vendo que meus pais disseram que não moverão um dedo para que ela vá morar sozinha. O que tornou a discussão porque eles me ajudaram a ir morar sozinha no Rio, e com uma filha. E dessa vez eu tive que me intrometer.

Tito me ligou avisando que seu irmão tinha feito reserva em um restaurante que acabara de inaugurar. E mesmo com todos os argumentos de Tito dizendo que eu, provavelmente, gostarei de algo mais simples, ele não deu ouvido ao irmão. E eu concordei. Ele seria o meu chefe. E eu não poderia fazer essa desfeita.

— Por favor, coloquem o cinto. Iremos aterrissar — a aeromoça disse, e nós assentimos.

Coloco o cinto de Sofia, que estava elétrica para encontrar o tio Tito.

— Até que enfim o pesadelo terminou — Júlia diz colocando seu cinto, e olha para Clara deitada no ombro de Tomás, no banco ao lado.

Sorrio e coloco meu cinto.

— Mamãe, o tio Tito vai buscar a gente, pra ir pra casa? — Sofia pergunta pela milésima.

— Amor da minha vida, não faça a tia te estrangular — Júlia diz.

— Júlia — a repreendo, contendo um sorriso, e ela encosta a cabeça na poltrona e fecha os olhos — Sim, filha. Ele vai buscar a gente. Mas precisa se comportar, já estamos chegando — a respondo, e ela assente.

•••

Em poucos minutos estamos pegando nossas malas na esteira.

— Clara, cadê a Sofia? — pergunto procurando por ela, com uma pontinha de desespero.

— Estava aqui com Tomás — diz, procurando comigo.

— Ei, mamãe — ouço ela gritar, e quando me viro em sua direção vejo ela sentada na esteira, entre duas malas, com Tomás caminhando do seu lado, empurrando as pessoas.

— Porra, Tomás, você quer que sejamos presos — digo pegando Sofia, assim que ela chega até mim.

— Mamãe, você disse a palavra feia — Sofia diz com olhos arregalados e mão na boca.

— Eu, sei. Me desculpa — digo a colocando no chão.

— Que feio, mamãe — ele diz, e eu lhe dou um soco — Pare de ser chata, foi uma brincadeira. Me dê isso — diz pegando minha bolsa.

— Vamos, mamãe. O tio Tito está esperando a gente pra ir pra casa — Sofia diz, enquanto puxava Júlia.

Saímos para a sala de desembarque, e depois de procurar Tito no meio de tanta gente, encontro ele parado perto de uma pilastra, sorrindo para nós.

Sorrio, e abaixo do lado de Sofi.

— Olhe ele ali — digo apontando, e quando ela o acha, ele sorri e acena para ela — Vai lá.

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